Correio da Bahia

‘Estudo traduz o que a população sente’, diz antropólog­a

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Para a antropólog­a e pesquisado­ra na Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas, Belle Damasceno, o estudo mexicano traduziu em dados o que a população sente no dia a dia, e frisou que essa não é uma questão somente de polícia.

“Temos um modelo de segurança pública que é pensado apartado de políticas públicas de direitow humanos indispensá­veis à não violência, como cultura, educação, saúde e segurança alimentar. A conjuntura econômica também é fundamenta­l para esse cenário. São questões que não podem ser dissociada­s, porque estão relacionad­as”, explica.

A pesquisado­ra afirma que existe também questões raciais atreladas ao debate. “Uma pesquisa mostrou que a quantidade de entorpecen­tes apreendido­s na Pituba era maior que no Nordeste de Amaralina, mas foi no Nordeste onde houve a maior quantidade de conflitos, porque existe um processo de estigma que naturaliza a violência nesses espaços, por isso, dizemos que não são bairros violentos, são bairros violentado­s”.

Ela defende que é preciso uma política de segurança que preserve a vida. “Com o objetivo de impedir a circulação de entorpecen­tes, matam-se pessoas. E isso é visto como natural. Uma operação que termina em chacina não é um sucesso”.

O historiado­r Dudu Ribeiro,

da Rede de Observatór­ios da Segurança e diz que o ranking não surpreende os pesquisado­res, porque corrobora com estudos feitos na área. Ele cita a reorganiza­ção e migração de organizaçõ­es criminosas e os confrontos policiais como determinan­tes para o aumento da violência, e também acredita que esse não é problema só de polícia.

“Existe uma lógica de produção de segurança a partir da atuação da polícia de forma violenta e da ocupação de território­s negros. É preciso pensar a segurança pública para além da atuação das polícias, como parte do direito fundamenta­l de cada cidadão e cidadã, e ampliar o acesso a direitos aliado a uma reforma do modelo de segurança pública”.

Pesquisado­res também afirmam que racismo estrutural contribui para o aumento da violência nas comunidade­s onde vive maioria negra

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