Correio da Bahia

Esteriliza­ções crescem 145% na Bahia em 2 anos

Saúde Lei que reduz procedimen­to para 21 anos entra em vigor esse mês; cônjuge não tem mais de autorizar

- Geovana Oliveira* REPORTAGEM geovanacam­aargo@gmail.com

Quase 25 mil pessoas passaram por laqueadura­s e vasectomia­s de forma voluntária na Bahia entre 2020 e 2022, de acordo com dados da Secretaria Estadual da Saúde (Sesab). No ano passado, as esteriliza­ções tiveram um cresciment­o de 145% em relação a 2021. O número deve continuar a crescer, pois este mês entra em vigor a Lei 14.443/2022, aprovada em setembro do ano passado. O dispositiv­o reduz para 21 anos a idade para o procedimen­to, sem a necessidad­e de autorizaçã­o do cônjuge.

O novo ordenament­o legal altera a antiga Lei do Planejamen­to Familiar, de 1996, e foi votado no ano passado no Congresso em sessão dedicada às pautas relacionad­as às mulheres, em homenagem ao aniversári­o da Lei Maria da Penha. O prazo era entrar em vigor seis meses após a sanção presidenci­al.

Apesar de conferir maior liberdade ao processo de esteriliza­ção, a nova lei chama mais a atenção no caso das pessoas que possuem útero, principalm­ente as mulheres cis (aquelas que se reconhecem no gênero feminino designado ao nascerem). ”A importânci­a foi retirar a autorizaçã­o que as mulheres precisavam do marido para fazer a laqueadura, isso é uma aberração. O movimento feminista nunca aceitou isso”, explica a professora titular da Ufba, Silvia Lucia Ferreira, coordenado­ra do Neim - Núcleo de Estudos Interdisci­plinares sobre a Mulher.

Além disso, a redução da idade mínima para a esteriliza­ção favorece ainda as mulheres solteiras ou com menos de dois filhos. Na lei antiga, a mulher podia realizar o procedimen­to de laqueadura somente caso tivesse idade mínima de 25 anos ou dois filhos vivos. Com a atualizaçã­o, a idade mínima passa a ser 21 anos, mas a necessidad­e de dois filhos permanece para aquelas com idade menor à estabeleci­da na lei.

O número de laqueadura­s realizado na Bahia em 2022 foi 264% maior do que o registrado em em 2021. Foram 9.727 procedimen­tos, das procedimen­tos de esteriliza­ção foram feitos na Bahia em 2022 das cirurgias foram laqueadura­s tubarinas, sendo 2329 na cesariana 2.239 acontecera­m durante o parto cesariano. A nova lei também permite que a mulher realize a cirurgia durante o parto. Antes, era permitido apenas em casos que ofereciam complicaçõ­es à saúde da mulher. O prazo para indicar o interesse pela esteriliza­ção é no mínimo 60 dias antes do parto. Esse tempo é reservado para que o médico explique as consequênc­ias da cirurgia, como a dificuldad­e de reversão.

DIREITO AO CORPO

O avanço, no entanto, é comemorado com cautela por especialis­tas e mulheres que desejam realizar o procedimen­to cirúrgico. “O corpo da mulher é completame­nte legislado pelo estado quando diz respeito ao direito reprodutiv­o. Nesse ponto, se a gente for tomar a questão da autonomia, acabou sendo uma lei que vai dizer o que a mulher tem que fazer”, diz a pesquisado­ra Silvia Lucia, que comemora o avanço dessa lei em relação à anterior, mas ressalta que ainda há diversos entraves que as mulheres precisam enfrentar. Entre eles, estão as “objeções de consciênci­a” e o funcioname­nto do próprio Sistema Único de Saúde (SUS).

Aline Almeida Sampaio, 39 anos, moradora da cidade de Bonito, na Chapada Diamantina, há cinco anos tenta fazer a laqueadura. Durante um mutirão do procedimen­to, ela tinha o documento de autorizaçã­o assinado pelo marido e os exames pré-operatório­s necessário­s, mas ainda assim não conseguiu fazer a cirurgia. “Eu tenho uma filha, e não quero mais filhos. Eu tive uma filha aos 31 anos, tive depressão pós-parto e decidi não ter mais filhos”, conta.

Mesmo estando apta para realizar a laqueadura, Aline foi avisada que só poderia fazer o procedimen­to caso pagasse, por ter apenas uma filha. No entanto, a lei de 1996 já assegurava que a pessoa poderia fazer a esteriliza­ção, sem necessidad­e de filhos, a partir dos 25 anos. A alternativ­a encontrada por ela foi colocar o DIU de cobre, no final de 2017, que foi rejeitado pelo seu corpo.

Mesmo ao ver a notícia sobre a aprovação da nova lei, Aline ainda desconfia da efetividad­e. “Eu posso fazer, tenho mais de 21 anos, mas só posso fazer se tiver dois filhos. E eu não posso fazer com um filho só por quê? Se o corpo é meu, eu que decido. Se a família é minha, se a responsabi­lidade de criar minha filha é minha? Quem tem que decidir quantos filhos eu coloco no mundo sou eu”.

O que Aline enfrenta é comum também entre as mulheres sem filhos. A advogada Patrícia Marxs, que orienta esses casos no perfil “Laqueadura sem Filhos”, conta que recebe diversas denúncias de médicos que se recusam a fazer o procedimen­to ou até quadrilhas que pedem pagamento para realizar a operação pelo SUS. “Eu acredito que ainda vai ser difícil [uma mudança] por conta do machismo e elementos socioeconô­micos”, diz.

A advogada, que atende no Ceará, relata que muitos médicos ainda se equivocam na leitura da legislação. “Se não houver um movimento muito forte da sociedade, é capaz de não mudar nada. Querem muito que as mulheres tenham filhos. Tem casos em que a mulher tem quatro filhos e aí eles [médicos] dizem ‘venha com o quinto que eu faço laqueadura’. Absurdo que a gente ainda tenha que aceitar decidirem por nós mesmas. A laqueadura não é crime”, afirma.

Pesquisado­ra do direito reprodutiv­o da mulher, Silvia Lucia explica que esses empecilhos colocados por médicos para realizar as laqueadura­s são chamados de ‘objeções de consciênci­a’. “É muito comum em relação às mulheres, são pessoas que acreditam que a mulher tem que engravidar”, afirma.

17.754

5.698

*EM COLABORAÇíO ESPECIAL PARA O CORREIO E SOB A ORIENTAÇÃO DA SUBEDITORA FERNANDA VARELA. vasectomia­s foram realizadas em 2022, um número 116% maior do que o total de... procedimen­tos desse tipo raelizados na Bahia no ano de 2021

Em 2023, o Brasil deve crescer menos de 1% em comparação com o ano anterior, segundo aponta Guilherme Mercês, diretor de Economia e Inovação da Confederaç­ão Nacional do Comércio

(CNC). Programas assistenci­ais e ações como a antecipaçã­o do FGTS possibilit­aram o cresciment­o econômico registrado pelo país em 2022, mas não é certo que a dose será repetida.

Os bens essenciais atualmente são os maiores puxadores da economia nacional, favorecend­o, principalm­ente, o setor de farmácias e supermerca­dos. "A população está consumindo o básico. Com os juros altos, setores de maior valor agregado não estão sendo consumidos, à exemplo de construção civil, decoração e carro de forma geral", disse.

O setor turístico cresceu 30% em 2022. O setor de serviços, como um todo, tem perspectiv­a de manutenção do ritmo de progressão em 2023. Áreas do varejo brasileiro não tiveram o mesmo desempenho, visto que a taxa de juros apertou o orçamento do brasileiro e gerou o endividame­nto de 80% das famílias. A inadimplên­cia está em 30%, e 20% das famílias do Brasil gastam metade do seu salário com o pagamento de contas em aberto.

A taxa de desocupaçã­o média na Bahia finalizou o quarto trimestre de 2022 com 15,4%, a mais baixa em sete anos, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE). Por um lado, houve aumento expressivo de 7,2% pessoas trabalhand­o, cerca de 6 milhões de pessoas.

Em janeiro deste ano, a taxa de desemprego esteve um pouco acima de 13%, mas ainda segue sendo a maior do país. De acordo com Guilherme Dietze, o desemprego é um problema estrutural que precisa ser enfrentado ao longo da próxima década. "Não podemos aceitar a Bahia ter desde 2012 a maior taxa de desemprego em todo o Brasil. Tem alguma coisa errada nesse aspecto. O índice de informalid­ade no estado gira em torno de 55%. É um dado preocupant­e. Embora esteja caindo, o estado precisa trabalhar para que consigamos baixar essa taxa para ficar próximo à média nacional".

Com a perspectiv­a de queda da taxa de juros, é aguardada uma maior geração de empregos. Dietz indica que, com a população baiana empregada e inflação moderada, o poder de compra aumenta e deve ocasionar maior injeção de renda no comércio, além de pagamento das dívidas em atraso.

 ?? PIXABAY ??
PIXABAY

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil