Correio da Bahia

DEZ MOMENTOS QUE MUDARAM O RUMO DA FOLIA

- Fernanda Santana REPORTAGEM fernanda.santana@redebahia.com.br

Quando ganhou as ruas da cidade, o Carnaval de Salvador se resumia ao Centro (Rua Chile) e a elite local tentava tomar para si o papel de ditar o que podia e o que não. Era fim do século 19 e o propósito de limitar a liberdade dos foliões - sobretudo pretos e pobres -, aos moldes higienista­s europeus, não deu muito certo: o Carnaval rompeu a fronteira dos clubes, inverteu a ordem urbana e levou diversidad­e por novos circuitos.

O Carnaval, com esse nome, aconteceu pela primeira vez em Salvador em 1884. Antes, chamava-se Entrudo, festa com brincadeir­as, importada do Sul da França. Só naquele ano um clube soteropoli­tano, o Cruz Vermelha, botou um carro alegórico na rua e a manifestaç­ão recebeu o nome de Carnaval.

Desde então, caíram por terra as tentativas de conter o Carnaval. Em 1950, a invenção do trio elétrico revolucion­a a sonoridade da folia. E o Axé Music, inventado 30 anos depois, transforma o tamanho da festa - exportado para o Brasil, o Axé virou sinônimo de Carnaval e passou a atrair milhões de turistas para a cidade no fim de fevereiro.

Nos anos 1980, mais dois movimentos transforma­dores para a festa: a criação do circuito Dodô (Barra) e a transferên­cia da organizaçã­o do Carnaval do Governo da Bahia para a Prefeitura de Salvador. A gerente de Carnaval da Empresa Salvador Turismo, Merina Aragão, lembra que, nessa época, as estruturas eram tão deficitári­as e o Carnaval tão menor em tecnologia que os "praticávei­s dançavam" conforme a altura do som.

"O Centro da cidade vai voltar com um outro formato, mas com o seu vigor e sua força de ser o Carnaval mais tradiciona­l da Bahia. A tendência do bloco sem corda, do folião pipoca, é forte e cada vez mais os artistas querem sair sem estrutura de bloco normal", vislumbra Merina Aragão para o futuro.

O futuro ainda aponta para um Carnaval mais espraiado pela cidade. Nesta edição, ao menos oito bairros receberam shows de artistas. E o circuito Barra-Ondina migrará para a Boca do Rio? O presidente da Saltur, Isaac Edington, afirma que, por ora, a proposta está arquiva, o que não exclui a possibilid­ade.

O CORREIO listou dez momentos que sintetizam e explicam a transforma­ção do Carnaval ao longo dos anos: das festas de clubes aos blocos com corda, da manifestaç­ão popular ao negócio de cifras gigantes, dos blocos afros aos camarotes privados. É para lembrar o passado e vislumbrar o que vem.

1985

foi o ano em que Luiz Caldas lançou o disco Magia, precursor da Axé Music

Desde a última quinta-feira, os hotéis de Salvador registram uma ocupação média de 95%, com os estabeleci­mentos instalados próximos aos circuitos do Carnaval alcançando a marca dos 100%. Mas não foi apenas a quantidade de pessoas nos estabeleci­mentos que aumentou, a rentabilid­ade também cresceu. Nos últimos 10 dias, o setor faturou o correspond­ente a 11% do esperado para todo o ano, estima Luciano Lopes, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis na Bahia (ABIH-BA).

Numa cidade que tem na economia criativa a sua principal fonte de renda, a movimentaç­ão de visitantes nos meios de hospedagem é apenas um dos termômetro­s de que a maior festa de rua do mundo retornou com todo o seu potencial. A quantidade de pessoas transporta­das para os locais de festa cresceu 30% na comparação com o mesmo período de 2020, último carnaval antes da pandemia, de acordo com dados da Prefeitura de Salvador.

O Carnaval gera uma exposição de mídia muito grande, têm muita gente assistindo Luciano Lopes, presidente da ABIH-Ba e diretor da Prima Empreendim­entos

Levando-se em conta apenas as pessoas que fizeram uso do transporte público regulado pelo Município, foram quase 400 mil pessoas em um único dia, sem se levar em conta as milhares que fizeram uso do transporte por aplicativo, carro próprio ou simplesmen­te estavam perto o suficiente para ir a pé.

A expectativ­a era de uma movimentaç­ão econômica de R$ 2,4 bilhões na economia baiana com a festa, de acordo com projeção da Fecomércio-Ba. A entidade projeta que o destaque vai se dar para as atividades turísticas, que devem responder por R$ 1,39 bilhão deste total, com gastos nas mais diversas estruturas.

O presidente da ABIH-BA, Luciano Lopes, explica que o período do Carnaval tem um duplo efeito positivo para as atividades relacionad­as ao Turismo. Além dos hotéis absolutame­nte lotados, o valor das tarifas é maior, o que eleva a rentabilid­ade dos estabeleci­mentos. “Para se ter ideia, os últimos 10 dias representa­m 11% do faturament­o anual do setor”, conta. Além disso, complement­a, a exposição que a cidade recebe durante a festa cria

Voltou o Carnaval no imaginário no imaginário das pessoas. Estava todo mundo ávido por curtir e se divertir Silvio Pessoa, presidente da Fehba

uma expectativ­a para novos visitantes.

Embora ainda não tenha dados setoriais consolidad­os, Luciano Lopes comemora uma retomada do mercado internacio­nal na festa. “Ficamos quase três anos com restrições e agora já percebemos o retorno de turistas estrangeir­os. A gente já percebe este aumento no fluxo, basta olhar os lobbys dos hotéis”.

Além de beneficiar os estabeleci­mentos hoteleiros próximos ao circuito, o Carnaval também movimentou aqueles mais distantes, complement­a Luciano Lopes. Ele cita como exemplo, as opções de hospedagem da Prima Empreendim­entos, onde ele é diretor, em Baixio, na Costa dos Coqueiros. “Nós estamos com 100% de ocupação por lá. Carnaval é um ponto fora da curva, atrai quem gosta da festa, mas também tem o turista que não gosta e procura um lugar para descansar”, explica.

“Voltou o carnaval no imaginário no imaginário das pessoas. Estava todo mundo ávido por curtir e se divertir. Isso é muito bom porque este período é o nosso 13º salário”, destaca Silvio Pessoa, presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentaçã­o (Fehba). “Os bares e restaurant­es estão lotados, tem muita gente sendo contratada como extra. O turismo mobiliza mais de 50 atividades. Somos os maiores empregador­es no estado depois do agro e representa­mos 25% do PIB (Produto Interno Bruto) de nossa cidade”, destaca o dirigente.

O Grupo Leceres, que fez a aquisição, recentemen­te da GJP Hotels & Resorts, teve média de ocupação de 87% no Carnaval, nos 10 hotéis da rede. No Wish Hotel da Bahia, especifica­mente, a ocupação no período foi de 94%.

A diária média em Salvador teve um cresciment­o de 90% em relação ao Carnaval de 2020, o maior da rede, superando Rio de Janeiro (58%) e Natal (52%).

Na unidade da capital baiana, uma das mais bem localizada­s para quem curte a festa, os hóspedes foram recebidos no check-in com welcome drinks, fanfarra e pintura corporal, e puderam aproveitar DJ na piscina, quiosque com espetinhos, acarajés, picolés e drinks de quinta a terça. O hotel também disponibil­izou customizaç­ão de abadás, venda de acessórios e outras facilidade­s.

 ?? ARQUIVO CORREIO ?? Em 1951 Dodô e Osmar experiment­aram a primeira Fobica, carro que deu início à história do trio elétrico
ARQUIVO CORREIO Em 1951 Dodô e Osmar experiment­aram a primeira Fobica, carro que deu início à história do trio elétrico
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ILÊ AIYÊ/DIVULGAÇÃO Em 1974, jovens do Curuzu criam o Ilê Aiyê: arte e conscienti­zação
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