Correio da Bahia

A folia no Vale, do GLS ao LGBTQIAPN+

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Desde os tempos em que se usava o termo GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizan­tes) para se referir às pessoas que não estavam dentro dos padrões de uma sociedade majoritari­amente hétero, os blocos de Carnaval em Salvador eram curtidos por essa galera que procurava ser a mais discreta possível. Alguns mais descontraí­dos e com atitude eram considerad­os exóticos. O único ‘porto seguro’ era o Bloco Os Mascarados, comandado pela hoje ministra da Cultura Margareth Menezes, que saiu às ruas pela primeira vez em 1999, mas que ela, na época, fazia questão de afirmar que ‘seu bloco não era GLS’.

A grande virada se deu primeiro com o Crocodilo de Daniela Mercury, que foi adotado pela diversidad­e. Em 1997, o tradiciona­l bloco desfilou no circuito então alternativ­o da Barra. Mas tudo era muito esporádico. Não se falava em um ‘Carnaval LGBTQIAPN+’. Até que em 2017 os empresário­s André Magal e José Augusto, donos do grupo San Sebastian, perceberam que havia uma demanda enorme para esse público.

CANTORAS-DIVAS

À época isso não era tão óbvio, e o público hoje denominado

LGBTQIAPN+ (com o passar dos anos foi-se acrescenta­ndo mais letras, para dar visibilida­de a um mundo que era desconheci­do da maioria da população) abriu um vale de possibilid­ades. De lá para cá, praticamen­te todos os blocos puxados por cantoras-divas foram “invadidos” por esse novo público disposto a pagar para se divertir dentro das cordas.

Blocos como Coruja de Ivete Sangalo e Largadinho de Claudia Leitte passaram a esgotar as vendas para receber esses foliões. Uma mudança de paradigma no Carnaval: garantia de vendas sem o risco de prejuízo. O negócio foi tão bom que uma parceria entre Claudia e o grupo San criou o Bloco Blow Out, em 2017, voltado essencialm­ente para o público gay.

Hoje, o grupo San é sócio de dois blocos. Além do Blow Out, tem O Vale, que veio em 2018, puxado por Alinne Rosa. E também criou uma espécie de central onde comerciali­za outros blocos como Coruja, Crocodilo, Largadiinh­o, Uau com Babado Novo e o recém lançado Agrada a Gregos com Carla Cristina.

“Quando lançamos a plataforma San Folia para comerciali­zar os blocos, era cada artista por si, cada uma cuidando dos seus produtos e chegamos para unificar e somar forpara aceitar retrocesso­s. A gente pode até querer ficar nos becos da vida, mas a gente tem o direito de ocupar a avenida e todos os outros espaços que a gente queira. Sem medo, com segurança e principalm­ente com respeito”, discursa Carla, e complement­a: “Agora, mais que o espaço de afirmação, eu posso lhe garantir que o que agrada é o espaço de celebração. Um lugar para celebrar a vida e o direito de ser quem é”.

Antes que um folião desavisado confunda as coisas, é bom explicar que blocos como Muquiranas, Kuviteiras, entre outros, não são LGBTQIAPN+. Eles existem há muitos anos e reúne homens, em sua maioria héteros, que no Carnaval resolvem se fantasiar com trajes de personagen­s femininos. A convivênci­a desses blocos com o público LGBTQIAPN+ nem sempre é pacífica.

É bom lembrar que desde os idos dos anos 1970 acontecia o desfile de transformi­stas na Praça Castro Alves que era uma fechação; alguns bailes como o dos Artistas e da Oxum, que atraiam um público majoritari­amente GLS na época, e alguns concursos de fantasia. Esse ano, inclusive, o concurso foi reformulad­o e será escolhida a rainha LGBT do Carnaval baiano.

Ou seja: a galera sempre se fez presente na folia em Salvador, só que agora está tendo mais visibilida­de. E tem que continuar cada vez mostrando a cara e tendo direito ao respeito e segurança. Viva a diversidad­e. Viva!

aparelho é de 1977, estimado em R$ 6 mil. A oficina parece um pequeno museu. Isso porque há clientes que levam aparelhos e nunca vão buscá-los. Como Jeremias e Geraldo não jogam fora nenhum deles, o acervo se avoluma – em quantidade de itens e também em história.

O clima no local é de confraria no fim da manhã de uma quarta-feira: quatro homens discutem marcas e qualidade de aparelhos sonoros. São todos habitués. Foram lá só para conversar sobre áudio. “É uma cachaça”, brinca Geraldo.

BUSCA PELA PERFEIÇÃO

A busca pela preservaçã­o, seja lá do que for, sempre formou grupinhos. Os de audiófilos, entusiasma­dos com a reprodução de som de alta fidelidade, estão entre os mais exigentes. Para parte deles, a reprodução de vinis em aparelhos analógicos seria mais fidedigna ao que o artista gostaria de passar.

Isso aconteceri­a, para os audiófilos, porque os sulcos existentes nos vinis, quando tocados por agulhas, captariam cada onda de som emitida na gravação em estúdio, revelando um conjunto quase sem perdas.

Há uma discussão extensa e sem consenso sobre o as

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EVANDRO VEIGA/ARQUIVO CORREIO* Foliões no bloco Os Mascarados, tradiciona­l por atrair um público que apoia a diversidad­e

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