Correio da Bahia

Poder preto e feminino no cinema

- MARCOS FELIPE SOARES

“No rio e no mar: pescadores na luta! Nos açudes e barragens: pescando liberdade! Hidronegóc­io: resistir! Cercas nas Águas: derrubar!” Essas palavras compõem o grito de guerra das quilombola­s de Ilha de Maré e traduzem a emoção das 30 mulheres do programa ‘Mãe Salvador’, no final da sessão de ‘A Mulher-Rei’, que elas assistiram no Salvador Norte Shopping, ontem. Para algumas, foi a primeira experiênci­a de ir ao cinema. Baseado em fatos históricos, o filme retrata a história de Nanisca (Viola Davis), uma comandante do exército de mulheres do Reino de Daomé, um dos mais poderosos da África nos séculos 17 e 19.

Esse grupo militar feminino combateu os colonizado­res franceses e outros rivais que tentavam escravizar seu povo. Diante da potência da história, a marisqueir­a Regina Lopes, 54 anos, sentiu-se realizada e feliz por esse ser o filme escolhido para a sua primeira ida ao cinema.

“Na véspera do Dia da Mulher, assistir um filme desse porte, que traz uma história de luta e resistênci­a, é muito importante para mim e para toda a minha turma”, disse Regina.

Apesar de essa não ter sido a estreia da pescadora e marisqueir­a Maria de Fátima Ferreira, 64, em uma sala de projeção, ‘A Mulher-rei’ foi o primeiro filme com uma perspectiv­a negra e feminina que ela assistiu. “Esse filme me deixou muito orgulhosa de ser mulher. Fiquei bem feliz, porque eu sei que somos fortes”, contou Maria.

“Amo ser mulher e quilombola!”, enfatizou.

Para a pescadora, marisqueir­a e enfermeira Maristela Menezes, 43, a ida ao cinema com as companheir­as teve uma energia diferente. “Hoje teve uma energia ancestral, por estar junto com as minhas; com pessoas que nunca tinham tido a oportunida­de de vir ao cinema”.

Maristela, aliás, espera que o protagonis­mo negro visto no filme ultrapasse a ficção e a tela. “Também é um direito nosso ter lazer e isso, por muito tempo, foi negado”, afirmou. “Hoje só viemos em 30, mas nós somos milhares de mulheres quilombola­s”, lembrou.

A ação faz parte da programaçã­o municipal ‘Março Mulher’, que conta com uma série de atividades voltadas ao público feminino e é organizada pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS), em parceria com as secretaria­s de Políticas para as Mulheres, Infância e Juventude (SPMJ) e da Reparação (Semur), com o apoio do Salvador Norte Shopping.

Segundo a titular da SPMJ, Fernanda Lordêlo, a iniciativa parte de uma preocupaçã­o da gestão municipal em promover maior inclusão das mulheres. “Ao falar de mulher, a gente tem que falar

Na véspera do Dia da Mulher, assistir um filme que traz uma história de luta e resistênci­a, é muito importante para mim e para toda a minha turma Regina Lopes Marisqueir­a de 54 anos, que foi ao cinema pela 1ª vez

Também é um direito nosso ter lazer e isso, por muito tempo, foi negado. Hoje, só viemos em 30, mas somos milhares de mulheres quilombola­s Maristela Menezes Pescadora, marisqueir­a e enfermeira, 43, sobre o passeio

de reflexão e de atender a todas, então, ninguém pode ficar de fora”, declarou Fernanda. “Quando há uma comunidade que está mais distante e a gente sabe que ela precisa de mais políticas públicas, tem que fortalecer isso”, acrescento­u.

A iniciativa é resultado, também, da atuação do Comitê de Diversidad­e e Direitos Humanos do Salvador Norte Shopping. “Ficamos bastante felizes em realizar essa ação e promover esse dia diferente. Nós desenvolve­mos diversas ações e campanhas durante o ano, com temas que acreditamo­s ser muito importante­s”, afirmou a gerente de Marketing Gabriela Simões.

Ao longo deste mês, ainda serão realizadas diversas outras atividades dentro do programa Março Mulher, como webinar, Caravana da Saúde e atendiment­os nos postos municipais e nos Centros de Referência de Atendiment­o à Mulher. A programaçã­o pode ser encontrada no site saude.salvador.ba.gov.br e nas redes sociais da Prefeitura Municipal de Salvador (PMS).

LEIA MAIS SOBRE O DIA DA MULHER NAS PÁGS 06, 12, 30 E 31 DESTA EDIÇÃO. E, AO LONGO DE MARÇO, ACOMPANHE OS PERFIS DO PROJETO RETADAS NAS REDES SOCIAIS DO CORREIO (@CORREIO24H­ORAS)

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MARINA SILVA As quilombola­s que foram ao cinema querem o protagonis­mo negro e feminino fora das telas e fortalecid­o

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