País em rota de retração
A queda no PIB pelo segundo trimestre consecutivo, divulgada ontem pelo IBGE, trouxe o país de volta a um quadro de recessão técnica, seguindo a classificação usada por parte dos economistas. Embora existam divergências sobre o uso do termo para enquadrar o recuo da soma de bens e serviços produzidos por dois períodos ininterruptos de três meses, não há dúvidas de que o risco de recessão real começa a aparecer no horizonte do país, já bastante afetado pela alta persistente da inflação e da taxa básica de juros, câmbio desvalorizado gradualmente e desemprego em níveis alarmantes.
A princípio, é consenso de que está em curso um processo de estagnação da atividade econômica, confirmado pela retração de 0,4% do PIB no acumulado de abril a setembro. Será necessário ver o resultado no último trimestre do ano para avaliar, com clareza, se o país caminha de fato para a recessão ou se o mau desempenho é fenômeno isolado e temporário, como defende o ministro Paulo Guedes. Há certa razão na análise do chefe da Economia, quando se observa de onde veio o tombo e os motivos que o causaram.
Os dados apresentados pelo IBGE indicam que a nova redução do PIB foi puxada pelo pior resultado registrado pelo agronegócio desde 2012. A produção agropecuária, que se tornou a salvação da economia nacional na história recente, foi bastante afetada pelo clima. Ao mesmo tempo, a crise hídrica, igualmente originada por adversidades climáticas, prejudicou a indústria brasileira.
Como se tratam de ocorrências sazonais, a justificativa de Guedes encontra amparo na realidade, embora seja insuficiente para frear a preocupação com o futuro próximo. Quando se leva em conta que o produto interno bruto do país está bem perto do patamar de 2019, cresce a necessidade de agir de forma rápida enquanto o sinal de alerta continua amarelo. Mesmo que o ano termine com algum crescimento no último trimestre, dificilmente ele ocorrerá distante da margem, ou seja, do zero.
As projeções feitas até o momento pela imensa maioria dos analistas financeiros variam entre queda de 0,5% do PIB em 2022 ou crescimento em igual proporção. Caso as previsões se confirmem, sejam negativas ou positivas, o país transitará entre o péssimo e o ruim. A situação tende a se agravar diante da falta de projeto claro do governo federal sobre a economia e de plano definido sobre como fazer a roda da fortuna girar novamente.
Com a agenda de reformas fundamentais em estado de hibernação e o Palácio do Planalto concentrado nas costuras políticas voltadas a garantir a própria sobrevivência por mais quatro anos, as incertezas se avolumam no setor produtivo, investidores internacionais e agentes do mercado financeiro. As indefinições ganham volume ainda maior sem que haja uma ação efetiva sobre problemas emergenciais, como inflação, salto no custo de vida e rigidez fiscal. Acrescente-se ao caldeirão a turbulência de um ano eleitoral, e o panorama tende a ficar mais sombrio.
A queda do PIB pelo segundo trimestre seguido eleva os riscos de recessão no país em curto prazo