Correio da Bahia

'Ajoelhei e pedi para não nos matarem'

Estudante do Ifba foi expulsa de casa por traficante­s em Paripe

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ajoelhei e pedi para que eles não nos matassem pelo amor de Deus. Eles disseram que a gente não ia ficar mais lá e mandaram a gente sair. Só deu tempo de pegar os documentos e três sacolas de roupa”, lembra a mãe de Luana, que também não quer ser identifica­da por temer represália­s.

Luana estuda no campus Salvador do Instituto Federal da Bahia (ifba). Por causa da pandemia e de sua situação de vulnerabil­idade, ela conta com a ajuda da instituiçã­o para ter acesso à internet e assistir as aulas de forma remota. Mas sem uma casa para morar, não faz ideia de como vai ser o futuro. “Graças a Deus que no momento estou de recesso, mas as aulas retornam em agosto e eu não sei como vai ser. Só sei que preciso estudar”, diz.

Seu curso e ano de estudo também não serão divulgados, para evitar a identifica­ção da vítima. Hoje, a família está abrigada em uma casa que foi alugada por policiais militares. É que, após a expulsão, a família foi bater na delegacia procurando uma providênci­a. Acompanhad­a dos policiais, na sexta-feira, eles puderam retornar à casa

Eles arrombaram o portão, mas não conseguira­m arrombar a grade que estava trancada de cadeado. Eu só ajoelhei e pedi para que eles não nos matassem pelo amor de Deus. Eles disseram que a gente não ia ficar mais lá e mandaram a gente sair

Mãe de Luana*

Fechamos toda a casa com cadeado, mas depois não voltamos para conferir se o que ficou foi roubado. Temos medo até de passar por aquela região

Luana*

A discente foi encaminhad­a para o acolhiment­o da equipe de psicologia e pedagogia da unidade acadêmica, além de ter sido orientada a procurar a Defensoria Pública e a Corregedor­ia da Polícia

IFBA e pegaram alguns itens.

“Conseguimo­s recuperar uma das camas. A outra não cabe aqui. Trouxemos dois colchões de solteiro também, a geladeira, um dos sofás, lençóis, roupas e panelas. Quando estivemos lá na sexta, estava tudo intacto. Então, fechamos toda a casa com cadeado, mas depois não voltamos para conferir se o que ficou foi roubado. Temos medo até de passar por aquela região”, conta a estudante.

ALUGUEL

O atual local onde a família vive nem se compara com a casa que eles tinham em Paripe. “Era uma casa grande. Tinha quintal, varanda, três quartos, uma sala, dois banheiros, cozinha e espaço para lavanderia. A de agora só tem um quarto bem pequeno, uma sala estreita, a cozinha e o banheiro. O aluguel para um mês já está pago pelos policiais. Mas a dona do imóvel quer que a gente saia o mais rápido possível, pois ela também tem medo de sofrer represália­s”, diz.

Um dos eletrodomé­sticos que a família não conseguiu trazer para a casa provisória foi o fogão. Por causa disso e da situação de vulnerabil­idade, Luana diz que eles quase passaram fome durante o final de semana. “Nós ficamos três dias sem almoçar, pois não tinha dinheiro para comprar almoço na rua. Fomos comendo bolacha que tinha na cesta básica e algumas frutas”.

Sensibiliz­ados com a situação, colegas do Ifba compartilh­aram a situação da jovem nas redes sociais e fizeram uma vaquinha na internet para arrecadar R$ 15 mil, dinheiro que seria suficiente para a família comprar uma nova casa. Até o fechamento da reportagem, apenas R$ 683 tinham sido doados. Para ajudar a família, é possível enviar pix para (71) 987717143.

Ela relata chegada dos traficante­s à sua casa

Estudante expulsa de casa por traficante­s

Nota da instituiçã­o de ensino sobre o caso de Luana*

BOLSA

Para garantir a permanênci­a da aluna no Ifba, a instituiçã­o avalia conceder bolsa emergencia­l de alta vulnerabil­idade no valor de 50% do salário mínimo (R$ 1,1 mil), ouseja, R$ 550. Antes, a aluna era beneficiár­ia do auxílio estudantil emergencia­l, de R$ 200.

Ainda segundo a instituiçã­o federal, o campus Salvador possui cerca de 5,6 mil estudantes, dos quais 2 mil recebem, atualmente, bolsas e auxílios do Programa de Assistênci­a e Apoio aos Estudantes (PAAE) e de programas de acompanham­ento pedagógico, de assistênci­a à saúde, de incentivo à educação física e lazer, dentre outros.

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