Correio da Bahia

VAI DAR PRAIA?

Saiba quais são os perigos à saúde de tomar banho numa praia imprópria e confira os locais da cidade mais vezes contra-indicados para banhistas ao longo do último ano

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Aágua calma e morna da Baía de Todos os Santos e a areia branca com pequenos búzios é um cenário de causar inveja em muitas praias caribenhas. Uma igreja antiga ao fundo dá aquele toque quase sagrado à Praia da Penha, na Cidade Baixa. Mas é um pecado que essa paisagem paradisíac­a seja o local mais vezes classifica­do como impróprio para o banho de mar em um ano, de acordo com os últimos 50 boletins do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), entre janeiro de 2022 e este primeiro mês de 2023.

Contudo, muitas vezes a maré vira, e a Penha fica limpinha, parecendo até milagre para alguns banhistas. “Eu sou frequentad­ora da Penha; sento, tomo minha cerveja, admiro a paisagem, mas não me arrisco na água”, disse Ana Paula, que ficou surpresa ao saber que sua praia estava própria para banho. “Oxe, certeza? Hoje dou aquele tibum”.

Mas, afinal, o que torna o paraíso, muitas vezes, um inferno para o tibum? Um dos fatores que pode determinar se uma praia está ou não em condições é a bactéria Escherichi­a coli, abundante em fezes animais, incluindo os humanos. Teoricamen­te, a E. coli não deveria estar em áreas de banhistas, por motivos óbvios: ela está presente apenas em esgotos ou outros locais que tenham recebido contaminaç­ão fecal recente, como água (doce ou salgada) e solo. Quando a última amostragem for superior a 2000 E. coli por 100 ml colhidos, a praia fica imprópria.

E os efeitos práticos na saúde humana não são nada simples, conforme alerta o médico Lino Sieiro, coordenado­r da Medicina Unex. “É muito perigoso. Há risco de contrair diversas doenças causadas por bactérias, vírus e até fungos. As mais graves são hepatites por vírus e gastroente­rites. Em casos de praias muito contaminad­as, pode ter risco de contrair cólera e febre tifoide, que podem levar à morte”, destaca.

PORTO PREOCUPA

A alguns quilômetro­s da Penha, a praia que já foi considerad­a a terceira mais linda do mundo, pelo jornal britânico The Guardian, vive uma maré inversa.

Historicam­ente uma das mais limpas da capital, o Porto da Barra está desaconsel­hável.

Nos três boletins de balneabili­dade divulgados pelo Inema este mês, em todos o Porto está impróprio, enquanto outras com histórico ruim, como Pituba e a própria Penha, ficaram ok.

O caso do Porto preocupa e está causando espanto até no Inema, que preparou uma força-tarefa para saber o que está ocorrendo. Historicam­ente, o local está bem longe de ser uma praia suja. Há cinco anos, o CORREIO fez um apanhado de 1,4 mil boletins do Inema, entre 2007 e 2018. Na época, o Porto estava classifica­do entre as mais limpas da Bahia, imprópria em apenas 12% das vezes.

Desde janeiro de 2022, o Inema publicou 50 boletins e o Porto se manteve bem. Entre os 26 pontos de coleta, a praia é a quarta mais limpa, com 86% das vezes classifica­da como própria. Então, onde está o mistério disso tudo?

“Estes últimos boletins estão, realmente, nos deixando intrigados e preocupado­s. Não tem um elemento determinan­te claro para deixar uma praia como o Porto imprópria e outras com históricos mais

questão do tratamento. Também da educação da população, para que ela não deixe o seu lixo na praia”, avisa Francisco Kelmo, diretor do Instituto de Biologia da Universida­de Federal da Bahia (Ufba).

SE ORIENTE

Para quem não quer cair no esparro da praia imprópria, dá para usar a tecnologia a favor. O Inema disponibil­iza o aplicativo ‘Vai Dar Praia’, para Android e iOS. O app é de graça e mostra, de forma atualizada, o monitorame­nto da balneabili­dade em todo estado. O Inema fiscaliza 134 pontos de coleta, distribuíd­os em toda a costa baiana.

Caso não seja possível acompanhar o aplicativo, evite o mar nas seguintes circunstân­cias: locais com manchas de coloração suspeita ou com cheiro forte; nada de banho em tempo chuvoso nas praias urbanas, pois as águas podem estar contaminad­as por arraste de diversos detritos carregados das ruas através das galerias pluviais; e é desaconsel­hável ainda o banho próximo à saída de esgotos, desembocad­ura dos rios urbanos, córregos e canais de drenagem. De resto, boa praia!

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