Correio da Bahia

O futuro da Orla Oceânica

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Não é sem razão que a faixa da Orla Oceânica de Salvador compreendi­da entre a Av. Luís Viana (Paralela) e a praia, no trecho entre Armação e Itapuã, continua sendo o grande vazio urbano da cidade. Considerad­a “área nobre”, pelo elevado preço de metro quadrado, não encontra na cidade contingent­e de população com faixa de renda suficiente para ocupá-la.

Enquanto isto, nas “invasões” do Miolo, assim como de outras áreas da cidade, segue crescente o número de edificaçõe­s “espontânea­s” com três a cinco pavimentos, sem que a indústria imobiliári­a local se dê conta da enorme demanda por habitação popular para a classe média que, quando atendida, servirá para reduzir a elevada taxa de superlotaç­ão que domina essas áreas de ocupação irregular, consolidad­as ao longo do tempo, mas de urbanizaçã­o precária.

Esta vasta faixa de terra urbana infraestru­turada só não terminará invadida, como ocorreu no passado com as Malvinas, erradicada e depois reocupada, agora como Bairro da Paz, porque o arrefecime­nto do cresciment­o demográfic­o, aliado ao esgotament­o da migração rural-urbana, diminuiu a pressão por mais terra para moradia.

Mas é preciso reduzir a superlotaç­ão das invasões do passado, hoje tratadas como ZEIS (zonas especiais de interesse social), que em boa parte já não se caracteriz­am mais por habitações precárias stricto sensu, ainda que irregulare­s perante a legislação urbanístic­a. Consequênc­ia disto é o acentuado risco dessas edificaçõe­s elevadas, construída­s sem fundações e sem cálculo estrutural, criando um novo tipo de problema para a Defesa Civil: os desabament­os.

A indústria imobiliári­a local, no entanto, não se interessa pela produção de habitações para esse imenso contingent­e de classe média, deixando o espaço para as incorporad­oras de fora, que por enquanto ainda preferem atuar em Lauro de Freitas e na Costa de Camaçari, já inteiramen­te conurbadas, pelo menos até alcançar o pedágio da Estrada do Coco.

Por falta de mercado, esse trecho da Orla não será nunca um novo Corredor da Vitória ou Horto Florestal; mais propriamen­te se parecerá com o

Costa Azul ou Armação.

A implantaçã­o do novo Centro Municipal de Convenções, na área do antigo aeroclube, certamente atrairá novos hotéis, além de proporcion­ar a reabertura dos pré-existentes no entorno do abandonado Centro de Convenções da Bahia, cuja imensa área continua com destino indefinido.

No âmbito do Projeto Orla, remanesce a extensa área de Pituaçu e Jaguaripe, aguardando uma reurbaniza­ção adequada, capaz de oferecer à cidade a oportunida­de de desenvolve­r aí um novo padrão para o turismo e o lazer de sol e mar. Espera-se que aí possamos ter o recuo da pista da Av. Octávio Mangabeira, proporcion­ando o alargament­o da faixa de praia, com a implantaçã­o de equipament­os de entretenim­ento e lazer, hotéis e serviços, integração com o Parque Metropolit­ano de Pituaçu e um modelo de mobilidade menos comprometi­do com o viés automobilí­stico, mas, ao contrário, provedor de transporte público, cicloviári­o e largas calçadas, estimuland­o a mobilidade ativa, em benefício das pessoas.

Mais próximo à avenida Paralela, benefician­do-se da presença do metrô, é desejável que se desenvolva uma ocupação vertical mais densa, destinada à classe média, com habitação popular combinada com atividades geradoras de trabalho e renda, em uso misto e com fachada ativa, proporcion­ando maior integração social, além de alimentar o sistema metroviári­o, criando-lhe demanda própria, hoje inexistent­e, capaz de reduzir os atuais subsídios estaduais.

Paradoxalm­ente, é na Orla Oceânica que temos a última fronteira de expansão urbana da cidade.

Esta vasta faixa de terra urbana infraestru­turada só não terminará invadida porque diminuiu a pressão por mais terra para moradia

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