Correio da Bahia

Haddad vence um duro teste

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previsibil­idade. As empresas acham que houve quebra desse princípio. Muitas delas vieram para explorar petróleos que não são refinados internamen­te, porque são muito pesados. Então investem aqui apenas para exportar. E agora terão esse aumento inesperado de custo. No governo, se diz que os contratos são fechados com antecedênc­ia, portanto, as exportador­as brasileira­s não serão afetadas nesse curto período.

No pré-sal, as empresas exploram petróleo em contrato de partilha. Nesses casos, para se saber quanto de óleo será distribuíd­o para a União, descontam-se todos os custos. Agora, será descontado também o imposto de exportação, o que significa dizer que parte desse imposto será pago indiretame­nte pelo próprio governo.

Evidenteme­nte, o tributo não vai estimular o refino no Brasil, ao contrário do que disse o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, porque em quatro meses ninguém toma uma decisão de investir em uma refinaria. Isso é discurso para o público interno.

Da perspectiv­a do ministro Fernando Haddad, a reoneração da gasolina e a restauraçã­o da receita de R$ 28 bilhões eram um passo dentro de uma trajetória que ele estabelece­u como plano econômico. A proposta é chegar ao fim do ano com um déficit de menos de 1% do PIB, o que significa que terá que recompor receitas ou cortar gastos em torno de R$ 150 bilhões. Se ele fosse vencido nesse primeiro passo, a perda de credibilid­ade seria enorme, talvez irrecuperá­vel. Não há decisões simpáticas no caminho do ajuste fiscal. E essa era apenas para acabar com uma demagogia eleitoreir­a feita por Bolsonaro e que prejudicou o país. O que o governo poderia dizer para o seu público interno insatisfei­to com a decisão é que está recompondo despesas que eram necessária­s, como o aumento do salário mínimo, a nova tabela de Imposto de Renda, o aumento do valor das bolsas da Capes. Há uma lista grande de bondades já feitas.

No debate interno, a equipe econômica comparou o que poderia ser feito com esse valor de quase R$ 30 bilhões que seria perdido caso não se fizesse a reoneração. Dava para construir 30 hospitais com mais de 500 leitos, ou metrôs em quatro regiões metropolit­anas, ou pegar o recurso do

Fundeb e colocar 18 milhões de crianças na escola.

Não há almoço de graça. Toda conta tem seu pagador. Se fosse mantida a desoneraçã­o, todos os contribuin­tes estariam pagando, mesmo aqueles que não têm carro. O outro erro seria fazer de forma escamotead­a, como foi feito no governo Dilma, que abriu um rombo no caixa da Petrobras. A solução técnica mais correta é o consumidor de combustíve­l fóssil pagar o imposto. Subsídio pode existir, mas tem que ser focado em quem precisa, como o consumo de GLP de baixa renda ou para taxistas.

O problema é todo o processo dessa decisão. Foi muito atormentad­o. Postagens de lideranças do PT, quando o ministro da Fazenda estava ainda na Índia, reuniões consecutiv­as de ministro, presidente da Petrobras, e por fim a receita foi recomposta, mas com a criação de um novo imposto, ainda que temporário. Isso tudo deu o sinal de que o processo decisório dentro do governo Lula na área econômica é muito complexo, mesmo que o ministro tenha conseguido a recomposiç­ão da receita.

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