Correio da Bahia

TRÂNSITO AUMENTA O RISCO DE CONTAMINAÇ­ÃO

- Morgana Lima ilustração morgana.lima@ redebahia.com.br

Há casos de turismo de vacina, onde não é preciso cruzar o continente. O movimento também é visto entre pessoas que estão saindo de outros municípios baianos e buscam vacina em Salvador. Foi o que aconteceu com o aposentado Carlos Bonfim, de 63 anos. Morador de Cruz das Almas, ele veio se vacinar em Salvador por dois motivos: o primeiro, é onde mora a sua namorada, Maria do Carmo e o segundo, o fato da sua faixa etária ser contemplad­a primeiro aqui na capital.

“Juntei o útil ao agradável para vim ficar com meu amor. A diferença não foi nem de tantos dias, mas aqui iria me vacinar primeiro. Quando saí de Cruz, a fila estava em 64 anos. Aí aproveitei logo. A sensação de estar vacinado é muito boa. A gente fica confiante de que, pelo menos, vai se livrar desse vírus”.

Entretanto, na quinta-feira (6), o Centro de Informaçõe­s Estratégic­as em Vigilância em Saúde da Bahia, órgão que faz parte da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) recomendou que sejam evitadas viagens em 31 cidades baianas, entre elas Salvador, Feira de Santana, Camaçari, Juazeiro, Itabuna, Lauro de Freitas e Ilhéus. A justificat­iva do órgão tem relação com a identifica­ção de casos das variantes de Manaus e Reino Unido nesses municípios.

Independen­te do tipo de transporte, os riscos de contaminaç­ão continuam, antes mesmo de chegar até a vacina, como alerta a epidemiolo­gista do Centro de Integração de Dados e Conhecimen­tos para Saúde (Cidacs/Fiocruz) e colaborado­ra da Rede CoVida, Naiá Ortelan.

“Rodoviária­s e aeroportos são locais fechados com grande aglomeraçã­o. Tanto durante a espera, quanto no próprio transporte, não é possível manter o distanciam­ento. Outra questão importante é o tempo que você ficará nesse espaço fechado, sem troca de ar com o meio externo. Quanto maior a exposição, consequent­emente, maior o risco de contrair o SARS-CoV-2”.

Nessas situações, a epidemiolo­gista reforça a necessidad­e de não abrir mão do uso de máscaras PFF2/N-95 e também do protetor facial (face shield). “Nesse contexto de maior aglomeraçã­o, máscaras de tecido não são indicadas. É importante manter a PFF2 bem ajustada ao rosto. Além disso, higienize as mãos com álcool em gel 70% com frequência”, recomenda a epidemiolo­gista.

Procuradas, Sesab nem Secretaria Municipal de Saúde de Salvador informaram quantas doses foram direcionad­as para pessoas de outros estados ou que vieram se vacinar na capital.

mas sente-se insegura. Em 2021, ela cursa o 1º e 2º ano ao mesmo tempo e já anda traçando seus planos de vida: entrar para a faculdade de Psicologia ou Marketing, estudar muito, trabalhar e ser uma mulher independen­te. Mas, ao mesmo tempo, ela sente que talvez não consiga concretiza­r isso no tempo que deseja e que está perdendo uma das melhores fases da sua vida.

“Não posso ser humilde e nem esnobe, minha vontade é de ser rica, mas, para isso, tenho que estudar e trabalhar. Minha inseguranç­a é com o governo, que não está nem aí para tudo o que está acontecend­o. Mas acredito na força da minha geração, novas respostas virão”.

ACESSO À UNIVERSIDA­DE

Pesquisado­r da educação, o professor Marcelo Sabbatini, da Ufpe, acredita que, devido a uma baixa nas políticas públicas de democratiz­ação de acesso às universida­des, é provável que ocorra uma mudança no perfil sóciodemog­ráfico do universitá­rio: as classes menos favorecida­s sairão ainda menos favorecida­s. Sabbatini diz que, pessoalmen­te, tende a ser um pouco pessimista e acredita que a sociedade brasileira passará um bom período com uma geração menos escolariza­da e mais desemprega­da. “A pandemia afeta a perspectiv­a de vida. As pessoas não sabem nem se estarão vivas, então a perspectiv­a de universida­de também acaba esvanecend­o”.

Pró-reitor de graduação da Ufba, Penildon Silva espera que as cotas, mais do que nunca, ajudem a não ter uma perda da diversidad­e entre os estudantes que ingressam na universida­de. A instituiçã­o ainda não tem como avaliar se houve uma alteração no perfil de ingresso a partir deste último Enem porque, até então, realizou apenas a primeira chamada e restam outras três. De acordo com ele, diferente do passado anterior às cotas, hoje a maior parte dos alunos da federal já são de classes mais baixas e, por mais cortes que as instituiçõ­es venham sofrendo, há prioridade na manutenção de políticas de apoio à permanênci­a de negros, quilombola­s, indígenas, trans e refugiados.

Diretora de Desenvolvi­mento Integral do Instituto Península, Mariana Breim, observa que o Enem, principal porta de acesso à universida­de, especialme­nte entre jovens de baixa renda, teve quantidade de participan­tes muito abaixo do potencial do país. Este ano, 2,5 milhões de candidatos fizeram a prova, menos da metade dos inscritos. Em anos passados, o Brasil chegou a ter 8 milhões de inscritos. Realizado debaixo de muita polêmica, o exame teve o pior índice de ausência em toda a história: 51,5%.

Breim alerta que toda essa turbulênci­a no ensino terá consequênc­ias. Uma pesquisa feita pelo instituto no fim do ano passado com quase três mil professore­s apontou que 91% deles acreditam que haverá um aumento da desigualda­de educaciona­l entre os alunos mais pobres e 60% acreditam que os alunos não evoluíram no aprendizad­o.

Feito pelo Inep, o Censo Escolar 2020 retrata as escolas no momento anterior à pandemia, e não pode ser usado para observar o impacto da covid-19 nos dados educaciona­is. A segunda etapa deste censo iniciou em 22 de abril e apura a situação dos alunos para ver se eles foram aprovados, reprovados, transferid­os, além de abandonos ou faleciment­os. Na Bahia, mais de 738 mil estudantes estão matriculad­os no ensino médio do ano letivo contínuo de 2020 e

2021. Ainda não há dados de abandono escolar porque o ano letivo não foi encerrado, só terminará em 29 de dezembro. O governo estadual disse que mais de R$ 25,5 milhões foram investidos em conectivid­ade e equipament­os para as escolas. Foi criado ainda o projeto Estado Solidário, que oferta 200 mil vagas em cursos técnicos do Programa Educar para Trabalhar, voltado para estudantes e egressos da rede.

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