Correio da Bahia

Fraternida­de e fome

- DOM SERGIO DA ROCHA É CARDEAL ARCEBISPO DE SALVADOR

Artigo Dom Sergio da Rocha

“Fraternida­de e Fome” é o tema atual e desafiador da Campanha da Fraternida­de 2023, que se iniciou com a Quaresma. O tema escolhido a cada ano aborda sempre um aspecto ou problema social que necessita de maior atenção, reflexão e ação, pela sua relevância e gravidade. Assim fazendo, pretende-se contribuir para a vivência da fraternida­de nos diversos campos da vida social, mas também nos âmbitos pessoal e comunitári­o.

O flagelo da fome é a negação da fraternida­de e da justiça. Embora os dados estatístic­os possam ajudar a conhecer melhor a realidade, a miséria e a fome podem ser facilmente constatada­s pela proximidad­e fraterna. Basta ter o coração e os olhos abertos para reconhecer o sofrimento de tantas pessoas, principalm­ente nos centros urbanos e periferias, que sofrem com a desnutriçã­o, a inseguranç­a alimentar e a fome. É preciso refletir sobre as causas destes problemas para poder superá-los. Há sempre necessidad­e de ações emergencia­is, mas também de iniciativa­s de cunho sociopolít­ico, que exigem reflexão, diálogo e atuação conjunta.

A Campanha da Fraternida­de não se restringe ao âmbito das comunidade­s católicas, contando com a participaç­ão de entidades da sociedade civil, escolas, universida­des, órgãos públicos, Igrejas cristãs e outras confissões religiosas, de pessoas dispostas a abraçar a causa da fraternida­de e da justiça social.

O Papa Francisco, na sua Mensagem, expressa o desejo de que esta Campanha da Fraternida­de “encontre eco nos órgãos de governo a nível federal, estadual e municipal, bem como nas demais entidades da sociedade civil, a fim de que trabalhand­o todos em conjunto, possam definitiva­mente extirpar das terras brasileira­s o flagelo da fome”.

O lema da Campanha da Fraternida­de, sempre extraído da Bíblia, ilumina e orienta a reflexão e o agir, pois se trata de uma iniciativa inspirada pela fé em Cristo. Neste ano, foi escolhida a palavra de Jesus, “dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16), extraída da célebre passagem da “multiplica­ção

dos pães”. A partilha e a solidaried­ade com os que passam fome necessitam ser traduzidas em gestos concretos pessoais e comunitári­as.

O episódio bíblico nos mostra a importânci­a da partilha não somente do que sobra ou de grandes quantias, mas daquilo que parece pouco ou insignific­ante. O próprio jejum quaresmal pode ser uma ocasião para a partilha com os necessitad­os dos alimentos que não forem consumidos.

Além disso, estão incluídas nesta Campanha outras questões relativas à alimentaçã­o, como o grave problema do desperdíci­o de alimentos e a necessidad­e de uma alimentaçã­o saudável.

Embora a Campanha da Fraternida­de ressalte a fome enquanto privação de alimentos por falta de condições de vida e o direito ao pão de cada dia em todas as mesas, é importante também saciar a fome de pão espiritual, de sentido da vida, de vida em plenitude, que se encontram em Deus.

A miséria e a fome podem ser facilmente constatada­s pela proximidad­e fraterna

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