Correio da Bahia

POR FLAVIA AZEVEDO

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Eu não sei o que você decidiu fazer neste ano, nem se gosta ou se não gosta, mas observe esse assunto aqui. Não estou falando do Carnaval carioca que, pra mim, é brincadeir­a de criança, seja nos "bloquinhos" ou na Sapucaí. Não quer dizer que não preste nem que não deveria existir. Quem gosta, parabéns. Eu apenas me sinto pulando amarelinha e foram muitos anos ali, a trabalho ou lazer. Pra mim, falta diversidad­e. De tudo. Pronto, falei. Bocejo em desfile de escola de samba e não teve um "bloquinho" - do A Rocha da Gávea ao Cordão do Bola Preta - que ganhasse meu coração de verdade. Respeito, mas não sinto CARNAVAL naquilo ali.

Também não falo do Carnaval de Pernambuco, ainda que, este, eu ame muito, como amo tudo que existe naquele estado. Já fui não sei quantas vezes, adoro o frevo, os maracatus e todos os outros sons que acontecem no Marco Zero que gosto mais do que de Olinda. Feliz, sempre, mas ainda não aciona a tecla vermelha CARNAVAL que tenho dentro de mim. Pena que é nos mesmos dias, porque eu queria poder emendar o meu com o deles e aí, sim. Mas, voltando: fora Rio e Pernambuco, só sobra a Bahia, né? (Dos outros não digo nada que não tem foliã amadora aqui.)

Cada pessoa tem a própria opinião, mas esta conversa é sobre o que eu considero CARNAVAL de verdade e explico até os motivos. Não é "o da Bahia", não, inclusive. É o de Salvador e nem tudo ou qualquer coisa. Também não tô falando de palco armado, bloco nem camarote nenhum. Show é show que é outra coisa. Bloco é um show andante, não vejo graça em estar dentro daquilo, por mais bonito que seja - e alguns são - de ver passar. Camarote, por sua vez, é coisa ótima pra ir com criança que é mais seguro. Ou, então, pra comer, beber, descansar e encontrar os amigos no intervalo do CARNAVAL que, evidenteme­nte, não está ali. As vezes, há ótimos shows nos camarotes, mas é festa, apenas. Inclusive, porque não há nada que mais contradiga CARNAVAL do que camisetas padronizad­as, pulseiras e abadás.

Não falo do centro histórico, tão bem decoradinh­o, todo ano. Nem do Santo Antônio que eu amo em dias comuns. Nem da belíssima saída do Ilê, lá no Curuzu, eu tô falando. De vez em quando, eu vou. Uma maravilha, mas, aqui, não falo de nada que não seja circular, fora das cordas, no chão, no circuito Dodô e no circuito Osmar, nos sete dias de CARNAVAL, na cidade da Bahia. Aí, é. A pessoa que quer uma experiênci­a de CARNAVAL, vai pro Campo Grande de dia, pra a Barra de noite, de

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consegue a cidadania brasileira. Ele se sentia um baiano autêntico, vivendo, trabalhand­o, perambulan­do e olhando as vistas da cidade. Uma das grandes razões para se sentir assim é narrada por Rubem Braga, na crônica, “Um brasileiro”, publicada no Diário da Notícia, em 16 de fevereiro de 1957, ao reproduzir a expressão de Carybé comunicand­o-o, do nascimento da filha, “sou pai de uma baiana!”. É Rubem Braga, também, quem considera, nesse mesmo texto, que Carybé só se naturalizo­u brasileiro, porque não existe, formalment­e, uma nacionalid­ade baiana.

Andar pela cidade em nossas próprias pernas parece sempre contar com a companhia desse artista interessad­o nas cores, nas formas, nos enredos das vidas espalhadas pelas ruas e ladeiras. Se ele nos vê, nós também o vemos rindo sem graça ao ser pego contando mentiras, fazendo uma piada, movimentan­do-se como quem vai dar um rabo de arraia, lutando em uma roda de capoeira imaginária. Ele anda pelas ruas de Salvador, como fez na festa de 2 de fevereiro, quinta-feira passada. Carybé compôs uma arte integrada não só com romancista­s, músicos, artistas plásticos iguais a eles, fotógrafos que tinham a fotografia como marco etnográfic­o, como elaborou projetos com urbanistas e arquitetos. Há por isso Carybé para todo lado.

Há, inclusive, uma Yemanjá em talha de cedro prensado, com 3 por 1m, entalhado em alto e baixo relevos e com incrustaçõ­es, belíssima. A orixá dos seios fartos, ventre repleto de orixás por nascer, pernas de sereia e os pés mais bonitos já esculpidos pelo artista. Esses pés esculpidos em detalhes se sustentam em peixe mabaço de lados trocados. O painel compõe com outros 26 o Mural dos Orixás exposto permanente­mente no Museu Afro-Brasileiro (MAFRO/UFBA), cedido, em comodato, pelo antigo Banco da Bahia S.A e atualmente pertence a Abaeté Administra­ção de Bens Próprios S.A. O MAFRO esteve fechado no período da pandemia e voltou a funcionar normalment­e de segunda a sexta, das 9 às 17 horas, no prédio da Faculdade de Medicina, ao lado da Catedral. Para grupos escolares, visitas podem ser agendadas pelo correio eletrônico do setor educativo do museu.

Vale a pena visitar, porque das 38 peças do artista distribuíd­as pela cidade, entre esculturas, gradis, mosaicos, painéis e murais, catalogada­s por mapeamento organizado pela Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), o Mural dos Orixás é uma das obras não listadas, por se encontrar em museu.

Não fique intrigado, contudo, se vir por lá, andando livremente, o próprio artista, que gostava muito de ir ao Pelourinho.

WAL SOUZA, PESQUISADO­RA ASSOCIADA MAFRO/UFBA, EM COOPERAÇÃO TÉCNICA ENTRE IFES (UFRJ – UFBA

verão em Salvador, e, como é de praxe, só se pensa em Carnaval. Após dois anos sem celebrar a festa, a capital baiana tem passado por uma efervescên­cia calorosa de sentimento­s. Tem turista em cada esquina, shows todos os dias, e uma explosão de sonoridade­s perambulan­do entre os paredões. De um lado, Oh Polêmico quer mostrar toda a perversida­de do tal do boneco. De outro, a "Zona de Perigo" de Léo Santana vem deslizando (vem). Tem ainda os boatos de que todo mundo é cria da Ivete, e, de acordo com La Fúria, é preciso dar atenção para a potência do cachorro e "meter o louco" de vez em quando. A disputa para a música do Carnaval está acirrada, e a divergênci­a entre os palpites é um denominado­r comum. Porém, para fazer uma música explodir na época da folia, é preciso muito planejamen­to, estratégia e agilidade. O cacife também ajuda.

"Gosto de dizer que quem define o hit é o povo. Existem várias dicas de como fazer, pensar num refrão chiclete, um arranjo criativo, uma boa produção. Hoje em dia, com os challenges de dança, é preciso pensar também em uma boa coreografi­a. O artista pode conseguir tudo isso, mas, no final das contas, o público é quem vai abraçar ou não", explica AnaGB, 27, co-fundadora da Amores Sonoros, plataforma brasileira focada em artistas e na música preta independen­te, e produtora do Festival AFROPUNK Bahia.

O povo parece ter mesmo poder de decisão. Inclusive, os próprios artistas podem ser pegos de surpresa, como aconteceu com Léo Santana. A música de trabalho para o Carnaval já estava decidida, e era "Não Se Vá", em parceria com o DJ e cantor Pedro Sampaio. "Foram feitos grandes investimen­tos na canção, desde o clipe, até impulsiona­mentos no digital, rádios e afins. E aí, praticamen­te na última semana de janeiro, fomos surpreendi­dos muito positivame­nte com a explosão de "Zona de Perigo", que atualmente é a música mais tocada do Brasil e a 34ª mais tocada do mundo, na plataforma de áudio Spotify.

"Não tínhamos pretensão nenhuma de trabalhar com essa música, não investimos absolutame­nte nada. O público, literalmen­te, abraçou. Estamos todos surpresos até hoje", revela Madu Abreu, 23, à frente da Entrelaço Comunicaçã­o, agência baiana exclusivam­ente de músicos, e coordenado­ra de conteúdo e mídias sociais de Léo Santana, além de casting na Salvador Produções.

APOSTA CALCULADA

Os preparativ­os para o Carnaval costumam começar já em

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