FESTA PARA O SAMBA
Com muita emoção, alegria e música boa, o Dia do Samba foi comemorado ontem na Cantina da Lua, no Pelourinho. Os cantores presentes aproveitaram o momento para homenagear os sambistas que já se foram cantando o ritmo que é a cara do Brasil. A festa teve sua primeira edição na década de 70, em Salvador, mas já se tornou uma data nacional, celebrada sempre no dia 2 de dezembro. Neste ano, foi encabeçada pelo cantor e compositor Edil Pacheco e pelo escritor e poeta Clarindo Silva. No local, a música foi conduzida por artistas como Muniz do Garcia, Guiga de Ogum, Almir do Apache, Chocolate da Bahia e Gal do Beco.
Durante a comemoração, que começou por volta das 11h e seguiu pelo resto do dia, os sambistas cantavam com alegria, homenageando nomes como Paulinho Camafeu, Firmino de Itapuã, Moraes Moreira e Riachão. O público, por sua vez, recebeu calorosamente os artistas, acompanhando o ritmo das canções com palmas e muito samba no pé. Edil Pacheco explicou que decidiu realizar a celebração de última hora e até mesmo sem dinheiro.
“No ano passado, não tivemos por causa da covid-19. Esse ano, a praça em que fazíamos, Caramuru, não foi liberada. Para não deixar de fazer, organizamos aqui, na Cantina da Lua. É a 48° edição do Dia do Samba e está tudo muito lindo”, contou o sambista. Sobre os artistas homenageados, Edil Pacheco disse que são pessoas da tribo do samba. “Todo mundo tem uma sintonia com o samba e eu fico muito contente de estar aqui, nesse lugarzinho especial que é a Cantina da Lua, fazendo um samba com todas as pessoas maravilhosas. O samba já corre na veia do brasileiro, na do baiano mais ainda”, declarou.
Em 2019, a 47° edição da festa do Dia do Samba precisou ser adiada e foi realizada no dia 7 de dezembro, na Praça Caramuru, no Rio Vermelho. Assim como na última edição, este ano aconteceu um revezamento entre os cantores no palco, que entoaram grandes sucessos dos sambistas baianos. Pacheco acompanha o Dia do Samba desde sua criação. Nos primeiros anos, como cantor, trazia um samba muito ligado às marchinhas de Carnaval e que, até hoje, servem de base para outros ritmos baianos. De 1987 pra cá, ele passou a produzir a festa.
Clarindo Silva, dono da Cantina da Lua, afirmou que o Dia do Samba é um momento histórico e de muita emoção. “Esse ano não ia ter nada na Bahia, que é o quartel general do samba, aqui nasceu o samba, aqui é o berço cultural desta nação. Eu disse não, nós vamos fazer. Fizemos, trouxemos a cidade para o Pelourinho, para mostrar a grandiosidade desse lugar”, relatou o poeta.
Considerado uma das maiores referências da história e da cultura do samba de Salvador, o sambista Guiga de Ogum lembrou de Paulinho Camafeu, um dos homenageados, que faleceu na última terça-feira. “Paulinho
Camafeu é um dos ícones da música, foi muito meu amigo. A morte é continuação da vida, não podemos achar ruim. A gente sente, mas ele está registrado na nossa memória, assim como os outros”, declarou o sambista.
O coletivo ‘É Samba da Bahia’, que atua na valorização e difusão do samba produzido no Estado, também estava na festa. Dois de seus representantes, Maria Pinheiro e Everton Marcos, afirmaram que a tradição carnavalesca de Salvador, que revelou nomes como Nelson Rufino, Walmir Lima, Ederaldo Gentil e Guiga de Ogum, teve pouco destaque na indústria fonográfica, sobrevivendo principalmente na memória de velhos sambistas da cidade.
Para trazer às novas gerações este escondido tesouro musical, o coletivo criou o projeto “Sambas-enredo da Cidade da Bahia - Registro de Memórias”, que já está disponível nas plataformas digitais. LAIZ MENEZES, COM ORIENTAÇÃO DE MONIQUE LÔBO