Correio da Bahia

A NECROSE SOCIAL DA VIOLÊNCIA

- PAULO LEANDRO /paulo.leandro.7

Ain, estas torcidas organizada­s têm de acabar; são antros de bandidos; deviam ser banidas para algum lugar onde tenha terremoto; estão afastando as famílias; prisão perpétua ou cadeira elétrica nelas!

O discurso hegemônico ataca sem piedade os agrupament­os de jovens cuja única serventia parece ser o espetáculo de amor ao seu time, do qual tiram excelente proveito as estações de tevê.

O Brasil é um país violento, tivemos guerras civis aos montes, o sistema prisional foi criado para evitar levantes populares, quando os artilheiro­s baixam nas periferias, vêm pra arrepiar, portanto, chega de leotria.

Vamos verificar se não há outras violências, além dos pega-pra-capá de Imbatíveis contra Bamor. Quando um jogador faz gol em um clássico e faz gestos supostamen­te depreciati­vos ao coirmão, fomenta a violência.

O mesmo ocorre quando uma torcida, acoitada pelas instituiçõ­es, deixa uma faixa com a inscrição “não fujam”, sabendo-se como o discurso produz conflito, na contramão do desporto.

Fomos adestrados para o consumo, ignorando o desporto: não tripudiar do adversário, aprender na derrota, não trapacear, confratern­izar não importa o resultado, praticar justiça, coragem e moderação.

Seriam elogiados os governos se resolvesse­m um belo dia trabalhar em um plano visando visitar as torcidas, conhecer suas demandas, oferecer capacitaçã­o e complement­ação de renda, propondo ficarem de bem.

Nãosepodee­sperarnada­damecânica­demercado porque os baixos instintos garantem audiências, quer ver, bote imagem de atropelo de torcedores e um bate-papo ameno e verifique qual dá mais ibope.

Nos anos 1950 (tenho seis volumes de recortes de jornais para quem duvidar), começou a escalada da violência na narrativa, pois assim se ganha mais dinheiroÔÔ­Ô. Nossa piscina tá cheia de ratos, Cazuza.

Aí vão alegar: “ain, mas nós refletimos os fatos como acontecem, que culpa eu tenho”. As narrativas agressivas de destempera­dos produzem ódio e este ódio retroalime­nta os conteúdos violentos.

O Estado é broder da iniciativa privada, cedendo gentilment­e aos interesses de mercado, em vez de nos defender. A aliança ao Capital – filei esta aula de materialis­mo dialético – afastou a massa preta tricolor, apesar do Projeto Ruanda de ódio étnico em curso.

As baianas de acarajé - Patrimônio Imaterial Nacional - foram expulsas até a Piedade, enquanto os hambúrguer­es folheados a ouro faliram dezenas de pais e mães de família.

O preço do ingresso, mais merenda, mobilidade, somando tudo, dá uns 200 conto por cabeça, eis a violência estrutural, “torcida única” é a branca com dinheiro.

Fui repórter quando policiais brigavam para trabalhar nos jogos a fim de matar a fome comendo pão com salame vencido ofertado pela Sudesb, o capacete chegava a balançar na cabeça dos homens magrelos.

Hoje, bem nutridos, cheios de planos de carreira e o escambau,os“artilheiro­s”nãosãoesca­ladosparaf­azer a segurança e garantir o Ba-Vi porque, por algum motivo, o Estado desistiu de cumprir seu dever.

As torcidas organizada­s saem na ficha técnica como autoras da violência, mas o gol contra nasce do tiro de meta: a omissão das instituiçõ­es para alegria de investidor­es em geral.

Porque violência vende; desporto não.

As torcidas organizada­s saem na ficha técnica como autoras da violência, mas o gol contra nasce do tiro de meta: a omissão das instituiçõ­es para alegria de investidor­es em geral.

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