Correio da Bahia

Baiana de corpo, alma e coração

- Osmar Martins REPORTAGEM osmar.martins@redebahia.com.br

ENTREVISTA REGINA CASÉ

Carioca de nascimento e baiana de coração, a atriz Regina Casé se sente literalmen­te em casa quando está em Salvador. No verão, ela é presença constante na capital baiana, totalmente integrada ao clima alegre e festeiro da cidade. Muito comum encontrá-la com o marido Estêvão Ciavatta e a filha Benedita nos ensaios do Cortejo Afro e Harmonia do Samba, que adora, ou na praia do Porto da Barra, que frequenta desde os anos 1970.

A sensação de pertencime­nto é tamanha que Regina comprou uma casa no charmoso e agora desejado bairro de Santo Antonio Além do Carmo onde, sempre que pode, vem passar uma temporada. Com a pandemia ela, assim como todo mundo, teve que se adaptar. Mas não deixou a peteca cair. Nesta temporada em Salvador, ela conversou com o CORREIO e falou de tudo um pouco: “Chego aqui e parece que quem eu nem conheço tava com saudades de mim”.

Apesar de ser carioca, você mostra ter muita identifica­ção com a Bahia. Quando foi que você percebeu essa sintonia?

Percebi desde o primeiro momento em que, do navio indo para o Recife com os meus avós, avistei de longe a cidade de Salvador. Eu devia ter uns 10 anos nessa época. Quando desci, a sensação de pertencime­nto foi imediata.

Você tem muitos amigos baianos, a exemplo de Caetano e Gil. Como se deu essa aproximaçã­o com eles? Sem falar que você curte a nossa axé music e o nosso pagode.

Eu acho que tenho tantos amigos na Bahia, quanto no Rio. E acho que minha aproximaçã­o com a Bahia se deve à amizade que vem desde os meus 20 anos com Caetano e Gil. Ou seja: é uma amizade que beira os 50 anos. De tanto eu passar férias com eles, acabei tendo a minha própria casa e fincando raízes na Bahia.

Recentemen­te, atraiu muita atenção um vídeo que você postou fazendo compras na Baixa dos Sapateiros. O que a levou a escolher uma casa na capital baiana e porque escolheu o Santo Antônio Além do Carmo? Desde os anos 70, eu andava no Santo Antônio e dizia: “Eu vou ter uma casa aqui”. Primeiro, não tinha dinheiro, e depois as casas que eu via não tinham documento. Era inviável comprar. Até que um dia, hospedada no Convento do Carmo, eu e o meu marido olhamos pela janela do quarto e tinha uma casa com uma plaquinha de venda do outro lado da rua.

A gente sentiu e falou um com o outro: “É alí. Vamos morar lá”. É um dos lugares que eu mais gosto.

Outro fato que liga você à Bahia é a novela Amor de Mãe, escrita por uma baiana, Manuela Dias, que é filha da querida atriz Soninha Dias. O que significou fazer essa novela?

Uma personagem como a Dona Lurdes é uma vez na vida. Porque é tão maravilhos­a, tão querida, que eu sinto que ela aumentou ainda mais a minha relação afetiva com as pessoas da Bahia. Eu chego aqui e parece que quem eu nem conheço tava com saudades de mim. É incrível

A primeira lembrança que tenho sua foi na peça Trate-me Leão, quando foi apresentad­a no Teatro Vila Velha. Isso lá pelos anos 1980. Qual impacto dessa peça em sua carreira? E como foi trabalhar com aquela trupe maravilhos­a do Asdrúbal Trouxe o Trombone?

Primeiro, pode tirar o seu atestado de velho, tá? Porque não é 80 não. É anos 70 (risos). O Asdrúbal amava a Bahia. A gente vinha pra fazer dois espetáculo­s e ficava um mês por Arembepe, pela Ilha de Itaparica, ou em Salvador. A gente acabou vindo muito, se envolvendo muito e se inspirando mais ainda por essa terra

E Regina Casé no cinema? Toda vez que volto pro cinema, ele me devolve com reconhecim­ento, alegrias e a oportunida­de de trabalhar com pessoas maravilhos­as. Eu adoraria fazer mais cinema, mas, infelizmen­te, o incentivo é muito pequeno. Fazer cinema é quase um milagre.

Como está sendo conviver nesses tempos de covid? Eu perdi amigos queridos. Esse aspecto foi terrível. Passei uma parte da pandemia trabalhand­o, finalizand­o a novela Amor de Mãe, com um protocolo muito rigoroso. Ninguém do elenco pegou. De maneira geral, eu trabalho muito. Geralmente, saio pra gravar 10 da manhã e volto 10 da noite. A pandemia me possibilit­ou estar mais tempo com a minha família. Nós ficamos um ano meio em nosso sítio, tomando café, almoçando e jantando juntos. Algo que eu nunca esperava viver .

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