‘Estrutura era de2ª mão’, denuncia funcionário
ACIDENTE COM SILO O silo de cimento que desabou sobre um caminhão betoneira e matou soterrado o motorista Edvan Rangel Ribeiro, 33 anos, em uma empresa de cimento no Retiro, em Salvador, foi construído com ‘material velho e resoldado’. É o que afirma um funcionário da Massa Fort, que estava funcionando pela primeira vez em sua nova sede anteontem, quando ocorreu o acidente.
De acordo com ele, que não quis se identificar por medo de represálias, o material já dava sinal de problemas e era de segunda mão. “Eles fizeram a estrutura [o silo] para segurar 100 toneladas, mas com uns ferros já antigos que eles pintaram e ‘resoldaram’. Uma ferragem toda usada que reformaram e deu uns estalos de manhã”, conta ele, afirmando não imaginar o risco que corria.
Funcionários afirmam que a transição para a nova sede foi feita às pressas, sem o cuidado necessário. Outro colega de Edvan, que também não se identificou, diz que não houve uma empresa contratada para fazer a montagem da usina, construída sem os alvarás necessários nesse tipo de obra. “Eu não sou perito, porém a gente entende algumas coisas e aquela estrutura do silo dava para notar que não suportaria tanto peso. Tanto é que começamos a trabalhar ontem [anteontem] e já aconteceu essa tragédia.”
O primeiro funcionário, que presenciou o momento do acidente, relata que Edvan estava lavando o seu caminhão betoneira quando a estrutura cedeu e o cimento desceu de vez, sem que ele tivesse a chance de escapar. “A mangueira que a gente usa para lavar o caminhão fica debaixo do silo e ele estava lá fazendo tudo direitinho para deixar tudo limpo. Começou a lavar com a betoneira batendo e foi a hora que caiu. Ele ainda tentou correr, mas não conseguiu”, fala, revoltado com a falta de segurança no trabalho.
O Ministério Público do Trabalho (MPT) na Bahia instaurou ontem um inquérito para apurar as responsabilidades trabalhistas sobre o acidente. O órgão vai solicitar informações da Polícia Civil, dos Bombeiros e da Superintendência Regional do Trabalho da Bahia. A intenção é verificar o cumprimento das normas de saúde e segurança do trabalho.
Dados do órgão revelam que o número de acidentes de trabalho voltou a crescer em 2021 - o índice vinha em baixa desde 2009, com 26.483 casos. Enquanto
2020 registrou 12.127 casos, em 2021 houve 14.326. Só envolvendo silos, foram quatro mortes de trabalhadores em menos de dois meses, no estado.
A reportagem tentou ouvir a Massa Fort sobre a situação e entender se havia problemas estruturais, mas ninguém quis se manifestar.