POR KÁTIA NAJARA
A carne de carnaval treme de êxtase. E tanto que, reza a lenda, a pessoa fica tão distraída pra morte que não tem churrasco de carne literalmente verde que a acometa. A pessoa foliã é uma pessoa blindada por todos os santos, encantos e axé. Massa re-al. Oh, glória!
Por isso, chame gente! Chame, que o churrasquinho de gato - esse hit de carnaval – tá na promoção! Com farofa e piriguete schin a 5 reáu. Eu disse 5 reáu! Agora, francamente, abra o seu coração para comer gato e cachorro por lebre no Carnaval.
Começa pelo nome de batismo que veio de um fato publicado pelo Jornal do Brasil em 1960 do primeiro ambulante desmascarado ao vender espetinho de gato na Central do Brasil. De lá para cá foram tantos outros bê-ós que a gente começou a abstrair e operar daquele jeitão no modo fé. Mas muita gente deve se lembrar daquela família de Guarapari surpreendida por uma batida da polícia onde foram encontrados mais de 50 cachorros em estado lastimável que viravam linguiça vendida todo sábado na feira. E a gente nem precisa ir tão longe, porque qualquer soteropolitana/o com mais de 45 anos deve se lembrar da literal cachorrada de um certo restaurante chinês – que também serviu um Yakisoba premiado com uma barata inteira num prato de um amigo meu – nos idos dos 1990.
Agora pare para pensar, se estamos sujeitos a comer carne de gato, cachorro e barata (que não fazem parte da nossa cultura) em restaurante, o que dizer das ruas em pleno Carnaval?
Porque veja bem, há toda sorte de trabalhadoras/res tentando matar um troco na maior festa do planeta desde a pequena Eva. De cozinheiras supercuidadosas, a pessoas em situação de rua que descolam uma lata e fazem uma brasa ali mesmo, mora? Arrastando uma penca de filhos pequenos dormindo num pedaço de colchão pra tudo se acabar na quarta-feira. Será que essa pessoa pode pagar 26 pilas para comprar um quilo de músculo ou é mais fácil matar cachorro a grito ou comprar de quem mata?
Até porque no Brasil, creia, até onde eu sei não há lei que impeça o abate de cães e gatos para alimentação, contanto que o abatedouro seja licenciado – um assunto delicado flanando ali no limbo do Ministério da Agricultura. Ainda mais com uma comunidade crescente de chineses e coreanos em cujas culturas é natural o consumo de animais como estes. Como garantir que o recheio do pastel não late?
que, essa semana, quase foi impedido de participar de um evento Geek/Gamer que ocorrerá no Shopping Barra, com desfile de cosplays (pessoas vestidas de super-heróis ou personagens de jogos).
O Poderoso Dinho, defendido pelo próprio mestre dos Guardiões Salvadores, foi inicialmente impedido de participar do desfile, no que o nosso herói considerou uma atitude discriminatória, preconceituosa. “Eu me inscrevi, preenchi os formulários com meus super-heróis, que são todos registrados, só que um dos rapazes lá da organização me mandou mensagem dizendo que eu não podia participar. Que era um herói criado por fã, ou seja, que não existe, feito de forma amadora. Só que eu falei com ele que aquilo estava errado, porque o meu herói é registrado, documentado, tem ficha catalográfica. Aí ele disse 'não, mas você é o criador'. Aí eu falei: 'tudo bem, eu sou o criador, mas o que é que tem a ver? Quer dizer que se Stan Lee quisesse participar de Homem-Aranha de um evento, ele não poderia?'”
O questionamento surtiu efeito, e o Poderoso Dinho vai desfilar neste domingo, no Shopping Barra. “Estavam fazendo uma coisa que não era adequada para o meio de super-herói, que é excluir pessoas. Nós também temos super-heróis, e a minha batalha é essa: mostrar que o Brasil também tem super-heróis. Não é só os EUA. A gente não pode só dar valor aos super-heróis dos outros”, defende.
HERÓIS DE VERDADE
Desde 2008, Elianderson dá aulas gratuitas de Taekwondo para crianças e adolescentes do Subúrbio. Atualmente, são mais de 50 alunos na escolinha que fica na própria Rua Eduardo Dotto, número 52.
Embora a vida do Poderoso Dinho não seja das mais fáceis, como é possível notar em suas múltiplas habilidades para conseguir vencer as batalhas da vida – além de professor de artes marciais, editor e roteirista de HQs, é youtuber, gamer profissional e panfletista de uma loja –, sua nobre missão de criar heróis de verdade têm dado ainda mais certo que na ficção.
Da sua trupe de alunos de Taekwondo com superpoderes já saíram a campeã baiana (e heroína de HQ) Tesouro do Céu, 18 anos, e o campeão estadual Guilherme Mendes, 15; os campeões brasileiros Gabriel Nunes, 22, e Maurílio Karataca, 20, além do campeão sulamericano Marcelo Vieira, que teve um empurrãozinho para conseguir o feito, com providencial ajuda do mestre. “É um atleta especial, que teve afundamento de crânio. Ele falou que não dava pra treinar e eu disse: ‘eu te torno um campeão’”. Fez muito mais: tornaram-se heróis invencíveis.