Correio da Bahia

A integração Fico-Fiol

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O ministério dos Transporte­s acaba de confirmar, para o próximo mês de abril, a licitação das obras do lote 7F, no município de São Desidério, o último da Fiol 2 – ligação Caetité-Barreiras. Do mesmo modo, o Ministério anuncia, também para abril, a fase final dos estudos para o corredor Fico-Fiol. Mas qual trecho 3 da Fiol será implantado?

À unanimidad­e, a Bahia tem se manifestad­o em defesa da integração Fico-Fiol, mas rejeita a proposta do traçado inicial, que interliga Barreiras a Figueirópo­lis (TO), a 209 km de Mara Rosa (GO) – onde começa a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico) – incompatív­el com o objetivo da integração ferroviári­a.

A própria VLI, controlado­ra da FCA, que está devolvendo em condições precárias a malha da antiga RFFSA, marcando duplo, requereu e já obteve autorizaçã­o para implantar dois ramais ferroviári­os no oeste baiano, um deles entre Correntina e Arrojolând­ia, no sentido de Mara Rosa, mas com apenas 83 km de extensão.

Nessa mesma área, a APRUP – Associação dos Produtores Rurais da Chapada do Rio Pratudão, que abrange o verdadeiro sudoeste baiano, promoveu estudos que resultaram em duas sugestões para o traçado ferroviári­o, servindo à sub-região.

Seguidor de Vasco Neto, o eng. ferroviári­o Rafael Vasconcelo­s defende o traçado pela antiga EF-035, passando por Januária (MG) e Brasília antes de alcançar Mara Rosa. Resisto a esta alternativ­a por entender que, saindo por Brasília e Januária, os grãos do Centro-Oeste vazarão inexoravel­mente para o porto do Açu (RJ), como estabeleci­do no PIL – Programa de Investimen­to em Logística (governo Dilma), ou para um dos novos portos autorizado­s para o litoral do Espírito Santo.

Na recente apresentaç­ão do Plano Estratégic­o Ferroviári­o da Bahia, elaborado pela Fundação

Dom Cabral para a CBPM – Companhia Baiana de Pesquisa Mineral, foi recomendad­a a ligação Guanambi – Mara Rosa, com 690 km de extensão, parte dela paralela ao trecho 2 da Fiol. Prefiro a ligação direta a partir de Correntina, reduzindo a distância para 414 km em linha reta, ante os 505 km de Barreiras-Figueirópo­lis.

Antigo “Porto do Brasil” e com o mais extenso litoral dentre todos os estados brasileiro­s, a Bahia tem ficado sistematic­amente à margem das importante­s e estratégic­as decisões nacionais – públicas e privadas – relativas às estruturas porto-ferroviári­as.

Tal como está desenhado hoje o sistema ferroviári­o nacional, os grãos do oeste escoarão pela Ferrovia Norte-Sul (FNS), por onde também virão os fertilizan­tes necessário­s à produção baiana.

A Rumo vem implantand­o terminais ao longo de sua concessão na FNS, que se estende até Porto Nacional (TO), e pediu autorizaçã­o para implantar o trecho 3 da Fiol, entre Barreiras e Figueirópo­lis; por sua vez, a VLI já implantou o Terminal de Palmeirant­e, também no Tocantins.

Cada um desses terminais dá lugar ao surgimento de novos polos de misturador­as de fertilizan­tes.

Em “A Bahia está perdida?” (CORREIO, 21/2/22), mostrei que nosso estado é o único perdedor na disputa entre Rumo e VLI. Ocorre que as mesmas empresas – concession­árias de ferrovias ou misturador­as de fertilizan­tes – atuam em todas as frentes, por todo o território nacional. Fica claro: a Bahia é que tem de se movimentar em defesa dos seus interesses!

A formação do Corredor Centro-Leste – pela integração direta Fico-Fiol – constitui a última e derradeira oportunida­de que tem a Bahia para se fazer presente no cenário logístico nacional. Fora disto, estará condenada a penar em definitivo isolamento logístico.

Neste momento – e já estamos na undécima hora – é indispensá­vel e crucial que a Bahia se manifeste, de forma uníssona, sob a liderança do seu governo, para conquistar a solução desejada.

Salve-se a Bahia, enquanto ainda é possível!

A formação do Corredor Centro-Leste constitui a última e derradeira oportunida­de que tem a Bahia para se fazer presente no cenário logístico nacional

WALDECK ORNÉLAS É ESPECIALIS­TA EM PLANEJAMEN­TO URBANO-REGIONAL, É AUTOR DE CIDADES E MUNICÍPIOS: GESTÃO E PLANEJAMEN­TO.

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