A NECROSE SOCIAL DA VIOLÊNCIA
Ain, estas torcidas organizadas têm de acabar; são antros de bandidos; deviam ser banidas para algum lugar onde tenha terremoto; estão afastando as famílias; prisão perpétua ou cadeira elétrica nelas!
O discurso hegemônico ataca sem piedade os agrupamentos de jovens cuja única serventia parece ser o espetáculo de amor ao seu time, do qual tiram excelente proveito as estações de tevê.
O Brasil é um país violento, tivemos guerras civis aos montes, o sistema prisional foi criado para evitar levantes populares, quando os artilheiros baixam nas periferias, vêm pra arrepiar, portanto, chega de leotria.
Vamos verificar se não há outras violências, além dos pega-pra-capá de Imbatíveis contra Bamor. Quando um jogador faz gol em um clássico e faz gestos supostamente depreciativos ao coirmão, fomenta a violência.
O mesmo ocorre quando uma torcida, acoitada pelas instituições, deixa uma faixa com a inscrição “não fujam”, sabendo-se como o discurso produz conflito, na contramão do desporto.
Fomos adestrados para o consumo, ignorando o desporto: não tripudiar do adversário, aprender na derrota, não trapacear, confraternizar não importa o resultado, praticar justiça, coragem e moderação.
Seriam elogiados os governos se resolvessem um belo dia trabalhar em um plano visando visitar as torcidas, conhecer suas demandas, oferecer capacitação e complementação de renda, propondo ficarem de bem.
Nãosepodeesperarnadadamecânicademercado porque os baixos instintos garantem audiências, quer ver, bote imagem de atropelo de torcedores e um bate-papo ameno e verifique qual dá mais ibope.
Nos anos 1950 (tenho seis volumes de recortes de jornais para quem duvidar), começou a escalada da violência na narrativa, pois assim se ganha mais dinheiroÔÔÔ. Nossa piscina tá cheia de ratos, Cazuza.
Aí vão alegar: “ain, mas nós refletimos os fatos como acontecem, que culpa eu tenho”. As narrativas agressivas de destemperados produzem ódio e este ódio retroalimenta os conteúdos violentos.
O Estado é broder da iniciativa privada, cedendo gentilmente aos interesses de mercado, em vez de nos defender. A aliança ao Capital – filei esta aula de materialismo dialético – afastou a massa preta tricolor, apesar do Projeto Ruanda de ódio étnico em curso.
As baianas de acarajé - Patrimônio Imaterial Nacional - foram expulsas até a Piedade, enquanto os hambúrgueres folheados a ouro faliram dezenas de pais e mães de família.
O preço do ingresso, mais merenda, mobilidade, somando tudo, dá uns 200 conto por cabeça, eis a violência estrutural, “torcida única” é a branca com dinheiro.
Fui repórter quando policiais brigavam para trabalhar nos jogos a fim de matar a fome comendo pão com salame vencido ofertado pela Sudesb, o capacete chegava a balançar na cabeça dos homens magrelos.
Hoje, bem nutridos, cheios de planos de carreira e o escambau,os“artilheiros”nãosãoescaladosparafazer a segurança e garantir o Ba-Vi porque, por algum motivo, o Estado desistiu de cumprir seu dever.
As torcidas organizadas saem na ficha técnica como autoras da violência, mas o gol contra nasce do tiro de meta: a omissão das instituições para alegria de investidores em geral.
Porque violência vende; desporto não.
As torcidas organizadas saem na ficha técnica como autoras da violência, mas o gol contra nasce do tiro de meta: a omissão das instituições para alegria de investidores em geral.