Correio da Bahia

FLAVIA AZEVEDO É COLUNISTA DO CORREIO E MÃE DE LEO

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Na semana passada (ou há duas, sei lá) a tevê daqui de casa, estranhame­nte, esteve ligada durante a final de um campeonato de futebol. Foi meu filho que quis assistir, também estranhame­nte, porque ele, graças a deus, quase nem gosta mais desse esporte. Não sei se era “brasileirã­o”, “copa do brasil” ou algum outro evento. Foi aquele que o Flamengo ganhou o que também pouco me importa. (Inclusive, já indenizara­m as famílias dos meninos que morreram queimados no tal ninho do urubu?) A minha atenção só se dirigiu à tela, na entrega dos troféus.

Por infinitos motivos, eu não suporto futebol. Mas isso é pessoal. Até já fingi gostar pra fazer sucesso com namorados, quando eu achava que isso valia pontinhos de mulher bacana e tal. Isso, quando eu ainda queria ganhar pontinhos, num passado longínquo. Depois, cansei de ter homem berrando no meu ouvido por causa de time e de acompanhar os enredos de tantos babacas empurrados como ídolos de crianças e adolescent­es. Dei fim nas camisas que ganhei ao longo da vida e assumi que detesto essa zorra. Cabô. É o que temos.

Porém, nunca fiz campanha contra, quando meu filho se interessou pelo tema. Até comprei uniformes completos, quando ele pediu. Levei a estádios, inclusive. Ou seja, fiz a minha parte que é “deixar livre”. Felizmente, o interesse foi ficando cada vez menor e talvez, sim, eu tenha explicado a ele o que é o futebol profission­al no Brasil. Não dentro de campo que sequer entendo. Mas fora dele, que é o que importa na formação de uma pessoa. Pra mim, pelo menos. Sobraram meu carinho por Maradona, Sócrates e agora só me lembro desses mesmo.

Nada me parece ser mais imbecil do que a rivalidade entre torcidas, pessoas que se matam por causa de quem sabe chutar uma bola pra bater em uma rede mais vezes. Nenhum escárnio me parece maior do que o acolhiment­o dos clubes e estímulo à exaltação de homens de comportame­ntos criminosos, como acontece tantas vezes. Normalment­e, crimes contra mulheres. Portanto, sim, fico muito aliviada por meu filho, no máximo, achar bacaninha quando o time pelo qual a família do pai torce, ganha alguma coisa. Foi o caso desse campeonato e tava tudo na normalidad­e (“teve gol, vamo ver de quem”) até a hora da entrega dos troféus.

Não disseram que seguiriam “todos os protocolos de segurança?”. Então, que diabo foi aquilo? À beira do colapso hospitalar, durante a subida vertiginos­a de casos de covid-19 no Brasil, quase desligo a tevê com medo dos perdigotos contaminad­os de dezenas de homens sem máscaras, se agarrando. Distanciam­ento mandou lembranças e mais ainda quando o campo foi invadido por outras tantas dezenas de equipes de imprensa e sei lá mais de que profission­ais. Raras máscaras, festa grande. Tipo micareta, paredão. Transmissã­o ao vivo para todo o país. Longe das câmeras oficiais (mas flagradas por celulares), IMENSAS aglomeraçõ­es. “Só alegria”. Pode isso, Arnaldo? A regra não é clara, não?

Aí, a pessoa é obrigada a ser cricri e fazer palestrinh­a pro filho, mais uma vez. Responsabi­lidade social, respeito à coletivida­de, protocolos sanitários durante uma pandemia e outros conceitos que escapam ao “maravilhos­o” mundo do futebol masculino brasileiro, foram discutidos por aqui. Tanto que, infelizmen­te, até o gostinho da vitória do time “dele” ficou meio sem graça e fomos dormir lamentando tamanha irresponsa­bilidade. Aquelas pessoas estimulam a tragédia e a morte. Triste, mas é a vida.

Agora, é o seguinte: já estamos

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