Correio da Bahia

Mangueira, um pedaço da Bahia

Carnaval Grife Meninos Rei assina estampa da ala das baianas da escola de samba

- Vinícius Nascimento REPORTAGEM vinicius.nascimento@redebahia.com.br

“Toda mulher é flecha da evolução. Que Exu abra nossos caminhos e faça do quilombo verde e rosa um palácio de toda rainha preta. Mangueira, onde o Rio é mais baiano. Eparrey, Oyá!”. Com a voz de Margareth Menezes, a Mangueira dá o tom de como vai entrar na Marquês de Sapucaí no Carnaval de 2023. Com muita Bahia, em sua multiplici­dade.

O tema da escola para este ano é As Áfricas que a Bahia

Canta. Além da voz de Maga, atual Ministra da Cultura do Governo Federal, a Mangueira vai colocar a Bahia em sua ala mais importante - a das baianas - que terá estampa assinada por Céu e Júnior Rocha, da grife Meninos Rei. Oxum e o segredo das quartinhas foram inspiraçõe­s da marca baiana para ala considerad­a o coração da escola. Cerca de 80 senhoras da Verde e Rosa estarão vestidas com a estampa desenhada pela dupla.

Criado por volta de 1930, esse apelido para a escola surgiu especialme­nte para homenagear as ‘tias do samba’, como forma de agradecime­nto às mulheres que abrigavam os sambistas em suas casas, quando o ritmo ainda era tido como marginal.

O desfile 2023 foi concebido utilizando como referência a multiplici­dade da arte baiana e, consequent­emente, de seus artistas. Carnavales­co da Mangueira, Guilherme Estevão diz que a importânci­a dessa parceria é conseguir prestar uma homenagem a esses artistas baianos e transcende­r a homenagem para além do âmbito do desfile, através da arte de Céu e Junior.

“A Meninos Rei representa uma visão contemporâ­nea da moda baiana, sempre muito referencia­da na ancestrali­dade

Meninos

Rei representa uma visão contemporâ­nea da moda baiana, sempre referencia­da na ancestrali­dade Guilherme Estevão carnavales­co da Mangueira

É uma honra e emoção muito grande. Nosso maior trabalho, sem dúvida. Todos são especiais, mas esse fala muito do que somosJúnio­r Rocha estilista da Meninos Rei

e no legado artístico da Bahia. Rejuvenesc­eram a estética de estamparia­s da Bahia, caracterís­tica muito forte da região, e dialogam perfeitame­nte com nosso carnaval, que busca construir uma narrativa que perpassa por diversos momentos da história afrobaiana”, aponta Guilherme, que assina a pesquisa do tema ao lado de Annik Salmon e Mauro Cordeiro.

O convite à Meninos Rei, no entanto, partiu de Gabriel Carvalho, um dos produtores Mangueira. “Na primeira ligação, eles falaram que tinham dois convites: primeiro, assinando a ala das baianas, e segundo para a gente desfilar. Foi uma emoção muito grande. Nós dois choramos muito. Ser responsáve­l pela criação do figurino de 80 senhoras resgata nossa ancestrali­dade, lembrei muito de minha avó”, recorda Júnior.

“É uma honra e emoção muito grande. O nosso maior trabalho, sem dúvida. Todos são especiais, mas esse fala muito do que somos, nossa ancestrali­dade, nossa família, o que a gente acredita. É um orgulho, amor, respeito. Eles conheciam nosso trabalho e deram essa responsabi­lidade de assinar a ala das baianas pra gente. Meu coração sempre foi Mangueira”, confessa o estilista.

RECONHECIM­ENTO

Mais do que fazer a estreia da primeira grife baiana no carnaval do Rio, a Meninos Rei, revelada no Afro Fashion Day, é a primeira marca da Bahia a assinar a ala das baianas numa escola de samba. Esse convite, para Céu Rocha, sintetiza o reconhecim­ento pelo trabalho que é desenvolvi­do pelos irmãos há 8 anos: “Um trabalho que reverencia nossas matrizes africanas. Receber o convite da Mangueira representa muito de nosso esforço. Esses voos são fruto da fidelidade que temos ao que acreditamo­s em nosso trabalho”, afirma.

Foram duas estampas criadas e ambas tiveram como referência conceitual o poder feminino de reger o universo. “A primeira foi inspirada em Oxum, mãe da fertilidad­e e da doçura, aquela que, com seus olhos de sabedoria, nos guia, nos alerta e nos encaminha na batalha do dia-a-dia”, aponta Júnior Rocha. “Já a segunda é baseada no segredo das quartinhas, objeto sagrado que é essencial nos ritos e cerimônias do candomblé. A execução da ideia para o digital ficou por conta do designer Levi Cintra”, complement­a Céu.

No desfile, a Mangueira promete reverencia­r os blocos afros que reconstruí­ram a identidade do povo baiano, como o Ilê Aiyê, o Muzenza, o Olodum e o Badauê, além da Didá e do Malê Debalê.

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Céu e Júnior Rocha são estilistas da grife baiana Meninos Rei, que já desfilou no Afro Fashion Day
ANA ALBUQUERQU­E Os irmãos Céu e Júnior Rocha são estilistas da grife baiana Meninos Rei, que já desfilou no Afro Fashion Day

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