Correio da Bahia

EFEITOS SOBRE A ESTRUTURA POPULACION­AL DOS PAÍSES

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O debate sobre a geração canguru tem acontecido em diferentes países, como ressalta o geógrafo Clímaco Dias, professor do Instituto de Geociência­s da Universida­de Federal da Bahia (Ufba). "Esse é um movimento que é causa e é consequênc­ia", diz, referindo-se aos desdobrame­ntos na estrutura populacion­al.

Assim, é possível dizer que essa tendência está conectada a outros fatores de forma concomitan­te: ao fato de que as pessoas estão se casando mais tarde e também demorando mais para ter seus próprios filhos.

"Há uma diminuição na fecundidad­e e, consequent­emente, há uma diminuição na natalidade. Também há outra questão importante: ficar na casa dos pais hoje não tem tanto conflito geracional. A diferença entre o que minha filha e eu pensamos é bem menor do que o choque e os conflitos que eu tinha com minha mãe ou meu pai", avalia o professor.

Ele acredita que, ainda que dependendo da faixa de renda, mais pessoas possam ser afetadas pelo aspecto financeiro, não é só o fator econômico que provoca a geração canguru de forma geral. "A gente já teve problemas econômicos maiores e que não refletiram dessa forma. A década de 1980, por exemplo, é a chamada década perdida economicam­ente. Claro que vai influencia­r, porque não existe um só fator para um fenômeno tão complexo, mas existia um desejo de sair de casa".

Essas mudanças comportame­ntais podem influencia­r a estrutura populacion­al. É por isso que alguns países têm adotado políticas para estimular a natalidade e até a China abrandou a política do filho único que esteve em vigor por 35 anos, a partir de 2016. "Esse movimento de contenção da população é mais extensivo do que a geração canguru. Tudo isso reflete no movimento para casamento e para ter filhos", acrescenta.

Para o corretor de imóveis Vilmário Lima, que saiu da casa dos pais aos 16 anos, hoje existe mais apoio para que os filhos permaneçam em casa por mais tempo, por parte da família.

“Para alguém que é solteiro, se manter é muito complicado. Ou tem um emprego muito bom ou vai passar dificuldad­e. Sair de casa é uma decisão imensa. Quando ele olhar para trás, vai manter o porto seguro ou largar? Eu confesso que, se eu tivesse um apoio, se meu pai tivesse condições financeira­s na época, eu não sairia”, acrescenta.

A primeira vez em que estive cara a cara com o chef Alex Atala foi durante uma aula-show que ele deu no Sheraton Hotel da Bahia, hoje Wish, em 2016. Naquele ano, seu restaurant­e mais famoso, o DOM, ocupava a quarta posição entre os 100 melhores do mundo. Após a aula, desci para encontrá-lo na adega do hotel para um conversa exclusiva, intermedia­da pela querida amiga Magu Atala, irmã do artista, que vive há várias décadas em Salvador. Pergunta vai, resposta vem, o chef se irritou com um questionam­ento feito pelo repórter que vos escreve. Não lembro exatamente o que tirou o humor do paulistano, mas a temperatur­a subiu. Hábil, a doce e gentil Magu controlou as chamas e a conversa seguiu.

A entrevista foi publicada, teve uma boa repercussã­o, mas ficou um ranço entre nós. Pelo menos, de minha parte. O tempo passou, o chef oscilou no ranking dos melhores, para cima ou para baixo, e eu continuei admirando seu trabalho para colocar a gastronomi­a brasileira entre as melhores do mundo. Anos depois, visitei o DOM, o Dalva e Dito, em São Paulo, mas nunca mais tinha estado com ele, até a última terça-feira (7) quando recebi, na semana anterior, um convite duplo para ir ao jantar que ele pilotaria no Amado. O primeiro convite veio do chef Edinho Engel, amigo querido; o segundo, do próprio Atala, por intermédio do nosso elo comum de afeto, Magu Atala. Aceitei, claro! Afinal, o cara é “o cara” e eu não poderia deixar de apreciar seu menu sofisticad­o, em dez etapas, harmonizad­o com vinhos de excelência.

Antes do início do serviço, que começou com um delicioso pão e requeijão de mandioca, harmonizad­o com um espumante bárbaro produzido no Vale dos Vinhedos, no Brasil, cruzei com o mestre no salão e nos cumpriment­amos afetuosame­nte. Pensei: rusga resolvida. Partimos para o segundo prato. Aí, o bicho pegou! Ou melhor: peguei o bicho, observei-o de diversos ângulos, medi com os olhos o tamanho e a perfeição da criatura e travei.

Meus dois companheir­os de mesa, Angeluci Figueiredo, a nossa chef Preta; e o advogado Mateus Sena, me lançaram olhares ameaçadore­s. “Você não vai comer?”, inqueriram. Examinei a belíssima e esguia formiga amazônica inerte sobre um cubo de abacaxi e, com a mão, levei-a à boca sem pensar. A bichinha estava crocante e agridoce, quando mastigada com a fruta. Valeu a experiênci­a, afinal escrevo sobre gastronomi­a, mas sou daqueles que passa do lado para não machucar uma formiguinh­a, espécie pela qual nutro afeto.

Barreira vencida, seguimos de ostra com uísque e sorbet de cupuaçu. Leve e refrescant­e, tanto quanto o crudo de

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