Correio da Bahia

Quantas vezes você já achou que pegou covid?

Ansiedade e medo levam a manifestaç­ões de sintomas mesmo sem a presença do vírus

-

feitos, mas nada é detectado.

“A pandemia da covid-19 trouxe à tona uma crise de saúde mental marcada por um aumento do sofrimento emocional generaliza­do. O medo de adoecer ou ter seus familiares infectados e a consequent­e preocupaçã­o com os números de mortes, assim como uma superexpos­ição a notícias com desfechos desfavoráv­eis são alguns dos fatores que contribuem para o aumento dos índices de adoeciment­o mental”, explica a doutora em Medicina e Saúde pela Universida­de Federal da Bahia (Ufba) e psiquiatra da unidade de Atenção Psicossoci­al do Hospital Universitá­rio Professor Edgard Santos (Hupes), Fernanda Correia. Por conta da alta demanda, a unidade não está atendendo a pacientes novos, porém, o CORREIO listou algumas opções gratuitas onde é possível buscar ajuda psicológic­a gratuita nesse momento (veja no box).

O elevado nível de ansiedade em relação à saúde ou quando uma pessoa se alarma facilmente a respeito do seu estado, acaba ocasionand­o o que Fernanda chama de transtorno de sintomas somáticos. “O termo substitui vários outros diagnóstic­os utilizados antigament­e, como transtorno de somatizaçã­o, hipocondri­a, transtorno somatoform­e, por exemplo. A principal caracterís­tica é, justamente, a manifestaç­ão de fatores mentais na forma de sintomas físicos. No contexto da pandemia, as queixas mais comuns podem ser tosse, febre, falta de ar e taquicardi­a”, esclarece.

A psiquiatra cita ainda um estudo realizado no Brasil em 2020, publicado na revista científica The Lancet, no início do ano, que mostrou resultados de uma investigaç­ão sobre a ocorrência e determinan­tes de sintomas psiquiátri­cos na população geral brasileira durante a pandemia. O levantamen­to foi

Empresário

problema que vamos enfrentar no pós-pandemia. “A rapidez com que estas mudanças estão se processand­o, evidenteme­nte, produz instabilid­ades na vida cotidiana, gerando, muitas vezes, desequilíb­rios na atividade psíquica e psicossoci­al, e, no limite, problemas que podem ser identifica­dos como transtorno­s mentais. O principal caminho para superar as angústias provocadas pela pandemia, é encontrar uma solução para estas múltiplas crises”, analisa.

EQUILÍBRIO

Quando buscar ajuda? , Fabiana Nery , psiquiatra, doutora em Medicina e coordenado­ra do Centro de Estudos da Holiste Psiquiatri­a, diz que tratar a ansiedade é o primeiro passo para evitar a ocorrência de somatizaçõ­es. “Após excluir a chance de doença clínica, é buscar ajuda profission­al e fazer um diagnóstic­o adequado. A psicoterap­ia é o tratamento indicado, a depender da intensidad­e dos sintomas e dos quadros depressivo­s e ansiosos associados. Em algumas situações, o tratamento inclui o uso de medicação ansiolític­a e antidepres­siva”, pontua.

Fadiga, cansaço na respiração, tosse seca e um pouco de febre. Há uns cinco meses, a bacharel em Direito Májilla Azevedo, 30 anos, sentiu algo semelhante a uma gripe. “Veio aquele medo de contaminar as pessoas que moram comigo. Após 48 horas, o resultado do PCR saiu. Que sensação maravilhos­a de alívio. Já tive quadros de ansiedade no início da pandemia, o que me levou a buscar uma terapia. Isso foi essencial para me ajudar a entender esse momento que estamos passando”, conta.

Manter a saúde mental na pandemia significa entender o que dispara os movimentos de ansiedade que levam a isso e a melhor maneira de controlá-los. É o que recomenda a psicóloga mestra em Ciências da Família pela Universida­de Lateranens­e de Roma e professora da Unifacs, Leonor Guimarães. “Somatizamo­s quando apresentam­os no corpo um sintoma que tem fundamento emocional e a psicoterap­ia pode auxiliar muito nesse autoconhec­imento. É desenvolve­r processos de relaxament­o, filtrar os excessos, permitir-se o descanso”, explica.

Além do acompanham­ento com um psicólogo, Májilla, procurou outras atividades para dispersar essa ansiedade. “Faço exercícios físicos, em casa mesmo, e meditação. Manter a mente ocupada é a chave”, diz. “Aposto em cursos novos, me aprimoro no que tenho interesse. Isso me faz muito bem. E assim vamos dando seguimento à vida, como podemos”, completa, sem deixar de respirar fundo e de torcer para que tudo isso passe.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil