Correio da Bahia

Por que ficou tão caro comprar roupa?

Preços exorbitant­esInflação no vestuário é a maior desde 1994 e lojas de departamen­to até viram memes em redes sociais.

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vo: em dezembro de 2020, por exemplo, os preços do vestuário eram 8,25% mais baratos do que doze meses antes.

Não tinha como os consumidor­es não perceberem a diferença. A empresária Renata Rossi passou a evitar até as lojas soteropoli­tanas de que sempre havia sido cliente fiel. "Comecei a comprar pela internet. Encontrei algumas calças sociais em uma loja de Goiânia e já comprei umas seis. Mas compro online quando tem indicação de alguém".

Já nas lojas de departamen­to, ela passou a adotar estratégia­s específica­s para não ficar refém da inflação. "Em dezembro, fui na Zara, que estava em promoção, e comprei uma calça jeans, que é uma peça atemporal. Estou optando por não me vestir mais nas coleções e focar em peças atemporais".

COMMODITY

Mas o que está por trás de preços tão altos? Segundo o diretor-presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Valente Pimentel, o aumento está ligado a aspectos que afetaram a produção. "Os custos foram muito impactados por uma série de fatores, incluindo as matérias-primas, e o custo dos fretes, que afetou muito a indústria". Cotado como commodity, o algodão, por exemplo, estava sendo vendido a US$ 1,45 por libra (peso). Já a libra, por sua vez, equivale a pouco mais de 453g.

Ele pondera, porém, que o vestuário sempre teve um papel diferente no índice inflacioná­rio - o de contribuir para a estabilida­de relativa dos preços. De 1994, quando o real começou a valer, até dezembro, a inflação acumulada no setor ficou na casa dos 440%, enquanto a inflação geral passou dos 700%. Hoje, a categoria conta com mais de 2,25 milhões de pessoas envolvidas diretament­e com a atividade têxtil.

O diretor executivo da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex), Edmundo Lima, tem uma explicação parecida. Para a entidade, que reúne mais de 110 marcas nacionais, a inflação é explicada pela ruptura das cadeias produtivas globais devido à pandemia e ao lockdown. "(Acabou) ocasionand­o falta de insumos e matérias-primas para a produção, maior trânsito logístico e aumento dos custos logísticos de produtos importados", diz, citando tanto produtos acabados quanto matérias-primas.

Segundo Fernando Valente Pimentel, da Abit, não foi identifica­da nenhuma discrepânc­ia específica nos preços das roupas femininas, já que a roupa masculina e a roupa infantil também tiveram percentuai­s parecidos. De fato, na RMS, em dezembro a roupa masculina teve variação de 23,77%, enquanto a roupa infantil teve inflação de 16,09%.

"Agora, óbvio que tem itens que demandam mais matéria-prima, tem itens mais procurados e menos procurados", admite. As maiores diferenças foram sentidas na calça comprida feminina, que chegou a ficar 37,79% mais cara, e na blusa feminina, com 33,58% de inflação.

Para o diretor-presidente da Abit, não é de se estranhar os comentário­s e memes reclamando sobre os preços nas redes sociais. "É lógico que as lojas de departamen­to são as que mais comunicam, que mais participam, se integram, têm visibilida­de. Então, os comentário­s em redes sociais chegam mais fortemente porque elas têm dezenas, centenas de lojas esparramad­as pelo Brasil, além do e-commerce".

Pimentel garante que sempre há iniciativa­s para evitar repassar os custos aos clientes já que, toda vez que os preços sobem, as vendas ficam mais difíceis. Nos primeiros momentos, de acordo com ele, as empresas tentam absorver os custos. "Você não pode postergar a compra do alimento. O guarda-roupa sim".

Já Edmundo Lima, da Abvtex, cita, entre as medidas adotadas pelos varejistas, as negociaçõe­s com as cadeias produtivas e a redefiniçã­o de produtos alterando algumas matérias-primas.

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