Bahia tem mais de 5 sequestros por semana
Foram 243 registros em 2022. Influencers estão entre alvos preferenciais dos bandidos, diz polícia
Basta a noite cair para que as terríveis lembranças venham à tona. “A partir das 5 horas da tarde, eu não presto para mais nada, porque começa a bater aquele medo, aquela aflição, porque foi o horário que tudo aconteceu”, descreveu a influenciadora digital Luma Montargil, 19 anos, moradora da cidade de Camamu, no Baixo Sul do estado.
A jovem passou quase 22 horas em poder dos criminosos em janeiro deste ano e só foi libertada do cativeiro após a família pagar o resgate. Mas ela não foi a única vítima desse tipo de crime na Bahia. Em 2022, 243 pessoas foram sequestradas no estado – uma média de 5,5 ocorrências por semana.
Os dados são da Polícia Civil e foram obtidos pelo CORREIO com exclusividade. Entre os casos registrados no período de janeiro a novembro do ano passado, 88 foram de extorsão mediante sequestro e 155 relacionados a sequestro relâmpago. “Tive muito medo de não voltar para casa, de não encontrar mais os meus pais, minha família, meus amigos, e em todos os momentos eu pedia a Deus para que me tirasse dali. Eles não tentaram nada comigo. Só queriam o dinheiro”, declarou a influenciadora digital, que tem mais de 48 mil seguidores no Instagram.
Os casos relacionados a sequestros relâmpago (crime no qual uma vítima, geralmente sequestrada em seu próprio veículo, é mantida por um curto espaço de tempo sob controle de criminosos) são, na maioria, apurados pelas delegacias de bairro. Já as ocorrências com extorsão mediante sequestro, que é quando o ato é realizado com o fim de obter qualquer vantagem como condição ou preço do resgate, devido à sua complexidade, são apuradas pela Coordenação de Repressão a Extorsão Mediante Sequestro, do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco).
O sequestro de Luma Montargil é um dos casos que está sendo apurado pela coordenação. No dia 19 de janeiro, a influenciadora tinha acabado de guardar o carro na garagem de casa e, na porta de um mercadinho, foi surpreendida pelos bandidos. “Eu só vi dois, mas o pessoal disse que foram quatro”, contou.
Ela foi levada para um cativeiro, onde ficou com o rosto coberto e pés e mãos amarrados. O reencontro dela com a família foi no dia seguinte, após negociação. Ela acha que estava sendo observada. “Eu trabalho com a internet desde o início da pandemia e eu era uma pessoa que postava as coisas que comprava com o meu próprio dinheiro. Infelizmente, as pessoas usam isso para saber como está a sua vida e acho que eles estavam me acompanhando pela internet”, disse a jovem, que decidiu temporariamente fazer algumas alterações no perfil.
EXTORSÃO
Segundo o responsável pelo grupo anti-sequestro, delegado Adailton Adan, grande parte dos casos de extorsão mediante rapto (88) tem relação com o tráfico de drogas, que passou desempenhar outras atividades ilícitas. “A polícia vem aumentando a quantidade de drogas e armas apreendidas e isso fez com que os traficantes migrassem para o roubo a banco, de veículos e os sequestros, o que elevou o número das ocorrências. Porém, 94% das ações foram elucidadas”, afirmou Adan.
Ainda de acordo com ele, das 88 ocorrências investigadas pela coordenação, apenas uma tinha as características clássicas de uma extorsão mediante sequestro, ou seja, havia quadrilha formada com a real finalidade de sequestrar. “Os participantes tinham função determinada para a prática delituosa. Havia pessoas específicas para o levantamento das informações da vítima, outros responsáveis pela abordagem”, cita o delegado.
Ele relatou que, há duas semanas, um empresário chegava para trabalhar, quando foi abordado por dois homens no bairro do IAPI.