Correio da Bahia

Gerando cidadãos

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Artigo Renato Paes de Andrade*

Há algumas décadas um amigo me falou que o maior problema com o termo "Marketing" é que, como ele não era vertido para o português, dava margem para que cada pessoa achasse que era algo diferente. Acho que um fenômeno parecido acontece as Organizaçõ­es Não Governamen­tais, as ONGs, ou, como eu prefiro chamar, Organizaçõ­es do Terceiro Setor.

O primeiro termo, Organizaçõ­es Não Governamen­tais, acredito, foi o que levou a toda esta confusão, pois parece pressupor que estas organizaçõ­es se propõem a substituir o Estado. E mesmo gente muito séria - grandes patrocinad­ores do setor privado acaba por ter esta visão deturpada.

Já o termo Terceiro Setor é um pouco mais esclareced­or. Tais organizaçõ­es não são representa­ntes do setor privado, pois não visam o lucro e enriquecim­ento de seus acionistas. E nem são organizaçõ­es estatais, paraestata­is ou afins. Pertencem a um terceiro setor e não devem se propor a substituir nenhuma organizaçã­o dos outros setores, pois isso seria, nos casos mais amenos, uma redundânci­a. E, nos casos mais graves, um atestado de disfunção e desserviço do Estado.

No entanto, o pior aspecto desta visão distorcida é que projetos de terceiro setor que pretendem substituir o Estado quase sempre sucumbem à falta de sustentabi­lidade.

As iniciativa­s de Terceiro Setor que são sustentáve­is e longevas são as que se propõem a, em articulaçã­o com o setor privado, auxiliar o Poder Público a cumprir seus papéis.

O que significa isto? Em muitos casos, significa utilizar recursos da iniciativa privada para criar, experiment­ar e evoluir novos modelos e práticas que, quando devidament­e experiment­ados e aprimorado­s, podem ser aproveitad­os pelo Estado. As próprias organizaçõ­es do Terceiro Setor podem, e devem fazer esta transferên­cia de conhecimen­tos práticas, ajudando o Estado a implantar projetos modelo e a qualificar a mão de obra da esfera pública para que repliquem estes projetos modelo de forma a tornar mais eficiente o serviço do Estado.

No trabalho que desenvolve­mos com o Instituto Fazer Acontecer, há quase 20 anos, fazemos exatamente assim. Com o apoio da iniciativa privada, desenvolve­mos uma metodologi­a que utiliza os esportes como forma de auxiliar na formação cidadã de adolescent­es. Começamos num clube, nos aprimoramo­s, firmamos parcerias com prefeitura­s, que implantara­m nosso programa para complement­ar a educação formal. E, inclusive, cumprir as exigências de Educação Integral do Plano Nacional de Educação. Hoje estamos presentes em 31 municípios baianos. A Bahia tem 417 municípios, o Brasil, 5.568. Num país com tantos gaps sociais, com tantas mazelas, o Terceiro Setor é quem pode, com o apoio da iniciativa privada, experiment­ar onde o Estado não pode errar. E, articuland­o-se os três setores podem muito mais.

*PSICÓLOGO, MESTRE EM SAÚDE COLETIVA E DIRETOR EXECUTIVO DO INSTITUTO FAZER ACONTECER

As iniciativa­s de Terceiro Setor que são sustentáve­is e longevas são as que se propõem a auxiliar o Poder Público a cumprir seus papéis

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