Paz na euforia do reencontro
Muito antes da abertura oficial da folia na tarde de ontem, Salvador já transpirava a olhos vistos o frenesi gerado pela expectativa de saciar a longa saudade daquele que o Guiness Book eternizou com o título de maior Carnaval de rua do mundo. Afinal, a atmosfera de epifania, diante de dois anos de ausência, era efeito natural em uma cidade onde a festa é a materialização do amálgama humano que a torna única e tão especial. Para que o reencontro valha realmente a pena e alimente boas recordações quando a Quarta-Feira de Cinzas pulverizar a euforia, é preciso esforço coletivo.
Aos foliões, protagonistas principais do reinado de Momo, cabe um papel crucial na retomada, que é adotar a paz como mantra nos circuitos. Com a demanda reprimida legada pela pandemia, é óbvio ruas e avenidas vão estar lotadas como há tempos não se via. Tensões e apertos sempre existiram e jamais desaparecerão do começo ao final da odisseia terrestre de seis dias. Mas nunca se deve esquecer que nessa cidade todo mundo é de Oxum, filho de Ghandy, Dodô e Osmar.
Ao Poder Público, compete a missão de fazer com que a festa transcorra com a menor quantidade possível de sobressaltos e problemas. A prevenção e o combate à violência são imprescindíveis, mas ganharão outro contorno sem os recorrentes episódios de excesso no trabalho policial durante a folia. Contudo, a tarefa que não recai apenas sobre os ombros dos milhares de agentes das forças de segurança destacados para evitar que o sangue manche o colorido carnavalesco.
É importante que os órgãos municipais e estaduais diretamente envolvidos na operação da festa cuidem para que os serviços públicos essenciais funcionem como devem. O que inclui oferecer saúde, limpeza e transporte adequados e cuidar para que o resto da cidade fora da rota da folia funcione com número reduzido de impactos. Feito isso, o Carnaval vai passar, a pé ou de caminhão, enchendo de alegria a praça e o poeta.