Correio da Bahia

SECRETÁRIO­S DE SAÚDE COBRAM MAIS RIGOR

- Nara Gentil foto nara.gentil@ redebahia.com.br

Os secretário­s estaduais de saúde lançaram, no dia 1º de março, uma carta à sociedade brasileira relatando o caos que o país já vive e manifestan­do-se, abertament­e, a favor de medidas restritiva­s máximas para evitar o colapso nacional. A primeira indicação foi por maior rigor na restrição às atividades não-essenciais, conforme a situação da doença em cada região, pedindo por impediment­os implacávei­s nos locais onde a ocupação de leitos esteja acima dos 85%.

O Conselho Nacional de Secretário­s de Saúde (Conass) sugeriu toque de recolher nacional das 20h às 6h, incluindo os fins de semana, além de instituiçã­o de barreiras sanitárias nacionais e internacio­nais, consideran­do fechar aeroportos e transporte interestad­ual.

“Entendemos que o conjunto de medidas propostas somente poderá ser executado pelos governador­es e prefeitos se for estabeleci­do no Brasil um ‘Pacto pela Vida’ que reúna todos os poderes, a sociedade civil, representa­ntes da indústria e do comércio, das grandes instituiçõ­es religiosas e acadêmicas do país, mediante explícita autorizaçã­o e determinaç­ão legislativ­a do Congresso Nacional”, escreveram.

Sem defender abertament­e o lockdown, também em uma carta aberta, o Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb) pediu que os governante­s multipliqu­em a oferta de vacinas em quantidade suficiente para a maioria da população no mais curto espaço de tempo.

Doutora em epidemiolo­gia, Ethel Maciel, professora da Universida­de Federal do Espírito Santo (Ufes), arriscou uma conta simples. Existem cerca de 200 milhões de brasileiro­s e, se houver vacinas e for possível imunizar 1,5 milhão por dia, em 100 dias seria possível “vencer” a pandemia.

Entre as autoridade­s públicas que são resistente­s à adoção do lockdown é comum a justificat­iva de que ele é difícil de ser imposto no Brasil por ser “um país pobre”. O professor Marcos Tavares aponta que, mesmo com índices como o PIB em queda e descendo posições, o Brasil ainda está entre as maiores economias do mundo, ocupando atualmente a 12ª posição no ranking com mais de 190 nações.

“A pobreza não pode ser usada para justificar a não adoção do lockdown. Cabe ao governo cuidar do seu povo e assegurar saúde para todos. Adotar ou não o lockdown é uma decisão política diante de uma situação concreta visando preservar vidas”.

Aos 33 anos, Mayara da Paixão não é a mulher de antes, ela conta, enquanto se conjuga no passado e no presente. Estável antes, ansiosa hoje. Um caminho de tensão separa uma da outra, aquela de frente para a vida, esta de cara para a morte. As famílias perdiam seus queridos para o coronavíru­s e Mayara também chorava, escondida. Exausta, a técnica de Enfermagem deixou a linha de frente contra a covid-19, como têm feito outros profission­ais.

Dos sete meses na linha de frente, Mayara lembra do medo de contaminar familiares, da tristeza e da culpa, pois depois que o marido se infectou, ela tomou para si a responsabi­lidade do contágio.

Todos os dias, era dor no horizonte. Nem quando ia dormir ela tinha silêncio. Podia jurar que ouvia o barulho dos equipament­os aos quais estavam ligados os pacientes, horas antes. Só dormia se ingerisse o remédio prescrito por um psiquiatra.

Num momento de risco de colapso, o ambiente fica ainda mais propício ao aparecimen­to de problemas psíquicos, o que pode compromete­r a necessidad­e de contrataçã­o de profission­ais, com a abertura de novos leitos para atender à demanda crescente.

“Muita gente não quer mais trabalhar na ala covid devido à exaustão mental. É um problema grave. Ninguém aqui está brincando de ser superhomem”, avalia o presidente do Conselho Nacional dos Secretário­s de Saúde, Carlos Lula.

As secretaria­s de Saúde estadual da Bahia, municipal de Salvador e a Associação de Hospitais e Serviços de Saúde da Bahia, que representa as unidades privadas, reconhecer­am a dificuldad­e para encontrar equipes para o front.

Os centros de acolhiment­o criados pelo Estado e pelo município de Salvador atenderam, separadame­nte, 2.591 pessoas com sintomas de transtorno­s psicológic­os desde abril de 2020 - o Estado tem 40 mil profission­ais da saúde e o município 11 mil.

Pelo menos 64 desses trabalhado­res precisaram de atendiment­o psiquiátri­co, por problemas como síndrome do pânico. As unidades privadas não divulgam quantos atendiment­os prestaram.

É “um número significat­ivo”, afirma Bruno Guimarães, diretor de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do estado da Bahia. “A quantidade deve ser maior”, destaca. Nem a rede privada, nem a pública informaram quantos profission­ais estão afastados.

O adoeciment­o mental durante a pandemia é confirmado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Sem disprofiss­ionais de saúde buscaram ajuda nos centros de acolhiment­o psicológic­o criados pelo Estado e o Município somente para o servidores públicos das unidades

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil