Hacker tentou grampear Moraes
Delgatti relata conversa com Zambelli e Bolsonaro, e também com funcionário da TIM
Revelação feita pelo site da revista Veja ontem coloca duas novas peças no intrincado tabuleiro que se formou em torno de um suposto plano para gravar conversas ilegalmente do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes com o objetivo de anular as eleições presidenciais de outubro último. São eles a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e o hacker Walter Delgatti Neto, a quem é atribuído o vazamento de conversas da conta de Sérgio Moro no Telegram e que determinou a anulação da operação da Lava Jato ao demonstrar a parcialidade do ex-juiz. A dupla se junta ao senador Marcos do Val (Podemos–ES), ao ex-deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) e ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Segundo a revista, em setembro de 2022, três meses antes de Jair Bolsonaro e o ex-deputado Daniel Silveira se reunirem com o senador Marcos do Val (Podemos-ES) para propor um plano de gravar o ministro Alexandre de Moraes - como revelou a própria Veja na última quinta foi plantada a semente do grampeamento ilegal do ministro do STF. O objetivo seria flagrar Moraes em qualquer diálogo que pudesse pôr em xeque a sua parcialidade como juiz e presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e invalidar as eleições.
Como mostrou a revista em uma edição de agosto de 2022, no dia 10 daquele mês Bolsonaro recebeu no Palácio da Alvorada, fora da agenda oficial, o hacker Walter Delgatti Neto. A aproximação entre Delgatti e Bolsonaro foi intermediada pela deputada Carla Zambelli (PL-SP). Na ocasião, Delgatti, Bolsonaro e
Zambelli conversaram no Alvorada sobre supostas fragilidades das urnas eletrônicas.
Na primeira quinzena de setembro, Delgatti teria sido acionado por Zambelli para uma nova conversa que, como ele descobriria, seria com o próprio presidente. “Eu encontrei a outra (Zambelli) e ela levou um celular, abriu o celular novo, colocou um chip, aí ela cadastrou o chip e ele (Bolsonaro) telefonou no chip. Foi por chamada normal”, relatou Delgatti segundo descrição da Veja.
Nessa conversa, Bolsonaro teria proposto a Delgatti que ele assumisse a autoria de um grampeamento ilegal de Moraes. “Eles precisam de alguém para apresentar (os grampos) e depois eles garantiram que limpam a barra”, confidenciou Delgatti. Nos relatos que fez, o hacker se referia ao então presidente como Zero Um. “Ele (Bolsonaro) falou: ‘A sua missão é assumir isso daqui. Só, porque depois o resto é com nós’. Eu falei beleza. Aí ele falou: ‘E depois disso você tem o céu’”, diz ele em áudio publicado no site da revista.
Na suposta conversa com o hacker, Bolsonaro teria dito que já haviam conseguido interceptar mensagens internas trocadas entre Moraes e servidores da Justiça, nas quais o magistrado estaria discorrendo sobre supostas vulnerabilidades das urnas e uma preferência pelo candidato Lula. Esse ponto deveria ser explorado na imprensa para alegar a suspeição do ministro e tirá-lo da condução do processo eleitoral. O hacker topou de imediato a oferta e ficou de prontidão.
À mesma época, enquanto não chegavam a ele novas informações, Delgatti procurou um funcionário da TIM e ofereceu a ele dinheiro para que ajudasse no grampeamento ilegal do ministro, fornecendo um chip com o mesmo número do usado por Moraes. A conversa entre o hacker e o funcionário da telefônica foi gravada sem o conhecimento de Delgatti. Nela, o hacker insinuou ao interlocutor que havia mais pessoas por trás da operação. O funcionário da TIM não aceitou participar da trama.
Em 26 de setembro, ao tomar conhecimento do plano envolvendo o hacker e o Palácio do Planalto, a reportagem de VEJA registrou no 1º Ofício de Notas e Protesto de Brasília um documento que narrava a suposta articulação para grampear Moraes e fazer o hacker assumir a autoria do crime — embora grave, não havia provas sobre a história para tornar o caso público.
Procurados por VEJA para comentar a operação hacker, Bolsonaro não foi localizado e Zambelli não retornou os pedidos de entrevista.