Haverá futuro? Pra onde os jovens vão?
Perspectiva de vida é afetada pela má gestão da pandemia e jovens ficam mais inseguros sobre seus futuros no Brasil
Apandemia bagunçou a dinâmica escolar e trouxe consequências nefastas para as perspectivas de vida dos jovens. Desânimo, falta de hábito de usar a internet para estudar, dificuldades financeiras, taxa de desemprego nas alturas, acesso precário a equipamentos e rede, um ano sem aulas e ainda um Enem com a maior taxa de abstenção da história. O quanto essa sequência de fatores pode determinar o futuro de alunos de escola pública? Qual será o impacto na entrada de pessoas de baixa renda nas universidades e no mercado de trabalho?
Para entender os prováveis efeitos deste conjunto de situações, o CORREIO foi atrás de estudantes, professores e pesquisadores para saber as angústias e esperanças em relação ao que está por vir e elencou, ainda, um combo deseis dicas valiosas com o caminho das pedras para se dar bem lá na frente.
Por mais habilidades que os jovens possam ter com plataformas virtuais, não tem sido simples virar a chave do ensino presencial para o remoto, iniciado em 15 de março na Bahia. É só lá pelas tantas da madrugada que Iago Alves, 19, encontra melhor concentração para estudar. Aluno do último ano do ensino médio do Centro Estadual de Educação Profissional Irmã Dulce (Ceep), em Simões Filho, ele observa que usar a internet para se dedicar às aulas é um hábito a ser construído.
O dia em casa é cheio de distrações, o WhatsApp lhe tira o foco, a internet na periferia onde mora não é boa e ele confessa que, devido à falta de uma rotina de estudo bem definida, às vezes, acaba caindo na cilada de procrastinar a entrega de atividades para correção. Membro do movimento estudantil secundarista, ele avalia que ter aulas online parecia uma ideia animadora na teoria porque aponta um futuro para a escola pública, mas, na prática, tem sido bastante difícil para quem é de família de baixa renda.
“Apesar desse cenário de incertezas, eu quero cursar a universidade e ser a quebra da estatística da minha comunidade porque o Mapa da Violência coloca a minha cidade como uma das piores do Brasil. Com diversos cortes nos últimos anos, a universidade tem se mostrado cada vez mais inacessível para nós e isso mexe muito comigo. Como a gente vai sobreviver a esse período? Se não tivermos opções de trabalho, todo mundo sabe que a alternativa que deixam para a gente é a marginalidade”, diz ele, que quer cursarVeterinária ou Direito.
No ano passado, três meses após a decretação de pandemia e quando ainda não se fazia tanta ideia do prolongamento dos problemas do país, uma pesquisa do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) revelou que 34% dos jovens se mostraram pessimistas em relação ao futuro, sendo que 66% dos que afirmaram isto eram negros. Os dados mostraram que 67% não estava conseguindo estudar para o Enem porque as aulas foram suspensas.
Sete em cada dez jovens afirmaram estar pessimistas em relação à economia brasileira após a pandemia. Ações de ciência e saúde foram o que deixaram a galera mais otimista em relação ao futuro do Brasil: 96% consideraram muito importante a descoberta da vacina. Dos participantes, 88% consideraram importante retomar os estudos e 77% poder voltar ao trabalho.
Estudante da rede estadual de Salvador, Cleide Oliveira, 16, acaba de ingressar no ensino médio e não se vê pessimista,
TRABALHO E CONSUMO
“Preocupado”. É assim que o economista Gustavo Casseb Pessoti, diretor de estatísticas da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia, se vê diante das tendências de mercado para os jovens brasileiros no futuro próximo. Ele diz que uma das observações dos pesquisadores da economia, antes mesmo da pandemia, era de um crescimento da chamada Geração Nem-Nem — nem estuda e nem trabalha. Em 2019, a porcentagem de jovens nesta condição na faixa etária de 18 a 29 anos chegou a cerca de 30% na Bahia, segundo o IBGE. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou que, na pandemia, mais de um terço dos jovens brasileiros, entre 20 e 29 anos, não estão trabalhando e nem estudando. É a taxa mais alta de toda a história, com 34% nesta situação. E, assim, a crise vai deixando de fora do mercado de trabalho parcela importante da população em idade ativa.
Pessoti aponta que, antes da chegada do coronavírus, a taxa de desemprego já não era tranquila no país, que vinha com índices acima dos 10% desde 2016. No fim de 2020, essa taxa bateu recorde histórico, fechando em quase 14%, contabilizando 13,9 milhões de desocupados e 5,8 milhões que desistiram de procurar trabalho, os chamados desalentados. Essas pessoas que perderam seus empregos já não vinham em busca de um novo posto de trabalho por acreditar que não teriam chances de se recolocar no mercado. A Bahia, aliás, foi o estado que registrou o pior índice do país, com quase 20% da população desempregada no ano de 2020.
O economista avalia que, em 2022, quando se espera que a situação nacional esteja mais estável, é provável que os desalentados voltem a buscar emprego porque estarão mais motivados pelo possível crescimento econômico. Ainda assim, ele antecipa que o Brasil deve levar, ao menos, uns dois anos com alta taxa de desemprego, já que os desalentados são vistos como inativos e não são contabilizados como desempregados. Só quem busca por emprego é que entra na conta e o movimento de retorno à busca pode inflar o índice. "Eu diria que se a recuperação da economia é algo esperado, infelizmente a diminuição da taxa de desemprego não”, analisa.
Pessoti diz que a pandemia acelerou a substituição do homem pela máquina e, apesar de a juventude ter maior facilidade com certos equipamentos e internet, que já são muito demandados pela indústria 4.0 — mais automatizada —, a mera habilidade com o uso de redes sociais não será suficiente para essa nova realidade. Ele recorda o caso da fá
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