QUANDO O SONHO GANHA A AVENIDA
“Percebi o quanto era difícil encontrar um namorado que aceitasse meu amor pelo Carnaval e que também amasse aquilo”, relembra. Como os melhores encontros acontecem quando a gente menos espera, depois de passar os dias de festa nove anos seguidos sem namorar, conheceu o suiço Marcel Wüst, em São Paulo.
Os preparativos para a próxima folia já estavam em andamento quando convidou o paquera, que não tinha ideia da loucura que era o Carnaval, para conhecer a festa. Na varanda do hotel em que estavam hospedados, tinham vista privilegiada como um camarote particular. Quando Marcel reparou no trio de apoio que seguia o principal, teve uma ideia.
“Ele disse que seria muito legal fazer nossa festa de casamento lá em cima, a ideia foi plantada na minha mente e, pronto, achei o homem da minha vida”, se declara.
Até que o sonho fosse devidamente realizado, com direito a abadá e vestido de noiva, foram quatro longos anos. Depois de muita insistência com diversos artistas, o casal conseguiu o aval de Durval Lelys para que a cerimônia fosse realizada no carro de apoio durante a concentração do bloco Me Abraça, na segunda-feira de Carnaval. Foram 11 convidados da Suíça, 15 do Brasil e dois da Romênia. Uma juíza de paz foi a responsável por declarar Érika e Marcel casados.
“Lembro a alegria que os foliões expressavam, nos dando parabéns e querendo tirar fotos. Eu me sentia realizando um pouco do sonho de cada um deles”, conta.
Juan Carlos Rodríguez, venezuelano que mora há 7 anos na capital baiana, não esquece como foi fotografar o casamento mais inusitado de sua carreira. “No início eu nem acreditei que aquilo aconteceria porque era muito louco. Até falei com a noiva para ela não procurar mais ninguém que eu faria até de graça”.
O casal segue juntos e mora em Singapura. Érika conta que eles têm planos de voltar para Salvador no Carnaval de 2025 e reunir todos que participaram da cerimônia, inclusive Juan Carlos.
Na avenida, também rolam os pedidos. Depois de seis anos de namoro, quem vê o relacionamento de um casal de longe pode até pensar que uma das partes está sendo enrolada. É naquele momento que família e amigos começam a questionar se o casamento vai sair.
A servidora pública Lara Tupinambá, 33, e o companheiro Danillo Caldas, 38, já conversavam sobre uma união no papel, mas nada estava devidamente programado quando ele decidiu fazer o pedido
em meio à folia no Pelourinho.
A escolha do momento não poderia ser diferente. Desde o início do namoro, em 2010, o casal curte o Carnaval e passa por todos os perrengues do período. Até o primeiro beijo entre eles aconteceu em meio a muvuca do Morro do Gato, na Barra.
Quando Danillo decidiu fazer o pedido, aproveitou que a família dos dois e amigos estavam reunidos na segunda de Carnaval, em 2016. Ao tirar as alianças do bolso e se declarar para a amada, causou um verdadeiro alvoroço. “Eu fiquei muito surpresa porque foi no meio de todo mundo mesmo.”, lembra.
IDENTIFICAÇÃO
Em O Menino Grapiúna, Jorge Amado escreve que o sonho é o maior e mais inalienável direito dos seres humanos. Peço licença ao autor e adiciono mais uma característica. Os sonhos são a mais pura expressão da individualidade de cada um. Há alguns anos, a professora Joselice Souza, 44, talvez nem tivesse noção do desejo profundo que sentia de ter orgulho do seu próprio corpo.
Aí entra o bloco afro Ilê Aiyê, que ajudou a professora, uma mulher negra, a se identificar com seus traços e se conectar com sua ancestralidade. Tudo começou quando ela entrou em contato
Foi depois do Carnaval de 2020 que tudo mudou. Em poucos dias após a Quarta-feira de Cinzas, baianas e baianos estariam confinados e aprendendo a lidar com as primeiras notícias da covid-19 no estado. Dali em diante, nada foi como antes por muito tempo. Depois de dois anos sem festa, porém, a folia momesca está de volta num contexto novo: em meio a uma pandemia.
É, porque, oficialmente, apesar do que muita gente possa achar, a crise de saúde ainda não acabou. O “fim” só poderá ser decretado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) – a mesma entidade que declarou que o coronavírus era uma emergência sanitária global há três anos. Mas já há outras infecções virais circulando por aí. Da Influenza à mononucleose (doença do beijo), passando por outros velhos conhecidos que sempre aparecem, como rinovírus (resfriado), parainfluenza, enterovírus (gastrointestinal) e outros tantos, o Carnaval traz novas incógnitas.
Se sempre há uma virose pós-carnaval, é possível que você esteja se perguntando o quanto ela pode ser preocupante em um contexto epidemiológico com a presença do coronavírus. Ainda que os casos venham apresentando queda nos últimos dias, há pelo menos 231 pessoas com o vírus da covid-19 ativo no estado, de acordo com o boletim semanal da Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab), atualizado na última terça-feira (14).
Poderão surgir novas variantes Sars-cov-2 após a festa? Quais são os riscos de novas ondas, tanto da covid-19 quanto de outros vírus? De acordo com todos os cientistas e profissionais de saúde ouvidos pela reportagem, o risco sempre vai existir. No entanto, ainda que não dê para prever tudo com total certeza, os prognósticos não são dos piores.
“Normalmente, esse período de Carnaval tem uma concentração muito grande de pessoas na rua. São pessoas que estão muito próximas e
de ter doença”, enfatiza.
ETIQUETA RESPIRATÓRIA
Quem vai ao Carnaval deve ter consciência desses riscos – que podem existir em maior ou menor grau. Mas seria possível falar em reduzir os riscos? Para Vânia, é possível recorrer a uma chamada “etiqueta respiratória”. Um dos itens básicos disso é a própria vacinação, que deve ser feita o quanto antes. Ainda que uma vacina possa demorar até quinze dias para efetivamente proteger alguém, é importante lembrar que a virose pós-Carnaval circula justamente dias ou semanas após a folia.
“E se as pessoas estiverem com sintomas, devem evitar ir, pela possibilidade de transmitir o vírus para outras pessoas, principalmente em trios. Mesmo em ambientes abertos, se estão com sintomas, o ideal é que fiquem em casa aguardando a melhoria deles”.
O nível de adoecimento de alguém vai depender muito da imunidade de cada um. “Por isso, é importante manter bons hábitos alimentares no período e muita hidratação para não ter baixa imunidade. Isso favorece o aparecimento de viroses oportunistas que