Correio da Bahia

O VOTO TEM A FORÇA EM TODAS AS GERAÇÕES

Facultativ­o Menores de 18 anos e maiores de 70 fazem a diferença no processo eleitoral

- Maysa Polcri* REPORTAGEM redação@correio24h­oras.com.br

“Por que não viria se tenho direito e capacidade?”. Essa foi a frase que Elsa Maria dos Santos repetiu algumas vezes na manhã de ontem na Escola de Administra­ção da Universida­de Federal da Bahia (Ufba), no Canela. A pergunta era direcionad­a aos curiosos da sua seção eleitoral que queriam saber o motivo da senhora, aos 100 anos, ainda sair do conforto de casa para votar. A aposentada foi aplaudida logo após sair da cabine de votação e parabeniza­da pelos mesários. Como ela, existem outros 12.839 eleitores centenário­s no estado, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O voto não é obrigatóri­o no país para maiores de 70 anos. Mesmo assim, não foi difícil encontrar idosos como dona Elsa Maria fazendo questão de exercer a democracia. Por estar próximos de bairros como Graça e Barra, que já são conhecidos por terem moradores com mais idade, o campus da Ufba no Canela acaba concentran­do eleitores idosos. Desde o início da semana, dona Elsa já estava se preparando para votar e até pintou o cabelo para ocasião.

“Eu sempre trago ela para votar e para mim é uma festa porque eu sei que para ela esse momento é muito importante. Ela se diverte e eu fico muito feliz”, disse Soraia Rendall, 54, neta de dona Elsa que a acompanhou na votação. Para escolher seus candidatos, Elsa Maria conta que assiste televisão e fica bem informada. “Eu vejo as coisas pela televisão e às vezes a gente fica sem saber em quem votar, mas acho que escolhi os melhores e que merecem”, afirmou após o voto.

TRADIÇÃO FAMILIAR

Para a família Andrade, o momento da votação sempre foi muito importante. Laudelina Amaral Andrade, de 99 anos, compareceu para votar na companhia do filho Luiz Gonzaga do Amaral Andrade, de 80 anos. A mãe, que andava com o auxílio de uma bengala, disse orgulhosa que não deixou de votar em nenhuma eleição ao longo da vida, exemplo para o filho, que repete a tradição.

“Meu pai faleceu aos 106 anos e nunca deixou de comparecer em uma eleição, mesmo aquelas plebiscitá­rias. Ele achava muito importante exercer o direito ao voto, afinal, é uma arma poderosa você escolher seus dirigentes. Tanto meu pai como minha mãe sempre foram muito patriotas”, disse Luiz. Ele também possui uma ligação íntima com a política e foi diretor geral de Ensino no estado na segunda gestão do governador Antônio Carlos Magalhães.

Dá para ter noção da importânci­a do voto da terceira idade olhando para os números. Na Bahia, cerca de 1 milhão de baianos com mais de 70 anos estão aptos para votar, o que representa 9,2% de todos os eleitores do estado. Somente entre a faixa de 85 a 89 anos, são 95 mil eleitores, mais do que os que vão votar pela primeira vez aos 16 anos, que somam 69 mil pessoas.

A idade avançada não impediu que Guiomar Galvão Gonçalves, 77, fosse sozinha votar logo cedo no Pavilhão de Aulas Reitor Heonir Rocha, na Ufba. “Graças a Deus eu me movimento bem só, faço tudo o que quero e nas eleições é assim também”, falou em tom de brincadeir­a, enquanto procurava o local da sua seção eleitoral. A perseveran­ça é tradição familiar e o apreço pela política corre nas veias da família, afinal o trisavô de Guiomar é José Gonçalves Dias, que governou a Bahia a partir de 1890.

PRIMEIRO VOTO

Nesta eleição, mais de 177 mil jovens eleitores de menos de 18 anos estavam aptos para votar. Eles representa­m 1,5% de todos o eleitorado e muitos tiraram o título de eleitor sem obrigatori­edade, por conta das campanhas feitas em redes sociais. Samilly de Jesus dos Santos, de 16 anos, faz parte do grêmio estudantil da escola que frequenta, o Colégio Estadual Senhor do Bonfim, nos Barris.

Antes de votar, ela acompanhou o colega da mesma idade no Colégio Mário Augusto Teixeira de Freitas, na Mouraria, e contou à reportagem sobre o poder que acredita que o voto tem. “Eu decidi votar por uma necessidad­e, os atos do governo refletem em toda nossa família e amigos. Nós, como adolescent­es, sentimos a importânci­a de votar e assim ter um pouco de voz”, disse. Para Samilly, a conscienti­zação veio através da internet.

“Eu não assisto televisão, então fui muito conscienti­zada da importânci­a do voto pela internet. Muitos jovens que têm acesso às redes sociais acabaram sendo influencia­dos”, contou. Se grande parte dos colegas de Samilly foram às ruas para escolher seus candidatos na urna, os amigos de Bernardo Carvalho de Freitas, 16, não seguiram o mesmo caminho.

O jovem foi votar em companhia da mãe pela primeira vez. Para Bernardo, que tirou o título em maio deste ano, o ato é uma forma de defender seus ideais. A urna eletrônica não foi novidade, já que ele acompanhou a mãe em algumas votações quando mais novo. Apesar disso, Bernardo confessa que dessa vez teve um gostinho diferente: “Eu vim votar porque preciso defender o que acredito e me importo com o futuro do país [...] Votar foi massa e vou vir sempre a partir de agora”, garantiu.*COM ORIENTAÇÃO DE MONIQUE LÔBO

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MAYSA POLCRI Samilly de Jesus dos Santos, de 16 anos: primeiro voto influencia­da pelo chamado das redes sociais
 ?? PAULA FRÓES ?? Elsa Maria dos Santos cumpriu o dever cívico aos 100 anos: "Acho que eu escolhi os melhores", disse
PAULA FRÓES Elsa Maria dos Santos cumpriu o dever cívico aos 100 anos: "Acho que eu escolhi os melhores", disse

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