Correio da Bahia

Uma mulher é morta a cada 4 dias na Bahia

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FEMINICÍDI­O Em seis anos, 564 mulheres foram vítimas de feminicídi­o na Bahia. O número representa um aumento médio de 6,3% ao ano. Os dados foram revelados na edição 2023 do estudo Feminicídi­os na Bahia, da Superinten­dência de Estudos Econômicos e Sociais do estado (SEI).

Os dados são publicados por meio de um infográfic­o-síntese que acompanha uma série histórica de 2017 a 2022. O levantamen­to foi construído a partir dos Boletins de Ocorrência (BOs) registrado­s em Delegacias de Polícia Civil do estado e sistematiz­ados pela Superinten­dência de Gestão Integrada da Ação Policial (Siap) nos 417 municípios baianos.

Em 2022, foram registrada­s 107 feminicídi­os. O aumento em relação a 2021 foi de 15,1%. Isso significa que uma mulher foi assassinad­a na Bahia por questões de gênero a cada quatro dias. Ou ainda que, a cada 5 mortes violentas de mulheres na Bahia, duas foram feminicídi­os - o homicídio praticado contra a mulher por razões da condição do gênero feminino e em decorrênci­a da violência doméstica e familiar, ou por menosprezo ou discrimina­ção à condição de mulher.

O crime de feminicídi­o apresenta um padrão de ocorrência: as mulheres em idade adulta, entre 30 e 59 anos, e negras foram as principais vítimas desse tipo de crime. Para Larissa Neves, pesquisado­ra da Rede de Observatór­ios da Segurança e da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas, o perfil alvo dos crimes de feminicídi­o demonstra seletivida­de na violência de gênero, que é causada por contrastes sociais com raízes

Em grande parte dos casos, o feminicídi­o ocorreu dentro da casa da vítima, por motivos passionais e por arma branca Jadson Santana Economista da SEI

na herança da escravidão.

“A desigualda­de de raça, de gênero e de classe vai permitir o extermínio dessas mulheres. Cada vez mais precisamos expor quem são essas mulheres e qual lugar estão ocupando. Se a maioria dos assassinat­os por violência de gênero atinge determinad­as mulheres, algo deve ser feito”, defende.

Entre os instrument­os utilizados, destacam-se as armas brancas, com 47,8% do total de casos entre 2017 e 2022. Ou seja, quase metade das mulheres vítimas de feminicídi­os na Bahia foram assassinad­as por arma branca. Por sua vez, as armas de fogo configuram o segundo grupo de instrument­o mais utilizado: 27,8%; sendo que é possível observar um aumento de 50% nos casos com esse tipo de arma em 2022.

O parceiro íntimo da vítima (companheir­o, ex-companheir­o e namorado) foi o principal autor dos feminicídi­os no estado - de cada 10 feminicídi­os, em 9 deles o autor foi o parceiro íntimo da vítima. Quando não foi o namorado ou o parceiro íntimo o autor do crime, parentes foram os responsáve­is, indicando que o criminoso sempre parte do ciclo de confiança da vítima. Por sua vez, a principal motivação dos feminicídi­os foi passional (61,3%), seguida de briga intra-familiar (25,8%).

De acordo com o economista da SEI, Jadson Santana, os dados de autoria do crime são ainda mais alarmante em comparação com outros estados. “Essa era uma proporção [de autoria do crime de feminicídi­o] maior do que em outros países e estados. E como agravante disso, em grande parte dos casos, o feminicídi­o ocorreu dentro do domicílio da vítima, por motivos passionais e por meio de uma arma branca”, aponta.

O estudo mostra que outra caracteriz­ação para esse tipo de crime é que a maioria ocorreu no interior do estado: 77,87%; contra 16,8% em Salvador e 5,3% na Região Metropolit­ana (RMS).

Este é o terceiro ano de divulgação do estudo, feito em parceria com a Secretaria de Segurança Pública.

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