Fila nos gripários cai 77% em Salvador
Covid-19 Capital desativa 80 leitos de UTI; custo por unidade chega a R$ 2 mil por dia
A pandemia de covid-19 ainda não acabou, mas nos últimos tempos tem dado uma trégua em Salvador. Pelo segundo dia neste mês de julho (a primeira vez foi no dia 16), as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) da capital baiana amanheceram sem fila de espera ontem, segundo a Secretaria Municipal da Saúde de Salvador (SMS). Somente 18 pessoas precisaram de regulação. O atendimento nos gripários também caiu: 77,5% a menos em relação ao pico da segunda onda, em março. Com isso, 80 leitos de UTI já foram desativados.
Além da fila zerada, as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) não tiveram grande movimento: a taxa de ocupação estava em 49% no início pessoas precisaram de atendimento ontem nos gripários. No pico, número chegou a 800 da noite de ontem. Esse índice não era atingido desde 26 de outubro do ano passado, quando a taxa estava em 36%. No entanto, na época, eram apenas 397 leitos disponíveis para internamento, enquanto hoje são 709. Dos 80 leitos de UTI desmobilizados na cidade, 10 foram em junho e 70 em julho.
Já o Governo do Estado não desativou estruturas assistenciais, tendo migrado 10 leitos de UTI do Instituto Couto Maia para atender outras patologias infectocontagiosas e 10 leitos de UTI do Hospital Geral Ernesto Simões para o atendimento a outras especialidades.
Pela baixa demanda, dois gripários foram desativados, em São Cristóvão e Pirajá. Ambos tinham 10 leitos de enfermaria e dois leitos de sala vermelha para atender qualquer pessoa com sintomas gripais, não só de covid-19. Outros quatro, por sua vez, permanecem ativos – o de Paripe, Pau Miúdo, Barris e o da ilha de Bom Jesus.
“No auge da segunda onda, a gente chegava a atender 800 pacientes por dia nas nossas unidades. E tinha unidades como o gripário dos Barris que chegava a atender 300 pacientes por dia. Ontem (segunda-feira), a gente fechou o dia com 181 atendimentos. Tem variado nessa média, de 180 e 200 pacientes, então foi uma decisão certa [desmobilizar]”, revela o coordenador do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Salvador, Ivan Paiva.
Ele faz a ressalva que as estruturas não foram desmontadas, mas as equipes precisaram ser dispensadas, ao menos por enquanto. “Os gripários permanecem montados, estruturalmente mantidos. A gente está vendo a nova cepa delta já circulando pelo país e, se houver necessidade, a gestão faz a reativação. Mas não há sentido manter estruturas com um gasto público, com médico, enfermeiro, técnico de enfermagem e toda a parte de insumos, sem ter um volume de atendimento que justifique”, explica.
A grande demanda das pessoas que iam aos gripários, de acordo com Paiva, era para fazer testes de detecção do novo coronavírus. “Terminou virando quase um posto de testagem. A gente chegou a passar pelo absurdo de que algumas empresas, quando alguém positivava, obrigava todos os outros funcionários, mesmo sem sintomas, a ir testar, o que é uma utilização indevida do serviço público”, critica o coordenador. O protocolo para a realização dos testes é o indivíduo ter, a partir de três dias, sintomas da covid.
O motivo para a desmobilização dessas estruturas para a doença, além da melhora dos índices epidemiológicos, é a falta de financiamento do governo federal. “Ano passado, o governo federal nos aju
Ano passado, o governo federal nos ajudou imensamente nas estruturas. Porém, esse ano, há uma ausência de financiamento, que tem prejudicado muitos municípios. Ano passado foram mais de R$ 300 milhões e, esse ano, a gente só recebeu R$ 38 milhões Leo Prates Secretário municipal da Saúde
dou imensamente nas estruturas. Porém, esse ano, há uma ausência de financiamento, que tem prejudicado muitos municípios. Ano passado foram mais de R$ 300 milhões e, esse ano, a gente só recebeu R$ 38 milhões”, afirma o secretário municipal da Saúde, Leo Prates.
Segundo ele, esse é o principal motivo de desmobilização, sob a determinação do prefeito Bruno Reis (DEM). Caso seja necessário, haverá reativação. "É importante a gente ter os leitos, mas também nós não podemos desperdiçar dinheiro público e um hospital desse mobilizado parado custa dinheiro”, pontua Prates. Cada leito de UTI custa, por dia, R$ 2 mil aos cofres públicos. Para manter os 709, são necessários R$ 1,4 milhão. No fim do mês, a conta chega a R$ 42,5 milhões.
COBRANÇA
Leo Prates, por sinal, aproveitou a oportunidade e cobrou publicamente ao Ministério da Saúde (MS) a compensação das doses de imunizante para acelerar a vacinação em Salvador. Por conta de erros nos critérios de distribuição do MS, a cidade recebeu 200 mil doses a menos em relação as demais capitais.
Na última semana, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, reconheceu a desigualdade na distribuição das vacinas entre os estados, em uma audiência pública realizada na Câmara dos Deputados. Segundo ele, estados como Rondônia e Tocantins receberam lotes que correspondem a 101% das respectivas populações, enquanto a Bahia teve disponíveis doses capazes de imunizar apenas 62%.
Para o secretário municipal da Saúde, é preciso que o Ministério vá além do reconhecimento público em relação ao problema, e apresente um plano que corrija a disparidade da imunização. “Temos falado há muito tempo que o critério adotado pelo Ministério está prejudicando nossa capital, assim como a todo o estado. A pergunta que fica é quando serão repostas as doses das cidades que foram prejudicadas com o recebimento de doses a menos, como o caso do nosso estado?”, questiona.
Leo Prates também fez um comparativo com a cidade de Vitória, capital do estado do Espírito Santo, que está com uma situação mais avançada que Salvador. “Hoje, Vitória é a cidade que mais vacinou, com 88% dos seus cidadãos vacinados até o momento, enquanto Salvador tem cerca de 56% da sua população vacinada”, explica.
“Proporcionalmente, Salvador teria deixado de receber até 634 mil doses se comparado a Vitória. Na média entre as 27 capitais do país, o contingente vacinado corresponde a 67%, para Salvador alcançar essa média, teríamos que receber no mínimo 200 mil doses”, finaliza.
A quantidade deveria ser proporcional a estados e municípios. (...) O fato é que, agora, a Bahia está com 750 mil doses a menos do que deveria ter se fosse aplicado o critério apenas e exclusivo de proporção da população Rui Costa Governador da Bahia, sobre as doses distribuídas pelo Ministério da Saúde