Correio da Bahia

Paciência esgotada

Situação do ferry leva passageiro­s e funcionári­os ao limite; há até brigas

- Maysa Polcri e Marcos Felipe Soares REPORTAGEM redacao@correio24h­oras.com.br

A demora para pedestres e carros embarcarem no ferryboat já é conhecida e tão grande que, recentemen­te, a passagem de veículos pesados foi suspensa às vésperas de feriados, com exceção dos motoristas que carregam produtos perecíveis. No último domingo, o problema se agravou quando dois funcionári­os acabaram agredidos por passageiro­s que não puderam embarcar em Bom Despacho - a capacidade máxima tinha sido atingida.

Por causa dessas agressões, os trabalhado­res fizeram ontem uma manifestaç­ão, pedindo mais segurança no trabalho, o que paralisou o sistema por cerca de duas horas. As embarcaçõe­s das 7h e 8h não saíram de Salvador e também não houve viagem às 9h, saindo de Bom Despacho. Ou seja, mais demora e atrasos, ainda mais porque o sistema está operando, atualmente, com apenas três das sete embarcaçõe­s. Isso sem falar nas reclamaçõe­s sobre a falta de estrutura: infiltraçã­o, ferrugem, sujeira em excesso e até baratas.

Por parte dos funcionári­os, eles pedem que a Internacio­nal Travessias contrate, até o dia 15 de fevereiro, uma empresa de segurança para garantir a integridad­e dos trabalhado­res.

O comandante Reginaldo Zorante, um dos líderes do Sindicato dos Mestres de Cabotagem Arrais Regionais dos Estados Bahia e Sergipe (Sindmar-BA), revela ainda ameaças recebidas pelos funcionári­os. “Já estão tendo pânico de vir trabalhar. O cambista chega aqui, mostra a arma [aos atendentes nos guichês] e ainda diz: ‘Eu sei onde você mora e o ônibus que você vai pegar. Se você não me vender as passagens, eu te pego depois’”, relata.

Em nota, a Internacio­nal Travessias, que administra o ferryboat, informou que o sistema tem segurança própria nos terminais. “Ainda assim, devido ao número de pessoas em momentos de maior demanda, a empresa vem realizando esforços para ampliar a segurança nas áreas dos terminais, inclusive com solicitaçã­o formal junto à Polícia Militar, que nos atende, na medida das possibilid­ades, dentro da parceria existente”.

Já quem precisa utilizar o serviço fala até do estado precário das gavetas - estruturas para embarque e desembarqu­e. Uma delas está interditad­a desde um desabament­o em março de 2021, após a realização de uma obra no local. “A gente percebe que por onde os pedestres passam tem muitas peças folgadas e está precisando de reformas. É um caos atravessar a ilha de Itaparica para cá e muita gente deixa de vir por conta disso, inclusive eu”, diz a aposentada Eulália Galvão, 65, que tem duas filhas que moram em Salvador e até gostaria de vir mais à capital, mas evita devido às dificuldad­es do transporte.

Sobre a gaveta, Cledson de

Já estão tendo pânico de vir trabalhar. O cambista chega aqui, mostra a arma [aos atendentes] e ainda diz: ‘Eu sei onde você mora’ Reginaldo Zorante

Oliveira, presidente da Associação Municipal e Metropolit­ana de Pessoas com Deficiênci­a e membro do Conselho da Cidade de Itaparica, denuncia que o desabament­o ocorreu por conta de erros na obra realizada pelo consórcio Beng-Beop, formado pelas empresas Belov Engenharia e Belov Obras Portuárias.

“Hoje, só a gaveta B recebe os flutuantes, e a C, as embarcaçõe­s mais pesadas e antigas. Por ser só uma para os flutuantes, quando chega mais de uma embarcação, uma delas precisa ficar esperando à deriva, o que atrasa a viagem”, explica Cledson.

Em nota, a Belov Engenharia afirmou que não possui responsabi­lidade pelo incidente de 2021, uma vez que os serviços prestados no terminal foram finalizado­s antes.

Cledson de Oliveira, do Conselho de Itaparica, acredita que o governo do estado, apesar de saber dos problemas, decide não enfrentá-los, para que não seja feita concorrênc­ia com a ponte Salvador-Itaparica (confira abaixo o posicionam­ento da Agerba).

A Internacio­nal Travessias respondeu que realiza manutençõe­s e, sobre as gavetas, a ITS orientou que a reportagem procurasse a Seinfra estadual, que informou que finalizará em fevereiro os estudos para publicação do edital de recuperaçã­o das gavetas, o que englobará rampa de acesso e flutuantes.

Do Sindicato

A gente percebe que por onde os pedestres passam tem muitas peças folgadas e está precisando de reformas. É um caos a travessia Eulália Galvão

Usuária

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FOTOS DE ARISSON MARINHO 1 1 Usuários aguardam na fila e reclamam da espera para embarcar e da falta de estrutura 2 O funcionári­o Daniel Gonçalves machucou o braço ao ser agredido domingo
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