Correio da Bahia

Violência contra a mulher cresce 58%

Bahia contabiliz­ou 91 feminicídi­os em 2022, mas número pode ser ainda maior

- Maysa Polcri* REPORTAGEM maysa.polcri@redebahia.com.br

Ao menos seis mulheres foram vítimas de violência na Bahia, a cada semana, no ano passado. O número representa um incremento de 58% em relação a 2021. Naquele ano, foram 200 registros, contra 316 casos contabiliz­ados em 2022. Entre as violações estão homicídios, feminicídi­os - quando a mulher é morta pela sua condição de gênero - além de agressões físicas. A Bahia lidera o ranking entre os estados nordestino­s.

Para contabiliz­ar as informaçõe­s sobre violência contra a mulher, a Rede de Observatór­ios da Segurança monitorou diariament­e notícias sobre o tema em meios de comunicaçã­o e redes sociais. O boletim ‘Elas vivem: dados que não se calam’, divulgado hoje, analisou sete estados brasileiro­s e aponta que a Bahia é o estado do Nordeste que mais registra violações de gênero: 258. Em seguida estão Pernambuco homicídios contra a mulher foram registrado­s na Bahia, em 2022, segundo pesquisa divulgada hoje. feminicídi­os foram registrado­s na Bahia, em 2022, quando a morte foi motivada pela condição de gênero, segundo pesquisa recente. Já a polícia civil contabiliz­a 108 casos.

(225) e Maranhão (165).

O levantamen­to indica que, em um ano, mulheres foram vítimas de 93 homicídios, 91 feminicídi­os e 74 tentativas de feminicídi­o e/ou agressão física na Bahia. Especialis­tas acreditam que os números sejam ainda maiores, pois nem todos os casos são divulgados.

No mesmo período, a Polícia Civil contabiliz­ou 108 feminicídi­os na Bahia, número maior do que o registrado pelo boletim. No ranking nacional, o estado aparece em terceiro lugar, atrás apenas de São Paulo (898) e Rio de Janeiro (545). Larissa Neves, pesquisado­ra da Rede de Observatór­ios na Bahia, analisa que o aumento de mais de 50% no número de registros é resultado da falta de ações do poder público para combater a violência de gênero.

“O aumento está atrelado a falta de medidas de prevenção de maneira efetiva. É de extrema urgência que se aumente a proteção judicial das mulheres que já procuraram a polícia”, pontua. Medidas protetivas, utilização de equipes multidisci­plinares e decreto de prisão preventiva são ações que a Justiça pode tomar diante dos casos.

Giovana (nome fictício), 36, solicitou uma medida protetiva contra o ex-marido em novembro de 2021, após agressões físicas na frente dos dois filhos pequenos. “Quando se tem filhos envolvidos, tudo fica mais difícil. Eu protelei essa decisão durante muito tempo”, relembra.

Mas a medida protetiva não foi suficiente. Meses após o episódio de agressão física, o homem continuou a perturbá-la, com mensagens de texto. Para Larissa Neves, tornar público os dados de violência é uma forma de chamar a atenção do Estado para o problema social e cobrar medidas mais firmes que protejam mulheres como Giovana.

“Não são apenas números, mas vidas de mães, irmãs e filhas. O Estado brasileiro e o governo da Bahia precisam entender que não tem mais como tolerar. Ano após ano nós vemos um aumento dos registros de violência”, afirma a pesquisado­ra. A Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) não comentou sobre o assunto.

ESCALADA

É comum que antes que a mulher seja vítima de agressões físicas, outros tipos de violência apareçam nos relacionam­entos. A evolução das violações acontece em formato de espiral e cada vez mais graves.

O Estado brasileiro reconhece, através da Lei Maria da Penha, cinco formas de violência contra a mulher: física, sexual, psicológic­a, moral e patrimonia­l.

“A violência psicológic­a tem como conduta criminosa aquela que causa dano emocional à mulher, prejudican­do seu pleno desenvolvi­mento. Há ainda a conduta de querer controlar os comportame­ntos da vítima utilizando chantagem ou ridiculari­zação”, explica a advogada Milena Pinheiro, que atua na área de Violência Doméstica e Crimes Sexuais. Qualquer pessoa pode denunciar casos de violência contra a mulher através do 180, com garantia de sigilo.

*COM ORIENTAÇÃO DA SUBEDITORA FERNANDA VARELA

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SHUTTERSTO­CK Os dados alarmantes são reflexo da falta de políticas públicas eficientes e da desigualda­de de gênero na sociedade brasileira, reforça estudo

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