FILA CHATEIA, MAS NÃO AFETA
Horário de votação foi ampliado para quem estava dentro da seção até as 17h
A expectativa era a de uma eleição tensa. Mas tirando alguns casos pontuais, a realidade mostrou um pleito dentro da normalidade democrática, com os cidadãos tendo acesso irrestrito ao direito de exercer seu voto. As maiores queixas ficaram por conta das filas até chegar à cabine de votação. Entre os episódios que podem ser classificados como fora da normalidade está a de eleitores que quebraram urnas e a confusão causada por uma promoção de picanha.
As longas filas obrigaram muitas sessões eleitorais a estenderam o horário da votação para além das 17 horas. Quem estava dentro dos portões teve direito de votar. Mas quem chegou depois não pôde entrar. A garantia foi anunciada pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes. Segundo ele, em entrevista dada às 15 horas, as filas estavam dentro do esperado. A hipótese é que elas tenham se formado pela demora dos eleitores em efetuarem cinco votos (presidente, senador, governador, deputado federal e deputado estadual). "Uma eleição tranquila, harmoniosa, não significa uma eleição sem intercorrência. Reitero aqui a maturidade da sociedade, de todos os lados ideológicos", disse o ministro naquela coletiva.
E as filas ocorreram mesmo com uma abstenção (ausência) de 20,8% dos eleitores aptos a votar (cerca de 31,2 milhões) registradas ate as 22 horas de ontem com 95% das urnas apuradas. O número é estável se comparado à última eleição majoritária, em 2018. Em relação a 2002, quando 20,4 milhões de pessoas não votaram, as abstenções cresceram 50,6% no país segundo o TSE.
Até as 16 horas, segundo números do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), um total de 3.222 urnas foram substituídas em todo o país por problemas técnicos. As substituições representam 0,6% do total de 472.075 urnas eletrônicas disponibilizadas para a votação. O TSE contava com 63.185 urnas de contingência.
Pelo menos duas urnas foram quebradas por eleitores, em Goiás e na Paraíba. No estado nordestino, um homem de 55 anos foi preso após quebrar uma urna eletrônica durante a votação deste domingo (2) na cidade de Cajazeiras, interior da Paraíba. Vestido de amarelo, ele berrava o nome de Jair Bolsonaro enquanto socava o equipamento.
Responsável pelo caso, o delegado Ilamilto Simplício disse ao jornal Extra que o homem foi levado ao presídio. O bolsonarista foi preso em flagrante por "causar, propositadamente, dano físico ao equipamento usado na votação ou na totalização de votos ou a suas partes".
"O eleitor estava com sintoma de embriaguez e se equivocou no momento de votar", explicou Simplício. Imagens que circularam na web mostram o eleitor irritado ao sair da cabine. Gritando o nome de Bolsonaro, ele andou até a porta antes de voltar para a urna.
Em seguida, o eleitor dá um golpe no equipamento e é retirado do local de votação por duas policiais militares. Ele alegava que a urna não mostrava o candidato escolhido por ele.
Em Goiânia, capital de Goiás, a urna também foi danificada por um homem. Segundo informações da Polícia Militar, ele presentava problemas psicológicos e foi conduzido à Polícia Federal logo após a confusão. "A princípio, ele vai ser autuado pelo dano que causou na urna eletrônica. Ele já veio com o ânimo de quebrar esse equipamento. Ele estava muito exaltado", disse o capitão Leandro Pires, ao G1 Goiás.
Ao Uol, um eleitor que esperava para votar na hora da ocorrência afirmou que, antes de bater na urna com o pedaço de pau, o suspeito "gritou histericamente".
"Ele entrou com o pedaço de madeira escondido dentro de um guarda-chuva", disse o entrevistado. Segundo a testemunha, um policial e um delegado entraram na seção e controlaram o homem. "Ele ficou sentado, completamente apático".
PROMOÇÃO
A capital de Goiás também foi palco de uma outra confusão. Esta foi causada por um frigorífico que anunciou uma promoção de 'picanha mito' a R$ 22 o quilo, mas só para quem vestisse camisas amarelas. A propaganda da carne, que usa a imagem do presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), recebeu o comentário da primeira-dama Michelle Bolsonaro: "Muito Patriota".
Antes da promoção, segundo o frigorífico, a peça custava cerca de R$ 129,99. Um vídeo publicado nas redes sociais mostra quando as portas de vidro do comércio chegam a quebrar pela quantidade de pessoas que as empurravam. A propaganda reitera que a promoção só é válida para quem estiver usando a camisa do Brasil. A Polícia Militar informou ao g1 que os policiais entraram em contato com a Justiça Eleitoral, mas que a ação não configuraria crime eleitoral. A Polícia Federal ainda analisava o caso até o fechamento dessa edição.
PRISÕES
Uma eleição tranquila, harmoniosa, não significa uma eleição sem intercorrência. Reitero aqui a maturidade da sociedade, de todos os lados ideológicos Alexandre de Moraes Presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
mais na página 22). O TRE não informou se havia números sobre atendimento médico a eleitores nas zonas eleitorais.
DESMAIOS
No Colégio Sátiro Dias, na Pituba, a agente de saúde Niedja Bandeira, 60 anos, foi com a intenção de votar pela manhã, mas desistiu ao ver a lotação do colégio. “Por volta das 9h estava terrível. Tinha muita gente e ninguém para dar informação. Desisti e retornei 13h. Fiquei uma hora na fila, o que acho até razoável em comparação com de manhã”, afirmou.
Para o comerciante Edson Costa Santos, 48 anos, as filas enormes foram uma surpresa e, por isso, sugeriu mudanças. “Poderia ter uma cabine extra, um horário específico ou abrir um pouco mais cedo para as pessoas de idade avançada”.
A pressão de Aida Souza, de 65 anos, baixou por conta do calor e a senhora chegou a desmaiar no Colégio Mário Augusto Teixeira de Freitas, na Mouraria, enquanto esperava na fila. Segundo a idosa, como a maioria dos ventiladores estava desligada, outros idosos também passaram mal durante a espera. A reportagem visitou o local por volta de 11h e observou filas que formavam caracóis em escadas do prédio e muitos eleitores reclamavam da demora.
“Quando eu cheguei aqui soube que uma pessoa tinha desmaiado. Já tem mais de uma hora que estou na fila e aqui não tem ventilação. Está fazendo muito calor mesmo”, disse Laura Alves de Araújo, 59, que aguardava sua vez de votar. Um dos motivos para a demora no local foi a junção de duas seções eleitorais, o que aconteceu em cinco salas. Além disso, pelo menos oito mesários que trabalhariam no local faltaram.
Já em Itapuã, uma senhora desmaiou depois de aguardar duas horas na fila para a votação