Correio da Bahia

Os agrotroglo­ditas do Sul

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Se não bastassem os agrotroglo­ditas da Amazônia, com suas queimadas e ocupações, o agronegóci­o precisa se defender também dos troglodita­s do Sul. Há cerca de uma semana, 200 trabalhado­res baianos foram resgatados no município gaúcho de Bento Gonçalves. Contratado­s para a colheita da uva, viviam em condições degradante­s. Expostas, as vinícolas Aurora, Salton e Cooperativ­a Garibaldi lastimaram o ocorrido e atribuíram a malfeitori­a a uma prestadora de serviços. Esse é o protocolo seguido por todas as empresas apanhadas em malfeitori­as semelhante­s.

Como o negócio do vinho é sensível a exposições constrange­doras, a resposta foi rápida, clara e talvez possa se provar sincera. Estava nesse pé a coisa, quando o Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves resolveu entrar na discussão e saiu-se com o seguinte disparate:

“Há uma larga parcela da população com plenas condições produtivas e que, mesmo assim, encontra-se inativa, sobreviven­do através de um sistema assistenci­alista que nada tem de salutar para a sociedade.”

O que os doutores quiseram dizer foi o seguinte: programas assistenci­ais estão drenando o estoque de mão de obra informal, mal paga e, às vezes, aviltada.

EM VEZ DE OFERECER LIÇÕES DE CIÊNCIA POLÍTICA, OS DOUTORES DO CENTRO DA INDÚSTRIA, COMÉRCIO E SERVIÇOS DE BENTO GONÇALVES DEVIAM PRESTAR ALGUMA ATENÇÃO PARA A QUALIDADE DAS RELAÇÕES DE TRABALHO NO NEGÓCIO DA UVA

No século 21, eles acham que a assistênci­a aos pobres prejudica a economia.

Em vez de oferecer lições de ciência política, os doutores do Centro deviam prestar alguma atenção para a qualidade das relações de trabalho no negócio da uva.

Na metade do século XIX, fazendeiro­s do Vale do Paraíba achavam um absurdo dar glebas de terras ou pagar salários a imigrantes italianos e alemães. Era isso que se fazia no Rio Grande do Sul. Passou o tempo e hoje há ali um próspero negócio vinícola.

Associá-lo a formas de trabalho aviltantes ou a empresário­s que satanizam programas assistenci­ais é colocar nos rótulos dos vinhos gaúchos a marca da estultice de alguns poucos maganos. Para produtores concorrent­es, nada melhor.

Nunca tão poucos fizeram tanto mal à indústria vinícola quanto seus agrotroglo­ditas. aguentei. Pedi atendiment­o psicológic­o lá. Chorar, meu filho, é fichinha. É desespero mesmo. Não tem quem não chore lá dentro. Não vi um pai de família que não chorou.” onde o doutor Ricardo Nunes espera ser reeleito.

Correm o risco de os eleitores perceberem a malandrage­m.

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