Paciência esgotada
Situação do ferry leva passageiros e funcionários ao limite; há até brigas
A demora para pedestres e carros embarcarem no ferryboat já é conhecida e tão grande que, recentemente, a passagem de veículos pesados foi suspensa às vésperas de feriados, com exceção dos motoristas que carregam produtos perecíveis. No último domingo, o problema se agravou quando dois funcionários acabaram agredidos por passageiros que não puderam embarcar em Bom Despacho - a capacidade máxima tinha sido atingida.
Por causa dessas agressões, os trabalhadores fizeram ontem uma manifestação, pedindo mais segurança no trabalho, o que paralisou o sistema por cerca de duas horas. As embarcações das 7h e 8h não saíram de Salvador e também não houve viagem às 9h, saindo de Bom Despacho. Ou seja, mais demora e atrasos, ainda mais porque o sistema está operando, atualmente, com apenas três das sete embarcações. Isso sem falar nas reclamações sobre a falta de estrutura: infiltração, ferrugem, sujeira em excesso e até baratas.
Por parte dos funcionários, eles pedem que a Internacional Travessias contrate, até o dia 15 de fevereiro, uma empresa de segurança para garantir a integridade dos trabalhadores.
O comandante Reginaldo Zorante, um dos líderes do Sindicato dos Mestres de Cabotagem Arrais Regionais dos Estados Bahia e Sergipe (Sindmar-BA), revela ainda ameaças recebidas pelos funcionários. “Já estão tendo pânico de vir trabalhar. O cambista chega aqui, mostra a arma [aos atendentes nos guichês] e ainda diz: ‘Eu sei onde você mora e o ônibus que você vai pegar. Se você não me vender as passagens, eu te pego depois’”, relata.
Em nota, a Internacional Travessias, que administra o ferryboat, informou que o sistema tem segurança própria nos terminais. “Ainda assim, devido ao número de pessoas em momentos de maior demanda, a empresa vem realizando esforços para ampliar a segurança nas áreas dos terminais, inclusive com solicitação formal junto à Polícia Militar, que nos atende, na medida das possibilidades, dentro da parceria existente”.
Já quem precisa utilizar o serviço fala até do estado precário das gavetas - estruturas para embarque e desembarque. Uma delas está interditada desde um desabamento em março de 2021, após a realização de uma obra no local. “A gente percebe que por onde os pedestres passam tem muitas peças folgadas e está precisando de reformas. É um caos atravessar a ilha de Itaparica para cá e muita gente deixa de vir por conta disso, inclusive eu”, diz a aposentada Eulália Galvão, 65, que tem duas filhas que moram em Salvador e até gostaria de vir mais à capital, mas evita devido às dificuldades do transporte.
Sobre a gaveta, Cledson de
Já estão tendo pânico de vir trabalhar. O cambista chega aqui, mostra a arma [aos atendentes] e ainda diz: ‘Eu sei onde você mora’ Reginaldo Zorante
Oliveira, presidente da Associação Municipal e Metropolitana de Pessoas com Deficiência e membro do Conselho da Cidade de Itaparica, denuncia que o desabamento ocorreu por conta de erros na obra realizada pelo consórcio Beng-Beop, formado pelas empresas Belov Engenharia e Belov Obras Portuárias.
“Hoje, só a gaveta B recebe os flutuantes, e a C, as embarcações mais pesadas e antigas. Por ser só uma para os flutuantes, quando chega mais de uma embarcação, uma delas precisa ficar esperando à deriva, o que atrasa a viagem”, explica Cledson.
Em nota, a Belov Engenharia afirmou que não possui responsabilidade pelo incidente de 2021, uma vez que os serviços prestados no terminal foram finalizados antes.
Cledson de Oliveira, do Conselho de Itaparica, acredita que o governo do estado, apesar de saber dos problemas, decide não enfrentá-los, para que não seja feita concorrência com a ponte Salvador-Itaparica (confira abaixo o posicionamento da Agerba).
A Internacional Travessias respondeu que realiza manutenções e, sobre as gavetas, a ITS orientou que a reportagem procurasse a Seinfra estadual, que informou que finalizará em fevereiro os estudos para publicação do edital de recuperação das gavetas, o que englobará rampa de acesso e flutuantes.
Do Sindicato
A gente percebe que por onde os pedestres passam tem muitas peças folgadas e está precisando de reformas. É um caos a travessia Eulália Galvão
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