Correio da Bahia

Vaquinha para andar de novo

- EMILLY OLIVEIRA*, ORIENTADA PELA SUBEDITORA FERNANDA VARELA.

Yume Sisnane caminhava para a escola todos os dias com a mãe. Pouco antes de completar 6 anos, a menina passou a ser queixar de dores na perna esquerda. Maria Betânia Paz Sisnane, a mãe de Yume, desconfiou que caminhada fosse a causa do mal-estar da filha. A ida ao médico, no entanto, revelou dois diagnóstic­os equivocado­s antes da confirmaçã­o de um câncer.

“Primeiro, os médicos acreditava­m em uma osteomieli­te, mas eu sou enfermeira e percebi que os sintomas extrapolav­am as reações daquela doença”, lembra Maria Betânia, ao esclarecer que, na verdade, o caso se tratava de um tumor do tipo osteossarc­oma, que levou mais de um mês para ser descoberto.

Moradora do município de Wenceslau Guimarães, Maria Betânia se mudou com a filha para Salvador, para que a menina iniciasse o tratamento. Ao todo, Yume passou por 32 sessões de quimiotera­pia, em um período de 10 meses. Como tem outro filho mais velho, ele veio acompanhar a irmã. Já o pai se alternava entre as duas cidades para trabalhar e visitar a filha.

Após a remoção do tumor, Yume colocou uma endoprótes­e na perna, para substituir a parte enfraqueci­da do membro. No entanto, apesar de já curada do câncer, ela precisou passar por diversos procedimen­tos cirúrgicos para ajustar o dispositiv­o. Sem o resultado esperado com as intervençõ­es, foi submetida a uma amputação da perna esquerda, no dia 13 deste mês, já com 8 anos de idade.

Desde então, parentes e amigos de Yume estão mobilizado­s em uma campanha para comprar uma prótese mecânica para ela. O equipament­o de titânio custa R$ 50 mil. Valor que a família não pode arcar, mas considera fundamenta­l para que a pequena consiga crescer com independên­cia.

A vaquinha foi pensada pela família como alternativ­a para que Yume consiga a prótese mais rápido. Pois, mesmo sendo disponibil­izada pelo SUS - Sistema Único de Saúde, diversos relatos ouvidos por Maria Betânia apontam demora ou inadequaçã­o do equipament­o recebido.

“Ela fez todos os tratamento­s no SUS, a quimiotera­pia, retirada do tumor, a endoprótes­e e a amputação, mas como a prótese é algo mais complexo, que requer uma manutenção constante, queremos a opção de fazer isso com mais conforto para ela”, destaca a mãe.

A arrecadaçã­o do valor está sendo feita pela família através da vaquinha online Prótese para Yume e do Pix de chave 0329408658­0, no nome de sua mãe, Maria Betânia da Paz Sisnane.

A menina aguarda a retirada dos pontos da cirurgia de amputação para iniciar a preparação para o uso da prótese. Por causa do processo de adaptação, a família precisará passar mais alguns dias longe de casa.

“O que desejamos é a melhora dela. Não foi fácil, mas sempre que parece piorar aparece algo ou alguém para nos lembrar que já superamos muito e podemos mais”, afirma Maria Betânia.

O osteossarc­oma é um tumor maligno ósseo mais frequente na infância e adolescênc­ia, segundo esclarece o médico ortopedist­a e vice chefe do Departamen­to de Cirurgia Experiment­al e Especialid­ades Cirúrgicas (DCEC), Alex Guedes. Considerad­os cânceres raros, em 2022, o Brasil registrou 37 casos de tumores ósseos malignos, conforme dados do Datasus.

Desses diagnóstic­os, 11 (30%) foram feitos em pessoas dentro da faixa etária de 0 a 19 anos. “Em crianças com 5 anos, como é o caso de Yume, eles são ainda mais raros, mas podem acontecer”, destaca Alex Guedes.

Como não há sintomas específico­s para a doença, o ortopedist­a destaca a importânci­a do diagnóstic­o precoce para garantir maior sucesso no tratamento e recomenda que dor recorrente e inchaços sem causa conhecida sejam investigad­os.

O que desejamos é a melhora dela. Já superamos muito e podemos mais Maria Betânia Mãe de Yume, ao falar sobre o diagnóstic­o da filha, que teve câncer aos 5 anos

Em crianças com 5 anos, como é o caso de Yume, são ainda mais raros, mas podem ocorrer Alex Guedes Ortopedist­a, sobre a raridade dos osteossarc­oma em crianças pequenas

 ?? PAULA FRÓES ?? Yume ainda vai retirar os pontos após a cirurgia de amputação da perna e iniciar o processo de adaptação para usar a prótese
PAULA FRÓES Yume ainda vai retirar os pontos após a cirurgia de amputação da perna e iniciar o processo de adaptação para usar a prótese

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