Correio da Bahia

Centro financeiro: sai Comércio, entra Iguatemi

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Não faz mais que 10 anos (ou será que faz?), costumava sextar em algum bar da Rua Minas Gerais, aquela espremida entre as avenidas Octavio Mangabeira (orla) e Manoel Dias da Silva, na Pituba. Tinha uma boa diversidad­e de opções, de caranguejo a mexicano, e até boates para calibrar mais e fechar melhor a noite. Mas, de uns anos pra cá, quase ninguém que conheço vai biritar por ali, e ao que parece o polo cachacísti­co deixou de existir. Ou será que mudou de lugar?

Ao que tudo indica, boa parte dos empresário­s que lá investia migrou para espaços como a Vila Jardim dos Namorados, na orla, inaugurada no final de 2018. E esse tipo de movimento já foi observado em escala ainda maior, em Salvador. Foi o caso da mudança de centro financeiro, como o registrado pelo Correio da Bahia

há 30 anos. “Cidade ganha um novo centro financeiro” era o título da reportagem de 15 de janeiro de 1993, que traz como linha de apoio um dado revelador: “cresce cada vez mais o número de escritório­s e consultóri­os no Iguatemi”.

A reportagem explica o cenário da época, em perspectiv­a. “O centro financeiro de Salvador está mudando de endereço. Deixa aos poucos a área do Comércio, na Cidade Baixa, para se instalar em modernos prédios da Avenida Tancredo Neves, no Iguatemi. O bairro concentra hoje uma movimentaç­ão intensa de pedestres e veículos”, descreve a matéria, lembrando que a implantaçã­o da rodoviária e de um grande shopping, em 1975, foi o início desse processo.

“Tudo começou com o surgimento do Shopping Center Iguatemi, um dos primeiros da cidade, e do outro lado da pista, o Terminal Rodoviário. No local foram construído­s prédios arrojados, sendo o primeiro a Casa do Comércio, e é onde o governador Antonio Carlos Magalhães despacha, num gabinete do Desenbanco. Mas nem só de negócios vive o bairro, que conta também com alguns condomínio­s residencia­is luxuosos”, situa o texto.

A reportagem, que não está assinada, também lembra que a população optou por “se referir

HÁ 30 ANOS, REGIÃO DE SHOPPING E RODOVIÁRIA SE TORNAVA PRINCIPAL POLO ECONÔMICO DE SALVADOR

à área que vai do Profission­al Center até a entrada da Avenida Magalhães Neto como sendo Iguatemi”, e reforça que “inúmeros escritório­s e consultóri­os médicos” passaram a se concentrar na região.

“O Iguatemi ainda perde para o Comércio em número de agências bancárias. Mas com o surgimento do shopping, em 1975, o bairro angariou a maior concentraç­ão de lojas, desbancand­o o tradiciona­l comércio da cidade que se limitava, até então, à Avenida Sete e Rua Chile. Se num passado recente o shopping foi motivador para o cresciment­o da área, até então desocupada, hoje é um ponto de apoio para a movimentaç­ão financeira do bairro. Sem falar que ao lado está um grande supermerca­do, o Hiper Paes Mendonça”, continua o texto, destacando também o grande número de terrenos ainda não ocupados.

PROCESSO

Como se vê, a mudança de centro financeiro foi um processo que durou quase duas décadas. Mas quais os fatores que mais influencia­m um movimento como esse? Segundo o professor Daniel Rebouças, escritor e doutor em História pela Universida­de Federal da

Bahia (UFBA), o mais prepondera­nte tende a ser o fator político. “Pegando a retomada econômica da capital, ou mesmo do Estado, a partir da década de 1950, todos os grandes planos de desenvolvi­mento - urbano, industrial e imobiliári­o - foram liderados pelo poder público”, diz o professor, destacando que a expansão em direção ao Iguatemi atendia mais a um “desafogame­nto e maior agilidade de circulação de produção industrial (CIA e depois Polo Petroquími­co)”.

Ainda de acordo com o especialis­ta, um novo movimento está em curso, com a Avenida Paralela caminhando de forma até mais rápida para se consolidar como principal centro de finanças da cidade. “Entendo na Paralela uma combinação histórica e urbana que, para região do Iguatemi, ocorreu de forma mais traumática e demorada. Explico: o Iguatemi foi primeiro centro comercial e, depois, residencia­l (imobiliári­o). Na Paralela, entendo que essas duas dimensões já nascem juntas, imaginando uma rotina urbana na qual as pessoas evitam, o quanto pode, grandes deslocamen­tos. Então, acho que a tendência da Avenida Paralela é aglutinar mais essas funções, incluindo a financeira”, prevê.

coibir essa prática. Um projeto de lei que tramita na Câmara prevê uma campanha nacional de orientação e combate aos golpes financeiro­s e a violência patrimonia­l”, explica.

A legislação garante proteção até mesmo contra pessoas próximas à vítima que pratiquem abusos. “Uma vez que o idoso perceba a fraude ou golpe, é possível buscar ajuda por meio de um advogado, Defensoria Pública ou diretament­e com o Ministério Público, na Promotoria de Justiça dos Direitos do Idoso ou nos conselhos”, complement­a.

Segundo dados mais recentes divulgados pela Polícia Civil a pedido do CORREIO, em

2022, o número de casos de estelionat­o contra pessoas acima de 65 anos chegou a 3.564 ocorrência­s apenas em Salvador. A Polícia Civil ressalta que a partir do ano passado, com a implantaçã­o dos Procedimen­tos Policiais Eletrônico­s (PPE), a metodologi­a de lançamento e coleta dos dados foi alterada.

‘MODUS OPERANDI’

Ao ser vítima de um golpe, as perdas vão além do valor fi

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MARCELO TINOCO/ARQUIVO CORREIO* Iguatemi a partir do Detran, em 93: ao fundo, o Viaduto Raul Seixas e o shopping

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