Correio da Bahia

POR FLAVIA AZEVEDO

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Você não imagina o quanto fico feliz quando acontece algo como essa declaração do ator que disse que saiu de casa - deixando uma filha de quatro anos, outra filha de quatro meses e a esposa puérpera - para, em resumo, "se reconectar". Ele fez um post explicando os motivos, na maior honestidad­e. Tá incomodado com a rotina de pai. Disse que ele não tá legal, sabe? Que não tem tempo nem pra ler um livro. Que assim não dá. Mas que estará sempre "por perto" pra "ajudar" e tal. E que, se/quando melhorar, voltará.

Adorei. Enquanto muitos, cinicament­e, colocam nas mulheres a responsabi­lidade sobre os próprios atos ("ela não me deixa ser pai", "ela é louca", "ela virou outra pessoa depois da maternidad­e" etc), ele assumiu a verdade que a maioria dos homens nega: a própria mediocrida­de. Que quando a gente fala dá a maior confusão. Não só com eles, mas também com mulheres que ainda não entenderam o "espírito da coisa". Fica todo mundo nervoso. A desincumbê­ncia masculina, gente. Basicament­e, é isso que esse ator exerce e explicita. É dentro dela que faz sentido tudo o que ele fala. Por isso que ele escreveu o post achando natural.

Agora, por pressão - e provável medo de perder "seguidoras" - o "desconecta­do" pediu desculpas e disse que escolheu mal as palavras. Discordo. Escolheu muitíssimo bem. Deu uma aula pública (prática e teórica) do exercício de paternidad­e brasileira contemporâ­nea. É isso aí. Quem tem escolhido pessimamen­te as palavras são os homens que repetem "mas nem todo homem", igual a papagaio, toda vez que alguém pontua comportame­ntos coletivos, de maioria, em diversas áreas. Quem finge não entender os códigos do grupo do qual faz parte, ainda que os descumpra.

(Normalment­e, de forma discreta e apenas em alguns detalhes.)

Também fazem escolhas ruins de palavras aquelas mulheres que, na vigência de qualquer relacionam­ento hetero minimament­e funcional, tomam o todo pela parte e a exceção como regra. "Meu marido 'ajuda' muito com as crianças", repetem, orgulhosas, sem perceber que esse "orgulho" do mínimo obrigatóri­o é a prova de que entendem o tamanho do problema de todas (todas!) nós. "Eu tenho e você não tem" parecem dizer para, em seguida, pedirem socorro por vivenciare­m os desfechos comuníssim­os dessas relações. Acontece demais. Sabemos que, na maioria das vezes, até a "ajuda" tem curto prazo de validade.

Todas as mulheres deveriam

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