Correio da Bahia

BELL NOS VOCAIS E MULTIDÃO NA AVENIDA

- Wendel de Novais REPORTAGEM wendel.novais@redebahia.com.br

Um bloco que chega muito antes do artista e que se estende para bem depois da sua passagem. É assim quando Bell Marques sobe no trio. Era assim antes dos dois anos sem Carnaval e desse jeito continuou na folia de 2023. Fenômeno que voltou a dar as caras ontem, quando o artista puxou o Camaleão no Circuito Dodô (Barra-Ondina).

Quando os primeiros foliões do bloco já iniciavam a subida da ladeira do Morro do Cristo, ainda se via, atrás do trio de apoio, outros tantos próximos ao início do trajeto, no Farol da Barra. Mas nem mesmo a distância fazia o folião que vinha de longe ficar quieto. Na hora em que os clássicos se iniciam aos primeiros acordes da guitarra do artista, o coro é garantido.

É que a multidão que segue o cantor não deixa que a música pare mesmo quando, em um momento ou outro, Bell faz uma pausa para respirar. Cada música, cada verso. Tudo foi cantado a plenos pulmões e com a maioria dos fãs de braços abertos pra cima, como quem agradece a benção de estar de novo em um circuito com o artista.

Foram mais de quatro mil abadás vendidos todos os dias, fazendo os blocos do cantor lotarem sempre. E não ficou só dentro das cordas. Nas laterais, faltou chão para tanto pé que caminhava ao lado do trio. Com ou sem abadá, todos foram presentead­os e ouviram de perto clássicos como Cometa Mambembe e Bota Pra Ferver.

DO JEITO QUE DER

Francisco Prates, 52 anos, estava se apertando ao lado dos cordeiros para conseguir acompanhar o ídolo que viu pela primeira vez há 30 anos. Enquanto gritava os hinos do artista, explicou o porquê do esforço. "O dinheiro tá curto para comprar o abadá e não fico sem ver ele. Vou daqui mesmo, como era no começo. É idolatria mesmo, eu amo ele", contou, com um sorriso aberto.

Sorrisos, choros e olhares de admiração estiveram presentes em quem, do chão, olhava para um artista de 70 anos de idade que, mesmo depois de quase uma semana de apresentaç­ões, seguia arrastando o trio como ninguém. Perguntado de onde tira tanta energia, Bell disse que o segredo está no prazer.

"As pessoas gostam de estar perto de mim e eu gosto que elas estejam assim. Por isso que as minhas cordas e os meus blocos são muito cheios. É um prazer incrível e isso me movimenta por dentro, me deixa com energia renovada o tempo inteiro. Eu gosto, eu faço por prazer e faço por paixão", afirmou.

Se tem gosto por parte de quem canta, tem ainda mais de quem escuta. Tanto é que o amor pelo artista ultrapassa décadas. Graça Rodrigues, 49, é de Castro Alves, no interior da Bahia, e tem 25 carnavais vividos em Salvador. Em todos eles foi atrás do trio de Bell Marques.

Ontem, mesmo com o trio saindo às 16h, ela chegou antes das 15h na concentraç­ão para tentar fazer uma foto com o ídolo. "Comprei meu Camaleão em dezembro e vim com a certeza de que vai valer cada centavo, faça chuva ou sol. Não tiro o mérito de nenhum dos outros artistas, mas Bell, pra mim, é o rei da avenida e se mantém assim por décadas. É o maior".

Outro fã antigo do cantor que chegou cedo foi o soteropoli­tano Luis Azevedo, 39. Ele diz que as primeiras lembranças de Bell são de quando o Camaleão saía domingo, segunda e terça na avenida. "Na época em que corria a [Avenida] Sete toda, fazia a curva no Sulacap e voltava pela Carlos Gomes. Isso lá em 2000", lembrou ele.

Apesar de dizer que cada artista tem sua magia, Luis destaca que Bell impacta as pessoas e conta o momento que percebeu que ele era diferente. "Eu estava em um bloco, não lembro se na Sete ou na Carlos Gomes, mas tinha um beco que dava para enxergar a outra avenida. Quando Bell passou, todo mundo no bloco parou pra escutar o cara. A cantora teve que parar também. Ali eu vi o fenômeno", afirmou.

E fenômeno é mesmo a palavra certa para definir alguém que, entra ano e sai ano, lota cada um dos blocos que coloca na rua e canta como se fosse ainda aquele Bell dos primeiros anos de folia.

DIFERENCIA­DO

Ao falar sobre o seu lugar de 'fenômeno', o artista calça as sandálias da humildade e entrega ao público a razão de ir tão bem na avenida. "Acho que isso é a boa vontade das pessoas. Quando você gosta de alguém, acaba olhando de uma forma diferente. É o que acontece comigo e eu fico muito agradecido por esse carinho", avaliou Bell.

Ainda que, a curto e médio prazo, o sonho do cantor seja continuar brilhando no Carnaval de Salvador, a reportagem perguntou o que ele espera daqui 20 anos, já que tem tanta longevidad­e. Depois de uma gargalhada, Bell respondeu: "Sei lá, ficou longe demais". O artista vai ainda participar do arrastão dessa Quarta-Feira de Cinzas. O horário ainda não está confirmado, mas a presença dele é certa.

O dinheiro tá curto para comprar o abadá e não fico sem ver ele. Vou daqui mesmo [de pipoca], como era no começo. É idolatria mesmo, eu amo ele Francisco Prates, 52

Não tiro o mérito de nenhum dos outros artistas, mas Bell, pra mim, éoreida avenida e se mantém assim por décadas. É o maior Graça Rodrigues, 49

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ARISSON MARINHO Com uma carreira longeva e recheada de hits, Bell conquistou a admiração de seus fãs
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