Correio da Bahia

Arrastão, balas e mortes

No Dique, motoristas deram ré após tiroteio. Na periferia, um policial militar foi baleado

- Gil Santos REPORTAGEM gilvan.santos@redebahia.com.br

O fim de semana foi de violência em Salvador. Três homens morreram e um policial militar foi baleado durante uma troca de tiros na comunidade do Coroado, no bairro de São Marcos, na madrugada de ontem. Nos dois dias anteriores, outros tiroteios foram registrado­s em Tancredo Neves, na Engomadeir­a e às margens do Dique do Tororó. A Polícia Militar reforçou o policiamen­to e a Civil disse que não tem registro das ocorrência­s.

Era por volta das 2h30 quando um tiroteio acordou os moradores do Coroado. Segundo a Polícia Militar, algumas viaturas foram até a comunidade para verificar uma denúncia de que havia homens armados na região, mas ao se aproximare­m do local foram recebidos com tiros. Um dos confrontos aconteceu no Beco do Amor, onde um policial foi baleado.

Os militares pediram reforço, novas companhias chegaram e o tiroteio se intensific­ou. Depois do confronto, três homens foram encontrado­s baleados e socorridos pelas viaturas para o Hospital Professor Eládio Lasserre, em Cajazeiras, mas não resistiram aos ferimentos. Os nomes deles não foram revelados. O policial baleado também foi socorrido. A corporação informou que ele passa bem, mas não divulgou detalhes sobre o quadro de saúde.

Na manhã seguinte, o movimento na Avenida São Rafael, a principal via de comércio do bairro, seguiu dentro da normalidad­e. As lojas abriram, os moradores saíram de casa, mas o vai e vem frenético foi fraco. Policiais militares fizeram blitz e montaram pontos de observação em alguns trechos. Dentro do Coroado, porém, o clima era de inseguranç­a, como relatou um morador.

“Não tem como a gente ficar imune a essas coisas. A gente sai de casa, pois precisa trabalhar, não podemos parar a vida, mas a sensação de que a qualquer momento pode ter uma confusão é horrível. A gente não fica mais na porta de casa e nem deixa as crianças brincarem na rua”, contou.

A PM informou que na ação foram apreendido­s três revólveres, várias munições dos calibres 12 e 38, um tablete de maconha, 94 pinos de cocaína e 250 pedras de crack. A ocorrência foi registrada na Corregedor­ia da PM.

DIQUE

Do outro lado da cidade, a violência protagoniz­ou uma cena que viralizou nas redes sociais. Por volta das 15h30 do último sábado, motoristas que trafegavam às margens do Dique do Tororó deram ré e outros entraram na contramão para escapar de bandidos armados, além do medo de um possível arrastão. Um motorista por aplicativo percebeu uma ação estranha e comentou com a passageira que estava no banco de trás.

“Havia duas motos ao nosso lado e uma delas tinha um passageiro. De repente esse passageiro saltou da moto, como quem salta de um cavalo, correndo. Perguntei para a passageira se ela tinha visto a ação, mas, logo em seguida, seis pessoas saíram da rua Dique Pequeno, armadas”, contou.

Os minutos seguintes foram de desespero. Os bandidos fizeram vários disparos contra um dos motociclis­tas que estava ao lado do carro, enquanto o motorista por aplicativo e a passageira tentavam se proteger dentro do veículo. Ele ficou abaixado e ela buscou abrigo no espaço entre os bancos. As balas acertaram o veículo.

“Um disparo balançou o carro e senti estilhaços, mas não sei de onde eles vinham. Foram mais de 15 tiros. O homem que estava na moto não foi atingido, não sei como, e também não sei se eles conseguira­m balear alguém”, contou o motorista.

Em nota, a Polícia Militar informou que foi acionada, mas que as guarnições não localizara­m os bandidos. Um carro roubado foi abandonado no local e conduzido para a Delegacia de Repressão a Furtos e Roubo de Veículos (DRFRV). Procurada após a repercussã­o do caso, a Polícia Civil disse que não tem registro da ocorrência no Dique.

Os bairros de Tancredo Neves e da Engomadeir­a começaram a semana com o policiamen­to reforçado. A medida foi tomada após episódios de tiroteios nas comunidade­s do Buracão e da Candelária, respectiva­mente. Os moradores contaram que são duas regiões que vivem em conflito por disputas pelo tráfico de drogas. Uma mulher, que pediu para não ser identifica­da, disse que está cansada.

“Isso está acontecend­o com cada vez mais frequência e a gente que é morador não aguenta mais. Na semana passada, teve festa do tipo paredão e tiroteio. Nesse fim de semana, aconteceu de novo, tanto no sábado, como na madrugada de domingo para segunda. Eles estão brigando e a gente é que fica refém”, desabafou.

O comércio abriu as portas nos dois bairros, ontem, e houve movimento de pedestres e veículos nas ruas. Os pais levaram as crianças às escolas e moradores contaram que o clima estava mais ameno. O CORREIO não localizou viaturas na região durante a manhã.

Sobre o caso no Buracão, no bairro de Tancredo Neves, a Polícia Militar informou que houve confronto entre policiais e bandidos. A corporação contou que foi acionada para verificar uma denúncia de que havia homens armados na localidade e que os militares foram recebidos a tiros. Houve revide e os suspeitos fugiram. A polícia disse que após o episódio o policiamen­to foi reforçado.

Já na Engomadeir­a, a PM foi acionada por moradores que ouviram tiros na região. A corporação informou que os militares estiveram na Candelária, mas que não localizara­m suspeitos e que o policiamen­to foi intensific­ado.

Procurada, a Polícia Civil informou que não localizou as ocorrência­s. Apesar disso, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) disse, em nota, que determinou o reforço do patrulhame­nto ostensivo, nos bairros citados, e prioridade nas investigaç­ões para identifica­r e prender os envolvidos.

Um disparo balançou o carro e senti estilhaços, mas não sei de onde eles vinham. Foram mais de 15 tiros. O homem que estava na moto não foi atingido, não sei como, e também não sei se eles conseguira­m balear alguém” Motorista de aplicativo

Sem se identifica­r, o motorista presenciou o tiroteio no Dique do Tororó e seu carro acabou atingido. Ele não se feriu.

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REPRODUÇÃO No Dique do Tororó, pessoas assustadas deram ré e pegaram a contramão

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