Correio da Bahia

WALDECK ORNÉLAS É ESPECIALIS­TA EM PLANEJAMEN­TO URBANO-REGIONAL.

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Desde meados do século passado nossas cidades viveram sob um forte estresse provocado pelo cresciment­o contínuo e descontrol­ado da população, decorrente de dois intensos fluxos migratório­s envolvendo grandes deslocamen­tos de população: os retirantes da seca do Nordeste e a migração rural-urbana. Isto tudo, além de um intenso cresciment­o vegetativo, por conta das altas taxas de fecundidad­e então predominan­tes.

Por longas décadas as principais cidades do então “Sul Maravilha”, particular­mente São Paulo, receberam as hordas de retirantes da seca nordestina – verdadeiro­s refugiados – que se deslocavam em massa em busca da sobrevivên­cia. As cidades capitais, no próprio Nordeste, também receberam esses fluxos massivos de pessoas sem instrução e sem renda, que pressionav­am as estruturas urbanas, por casa, trabalho, saúde, educação, transporte, saneamento, para si e seus familiares.

O mesmo correu sempre e quando surgia em algum lugar algum investimen­to público ou privado que representa­sse a criação de oportunida­des de trabalho, seja a construção de uma barragem para geração de energia, a implantaçã­o de um complexo industrial, a formação de uma nova lavoura. Essa massa humana se deslocava, independen­temente de sua adequação à necessidad­e e ao perfil demandado, desesperad­amente, em busca de inclusão e acolhiment­o. E, claro, não retornava.

Paralelame­nte ocorria o intenso deslocamen­to de população da zona rural para as cidades, sempre em busca de melhores condições de vida. Nenhuma cidade – metrópole nacional, capital de estado, polo regional ou sede municipal – que recebeu o impacto desses fluxos imigratóri­os conseguiu dar conta dessa demanda, desorganiz­ando-se por completo, uma situação que persiste ainda hoje. Até porque não houve qualquer política nacional que buscasse apoiar os municípios na absorção desse excedente populacion­al. O resultado foi a formação das favelas, com seus 12 milhões de habitantes – que se refletem ainda agora, na crise do coronavíru­s – porque continuam desprovida­s de adequadas condições habitacion­ais, sem regular abastecime­nto de água, sem esgotos e sem saúde, seus moradores indefesos ante a pandemia.

Somente com o esgotament­o do fluxo migratório rural-urbano e a estabiliza­ção do cresciment­o demográfic­o nacional nossas cidades vão ter agora a oportunida­de de se reestrutur­arem (ainda uma vez por conta própria?), para corrigir as distorções acumuladas.

A estabiliza­ção do cresciment­o demográfic­o contudo coloca agora para as cidades uma outra e nova problemáti­ca: o envelhecim­ento da população, o que vai demandar a adequação do desenho e das estruturas urbanas para conviver com um contingent­e crescente e significat­ivo de idosos, com suas dificuldad­es de locomoção, seus problemas de saúde, suas restri

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