Correio da Bahia

DE GRAÇA SEMPRE É MAIS GOSTOSO

- Maysa Polcri* REPORTAGEM maysa.polcri@redebahia.com.br

"Léo Santana, já passou?" "Vamos voltar que eu quero ver Ivete." "Bell tá lá na frente". Para um folião pipoca, frases como essas são ouvidas a todo momento no Carnaval de Salvador. Quem vai para a rua sem pagar por bloco ou camarote ganha passe livre para curtir as atrações que quiser e de qualquer lugar. No retorno da maior festa de rua do planeta, houve espaço para todos os gostos nos trios sem corda e um encerramen­to especial nessa terça-feira (21), no Campo Grande.

Já no primeiro dia de festa, a programaçã­o deu o tom de como seria a semana que ali começava: a pipoca estava no topo. Ivete Sangalo foi a primeira a se apresentar em um trio sem cordas, que formou uma multidão histórica na Barra. Artistas de peso como Xanddy Harmonia, Claudia Leitte, Léo Santana e Alok deram continuida­de às apresentaç­ões gratuitas.

No último dia oficial, o Circuito Osmar foi o grande palco para os foliões que escolhem aproveitar a festa sem pagar. Teve opção para todos os gostos: de Saulo a Psirico, passando por Daniela Mercury, Lincoln e Olodum. Havia ainda a expectativ­a que Veveta se apresentas­se no circuito, mas conflitos na agenda da cantora adiaram os planos para 2024.

PIONEIROS

Nem por isso quem esteve no Campo Grande se abalou. A animação à tarde foi tanta que a sensação era de que o Carnaval

tinha acabado de começar. O dia foi singular ao ponto de Durval Lelys, tradiciona­l puxador de bloco, comandar sua primeira pipoca desde que saiu em carreira solo, em 2014. A data também marcou o reencontro dele com a Avenida, já que há 20 anos ele só se apresentav­a na orla.

“Era um sonho meu estar aqui hoje com vocês e eu estou tão feliz que não vou falar muito. Quero mesmo é cantar e ‘botar’ para ferver”, disse assim que o trio começou a avançar no Campo Grande.

E se tem atração de graça, o povo chega. Seja pela diversidad­e, economia ou segurança, não há trio que ande desacompan­hado. No caso do professor de Educação Física Davi Souza, 30 anos, ir às ruas sem abadá é sempre a melhor pedida.

As opções que o folião da pipoca têm de curtir quantos trios quiser é o seu verdadeiro encanto. “No bloco, você acaba ficando preso horas ,acompanhan­do um artista só, enquanto na pipoca você vai e volta. Acaba vendo muito mais atrações”, disse ele, que seguiu a pipoca de Saulo no Centro.

O cantor foi, inclusive, um dos pioneiros no movimento de abaixar as cordas no Carnaval. No último dia da festa, em 2011, Saulo, que na época era vocalista da Banda Eva, realizou o feito histórico de puxar uma pipoca e deu o pontapé inicial.“Aideiajáer­aumaquebra­dora de paredes desde que nasceu. E vi que era tão simples quando aconteceu”, disse em uma entrevista ao CORREIO.

‘CAMAROTES’ NA PIPOCA

Até alguns famosos já se renderam à pipoca. O ator Tiago Abravanel esteve com o marido Fernando Poli na pipoca de Saulo. Antes disso, na abertura do Carnaval, a atriz Bruna Marquezine, o influencia­dor Carlinhos Maia e o cantor João Gomes desceram do trio de Ivete e sentiram o calor do povo mais de perto.

Hoje, vários artistas enxergam que não há mais espaço para subir cordas e separar o público. A BaianaSyst­em é uma das atrações que segue firme com seu trio independen­te, o Navio Pirata. Foliões pipoca dizem se sentir mais seguros quando não há divisórias. Para eles, o empurra-empurra dos cordeiros para fazer o bloco andar é mais suscetível a confusões.

DIVERSIDAD­E

Se tem espaço para quem está disposto a passar aperto atrás de vários trios, o Carnaval de Salvador prova mais uma vez que é democrátic­o. Afinal, há lugar também para quem curte ficar parado e acompanhar os trios só com os olhos mesmo.

A aposentada Isabel Leal, 70, foi a única da família que teve pique para levar a neta Juliana Galvão, 11, para aproveitar o último dia. A dupla conseguiu uma carona da Liberdade, onde moram, até o Campo Grande e escolheram ficar próximo das emissoras de TV para pegar o início das apresentaç­ões.

De sábado até terça, Isabel frequentou o circuito e, quando não arranja espaço no carro de algum vizinho, vai de ônibus mesmo. “Eu amo Carnaval e sempre gostei da pipoca. Hoje em dia não consigo mais acompanhar os trios, mas não deixo de vir para assistir”, contou. Em média, ela passou oito horas em pé em cada um dos quatro dias que foi até o circuito.

Mas não é só baiano que se derrete por uma pipoca. A turista Françoise Fonseca, 47, é do Espírito Santo e veio pela primeira vez para curtir nosso Carnaval. Com a carteirinh­a de foliã carimbada, se encantou pelos trios sem corda, apesar do aperto caracterís­tico de multidões. Em um dos dias ela foi para um camarote em Ondina, mas não esconde o apreço pelas ruas. “Eu achei tudo muito tranquilo. Conheço o Carnaval de outras capitais, mas o daqui é realmente o melhor”, classifico­u.

*COM ORIENTAÇÃO DE MONIQUE LÔBO.

No bloco, você acaba ficando preso horas, acompanhan­do um artista só, enquanto na pipoca você vai e volta. Acaba vendo muito mais Davi Souza, professor de Educação Física

Eu amo Carnaval e sempre gostei da pipoca. Hoje em dia não consigo mais acompanhar os trios, mas não deixo de vir para assistir Isabel Leal, aposentada que levou neta pra folia

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MARINA SILVA

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