Colocando o sonho em ação
Edital Natura Musical aposta em cinco novos projetos baianos e no veterano Gabi Guedes
Se, por um lado, o edital Natura Musical investe no reconhecimento de artistas já consagrados - como já aconteceu, por exemplo, com Mateus Aleluia e acontece neste ano, com Gabi Guedes -, por outro, o prêmio também tem os olhos atentos para as novas gerações de artistas, como mostra o resultado da edição 2023, divulgado ontem.
Na Bahia, a cantora Melly, 22 anos, que tem apenas um EP no currículo, foi uma das contempladas. Outra que ainda dá os primeiros passos na carreira, embora já tenha um disco lançado, é Sued Nunes, da mesma idade .
“Este é o momento em que a gente alicerça, com toda estrutura necessária, a construção de um projeto. O sonho na ação é mais bonito, não basta apenas o mundo imaginário pra mim, artista preta, baiana do interior e de axé”, festejou Sued após o resultado.
Natural do Recôncavo, Sued Nunes lança em 2023 seu segundo disco, que transitará entre ritmos como R&B e afropop, misturado a beats e elementos sintéticos, aliando o ancestral e o afrofuturismo. Já Melly tem influências do R&B, jazz, blues e soul. Mas há também presença de ritmos marcantes da Bahia, como samba-reggae, trap e pagodão.
Além das duas cantoras e do percussionista Gabi Guedes, foram premiados dois festivais Frequências
Preciosas e Festival da Diversidade - e a orquestra feminina DecoloniSate. Todos os seis projetos citados concorreram em um edital à parte, destinado exclusivamente à Bahia, que recebe um investimento de R$ 1 milhão.
Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Pará também têm editais próprios, do mesmo valor. Esses três estados e a Bahia têm essa distinção porque têm centros de distribuição da Natura. “Por isso, é possível ter recursos incentivados, por meio da dedução de impostos (ICMS). Nós já atuamos há mais de dez anos nesses estados e criamos uma relação afetiva com as cenas locais”, afirma Fernanda Paiva, Head of Global Cultural Branding da Natura. Há ainda uma categoria nacional, de R$ 2 milhões, em que artistas de qualquer estado podem concorrer.
Uma das curadoras que representou a Bahia no processo de seleção foi Monique Lemos, que é antropóloga, pesquisadora e empresária. “Os artistas e projetos selecionados contam as histórias dos corpos e dos sonhos de cada curador. Poder construir de forma coletiva e afetiva métricas diversas e proporcionais para as aprovações do edital tornou a experiência um grande aprendizado”, destaca a curadora. Da Bahia, também aturam na curadoria os produtores musicais Chico Correa e Ubunto.
DIVERSIDADE
Embora não existam no edital cotas para promover objetivamente a diversidade, é notável que existe essa preocupação na seleção, como explica Fernanda Paiva: “Esse é um trabalho contínuo. A cada ano renovamos nossos critérios, categorias e processo de curadoria para deixar as nossas escolhas mais intencionais. Metade da cesta [de contemplados] é de projetos realizados por mulheres; 60% são de artistas negros, além de artistas LGBTQIA+, indígenas de diversas cenas”, pontua.
Neste ano, foi incluída uma nova categoria: Música Brasileira na América Latina, que patrocina artistas que desejam expandir suas conexões com a cena cultural latinoamericana. A premiada foi a cantora Brisa Flow, que fará uma turnê com passagens pelo México, Chile e Bolívia. “Ela é uma cantora ameríndia, pesquisadora e que mistura rap com elementos eletrônicos e de raízes originárias. É uma boa representação do tipo de diálogo que queremos fomentar”, detalha Fernanda.
Éum edital espe rado e por termos uma pluralidade de artistas incríveis espalhados pelo Brasil, estou feliz por ser uma das selecionadas em meio a tantos projetos bons. A felicidade e a responsa bilidade da entrega é proporcional Sued Nunes Cantora