DEZ MOMENTOS QUE MUDARAM O RUMO DA FOLIA
Quando ganhou as ruas da cidade, o Carnaval de Salvador se resumia ao Centro (Rua Chile) e a elite local tentava tomar para si o papel de ditar o que podia e o que não. Era fim do século 19 e o propósito de limitar a liberdade dos foliões - sobretudo pretos e pobres -, aos moldes higienistas europeus, não deu muito certo: o Carnaval rompeu a fronteira dos clubes, inverteu a ordem urbana e levou diversidade por novos circuitos.
O Carnaval, com esse nome, aconteceu pela primeira vez em Salvador em 1884. Antes, chamava-se Entrudo, festa com brincadeiras, importada do Sul da França. Só naquele ano um clube soteropolitano, o Cruz Vermelha, botou um carro alegórico na rua e a manifestação recebeu o nome de Carnaval.
Desde então, caíram por terra as tentativas de conter o Carnaval. Em 1950, a invenção do trio elétrico revoluciona a sonoridade da folia. E o Axé Music, inventado 30 anos depois, transforma o tamanho da festa - exportado para o Brasil, o Axé virou sinônimo de Carnaval e passou a atrair milhões de turistas para a cidade no fim de fevereiro.
Nos anos 1980, mais dois movimentos transformadores para a festa: a criação do circuito Dodô (Barra) e a transferência da organização do Carnaval do Governo da Bahia para a Prefeitura de Salvador. A gerente de Carnaval da Empresa Salvador Turismo, Merina Aragão, lembra que, nessa época, as estruturas eram tão deficitárias e o Carnaval tão menor em tecnologia que os "praticáveis dançavam" conforme a altura do som.
"O Centro da cidade vai voltar com um outro formato, mas com o seu vigor e sua força de ser o Carnaval mais tradicional da Bahia. A tendência do bloco sem corda, do folião pipoca, é forte e cada vez mais os artistas querem sair sem estrutura de bloco normal", vislumbra Merina Aragão para o futuro.
O futuro ainda aponta para um Carnaval mais espraiado pela cidade. Nesta edição, ao menos oito bairros receberam shows de artistas. E o circuito Barra-Ondina migrará para a Boca do Rio? O presidente da Saltur, Isaac Edington, afirma que, por ora, a proposta está arquiva, o que não exclui a possibilidade.
O CORREIO listou dez momentos que sintetizam e explicam a transformação do Carnaval ao longo dos anos: das festas de clubes aos blocos com corda, da manifestação popular ao negócio de cifras gigantes, dos blocos afros aos camarotes privados. É para lembrar o passado e vislumbrar o que vem.
1985
foi o ano em que Luiz Caldas lançou o disco Magia, precursor da Axé Music
Desde a última quinta-feira, os hotéis de Salvador registram uma ocupação média de 95%, com os estabelecimentos instalados próximos aos circuitos do Carnaval alcançando a marca dos 100%. Mas não foi apenas a quantidade de pessoas nos estabelecimentos que aumentou, a rentabilidade também cresceu. Nos últimos 10 dias, o setor faturou o correspondente a 11% do esperado para todo o ano, estima Luciano Lopes, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis na Bahia (ABIH-BA).
Numa cidade que tem na economia criativa a sua principal fonte de renda, a movimentação de visitantes nos meios de hospedagem é apenas um dos termômetros de que a maior festa de rua do mundo retornou com todo o seu potencial. A quantidade de pessoas transportadas para os locais de festa cresceu 30% na comparação com o mesmo período de 2020, último carnaval antes da pandemia, de acordo com dados da Prefeitura de Salvador.
O Carnaval gera uma exposição de mídia muito grande, têm muita gente assistindo Luciano Lopes, presidente da ABIH-Ba e diretor da Prima Empreendimentos
Levando-se em conta apenas as pessoas que fizeram uso do transporte público regulado pelo Município, foram quase 400 mil pessoas em um único dia, sem se levar em conta as milhares que fizeram uso do transporte por aplicativo, carro próprio ou simplesmente estavam perto o suficiente para ir a pé.
A expectativa era de uma movimentação econômica de R$ 2,4 bilhões na economia baiana com a festa, de acordo com projeção da Fecomércio-Ba. A entidade projeta que o destaque vai se dar para as atividades turísticas, que devem responder por R$ 1,39 bilhão deste total, com gastos nas mais diversas estruturas.
O presidente da ABIH-BA, Luciano Lopes, explica que o período do Carnaval tem um duplo efeito positivo para as atividades relacionadas ao Turismo. Além dos hotéis absolutamente lotados, o valor das tarifas é maior, o que eleva a rentabilidade dos estabelecimentos. “Para se ter ideia, os últimos 10 dias representam 11% do faturamento anual do setor”, conta. Além disso, complementa, a exposição que a cidade recebe durante a festa cria
Voltou o Carnaval no imaginário no imaginário das pessoas. Estava todo mundo ávido por curtir e se divertir Silvio Pessoa, presidente da Fehba
uma expectativa para novos visitantes.
Embora ainda não tenha dados setoriais consolidados, Luciano Lopes comemora uma retomada do mercado internacional na festa. “Ficamos quase três anos com restrições e agora já percebemos o retorno de turistas estrangeiros. A gente já percebe este aumento no fluxo, basta olhar os lobbys dos hotéis”.
Além de beneficiar os estabelecimentos hoteleiros próximos ao circuito, o Carnaval também movimentou aqueles mais distantes, complementa Luciano Lopes. Ele cita como exemplo, as opções de hospedagem da Prima Empreendimentos, onde ele é diretor, em Baixio, na Costa dos Coqueiros. “Nós estamos com 100% de ocupação por lá. Carnaval é um ponto fora da curva, atrai quem gosta da festa, mas também tem o turista que não gosta e procura um lugar para descansar”, explica.
“Voltou o carnaval no imaginário no imaginário das pessoas. Estava todo mundo ávido por curtir e se divertir. Isso é muito bom porque este período é o nosso 13º salário”, destaca Silvio Pessoa, presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (Fehba). “Os bares e restaurantes estão lotados, tem muita gente sendo contratada como extra. O turismo mobiliza mais de 50 atividades. Somos os maiores empregadores no estado depois do agro e representamos 25% do PIB (Produto Interno Bruto) de nossa cidade”, destaca o dirigente.
O Grupo Leceres, que fez a aquisição, recentemente da GJP Hotels & Resorts, teve média de ocupação de 87% no Carnaval, nos 10 hotéis da rede. No Wish Hotel da Bahia, especificamente, a ocupação no período foi de 94%.
A diária média em Salvador teve um crescimento de 90% em relação ao Carnaval de 2020, o maior da rede, superando Rio de Janeiro (58%) e Natal (52%).
Na unidade da capital baiana, uma das mais bem localizadas para quem curte a festa, os hóspedes foram recebidos no check-in com welcome drinks, fanfarra e pintura corporal, e puderam aproveitar DJ na piscina, quiosque com espetinhos, acarajés, picolés e drinks de quinta a terça. O hotel também disponibilizou customização de abadás, venda de acessórios e outras facilidades.