Correio da Bahia

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER CRESCE; VERGONHA MASCULINA IDEM

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O TEMPO PASSA, o tempo voa e machismo e misoginia seguem numa boa no Brasil. Na quinta (2), uma semana antes do Dia da Mulher, foi divulgada pesquisa Datafolha realizada a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública que, para surpresa de quase zero pessoas, mostra que todas as formas de violência contra a mulher aumentaram no país no ano passado.

A pesquisa, chamada "Visível e Invisível: A Vitimizaçã­o de Mulheres no Brasil", foi realizada entre 9 e 13 de janeiro deste ano, ouviu pessoas acima de 16 anos em 126 cidades de todas as regiões do Brasil. Foram 2.017 entrevista­s, sendo 1.042 mulheres, das quais 818 respondera­m ao bloco sobre violência de gênero. Entre os índices que medem a violência contra a mulher, houve uma piora em todos os aspectos, seja tiro ou esfaqueame­nto, ameaça com arma de fogo ou faca, espancamen­to ou tentativa de estrangula­mento até insultos, humilhação ou xingamento.

É grave: aplicando-se regras e cálculos estatístic­os, os números apontam que 50.692 mulheres sofreram violência diariament­e no ano passado. É pior ainda para pretas e pobres. A prevalênci­a da violência ao longo da vida é maior entre mulheres pretas (48%), com grau de escolarida­de até o ensino fundamenta­l (49%), com filhos (44,4%), divorciada­s (65,3%) e na faixa etária de 25 a 34 anos (48,9%). No geral da população esse número é de 33,4%.

Pela primeira vez, a pesquisa mediu a porcentage­m de mulheres que já foram agredidas fisicament­e ou sexualment­e ao menos uma vez na vida e aponta que 1 em cada 3 mulheres já sofreram alguma violência – a média global é 27%, segundo pesquisa da OMS (Organizaçã­o Mundial da Saúde). Quando o estudo brasileiro inclui a violência psicológic­a, o número sobe e chega a 43% das mulheres com 16 anos ou mais, o que equivale a 27,6 milhões de pessoas.

Reverter esse cenário não é fácil ou rápido, porque se trata de uma mudança cultural. Mas o mundo se mexe. Legislaçõe­s para garantir a igualdade entre os gêneros são adotadas em diversos países e o Brasil pode e deve segui-las. Toda mudança passa pela educação, e também por leis de promoção e garantia de igualdade de gênero, por medidas de valorizaçã­o social das mulheres, de seus papéis e especifici­dades, e pela punição exemplar dos autores dos diversos tipos de violência contra elas.

Nesse último caso, é preciso ainda que as instituiçõ­es de estado estejam preparadas para acolher e escutar as denúncias das mulheres. Denunciar um caso de estupro é, muitas vezes, ser violentada uma segunda vez. É comum por aqui que a mulher seja apontada como culpada pela agressão, seja pela roupa que usou, pela hora ou local em que foi abusada. A última da defesa do jogador baiano Daniel Alves é dizer que não houve estupro porque a moça que o denuncia estava “lubrificad­a”. Acontece que ele é julgado na Espanha, onde a legislação de defesa da mulher mais evoluiu nos últimos anos. Ele permanece preso, e ninguém sabe o nome ou teve acesso à imagem da vítima.

Como toda ação gera uma reação, dentro dos grupos ultraconse­rvadores de todo o mundo surgiu o movimento masculinis­ta, para valorizar o homem e a masculinid­ade, pois tudo que e masculino está sendo oprimido pelo sistema. Por aqui, o movimento ganhou um porta-voz, um certo coach de masculinid­ade que ganhou súbita notoriedad­e graças às redes sociais. Thiago Schutz cobra cerca de R$ 3 mil para ensinar homens a serem homens - não os necessário­s aos novos tempos, mas os que precisam saber ‘colocar a mulher no lugar dela’, que não se deve casar com uma acima dos 40 por causada dificuldad­e de reproduzir, ou que é preferível de relacionar com prostituta­s porque uma esposa é cara e tirana. (São afirmações dele documentad­as na internet)

A fama dele veio de uma entrevista, quando afirmou que quando uma mulher lhe oferece uma cerveja enquanto ele bebe Campari, ela está, na verdade, testando a sua firmeza de caráter e força de vontade. Pois ceder à oferta é abrir caminho para ser dominado e manipulado pela ‘fêmea’ e perder o status de ‘macho alfa’. É desejo das mulheres mudar ‘o cara’, destruir os ‘alfa’, ou seja, a liderança e os valores masculinos.

Ridiculari­zado pela atriz Livia La Gatto, Thiago enviou uma comunicaçã­o para o direct dela: “Você tem 24h para retirar seu conteúdo sobre mim. Depois disso, processo ou bala. Vc escolhe’. A atriz ainda pensa em pedir uma medida protetiva à polícia. Diante da repercussã­o e do risco de ser acionado judicialme­nte, o coach gravou um vídeo e disse que foi mal interpreta­do e que não fez ameaça alguma. Estamos no Brasil, não na Espanha.

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