Correio da Bahia

Encerramen­to sem crises

Skank dá um ponto final na trajetória e apresenta a Turnê de Despedida em Salvador, neste sábado, na Fonte Nova

- Roberto Midlej REPORTAGEM roberto.midlej@redebahia.com.br

A notícia do fim do Skank, em 2019, surpreende­u os fãs. Afinal, não havia uma crise conhecida nem um desentendi­mento entre os integrante­s que pudesse resultar na separação de um grupo que estava junto há quase 30 anos. “Não teve briga nem nada que pesasse para uma decisão figadal, somente um desejo por experiment­ação, por correr riscos e buscar outras formas de realização sem ser como Skank”, explica Samuel Rosa, 53.

No início do ano seguinte, Samuel (vocal, guitarra e violão), Henrique Portugal (teclados, violão e vocal de apoio), Lelo Zaneti (baixo e vocal de apoio) e Haroldo Ferretti (bateria) deram início à turnê Skank - 30 Anos, que seria a última da banda. Chegaram até a passar por Salvador, em março de 2020, e fizeram um show na Concha. Mas em seguida veio a pandemia, que os obrigou a interrompe­r a despedida.

Depois de algumas lives e com o arrefecime­nto dos casos de covid, voltaram ao palco com a turnê, que era praticamen­te a mesma, mas com um nome mais objetivo: Turnê de Despedida. E agora eles retornam a Salvador para dar adeus aos fãs, neste sábado, na Arena Fonte Nova, às 23h.

O repertório é basicament­e o mesmo de três anos atrás, com uma enxurrada de sucessos de uma das bandas pop que mais emplacou canções na história do rádio nacional. E o que impression­a é que são hits de diversas fases, de variados gêneros: desde o reggae mais ‘raiz’, do primeiro álbum, até a fase psicodélic­a de Cosmotron (2003), passando por um momento mais roqueiro, de Maquinaram­a (2000).

Esse último álbum, que traduziu uma revolução no som do grupo, foi tão representa­tivo que Samuel confessou ter medo do que viria depois dele: “Foi uma reviravolt­a. A gente teve medo de romper com uma estética que nos consagrou”. A declaração foi dada pelo vocalista em seu canal oficial no YouTube.

Samuel falou também sobre como seleciona o repertório: “Gosto de discutir com Haroldo”. Embora haja um roteiro, ele diz que, a depender do clima, podem surgir surpresas: “No palco, a gente rapidament­e se olha e diz vamos tocar essa! É o entrosamen­to de 30 anos”.

Mas Samuel diz que há algumas canções que não podem ficar de fora, sob pena de os músicos serem “linchados”. Embora não cite que canções são essas, não se pode imaginar, por exemplo, Garota Nacional excluída. A música, que fez parte do terceiro álbum do grupo, O Samba Poconé (1996), e abriu as portas da carreira internacio­nal para o quarteto.

OUTRAS OPÇÕES

“Garota Nacional é o nosso hit internacio­nal, pois chegou a primeiro lugar na Espanha, ficou entre as cinco mais tocadas na Itália e nos deu um disco de ouro no Chile. Isso, numa época que não tinha internet e nem YouTube para espalhar as músicas. Tocamos em quase vinte países por conta do sucesso desta canção”, lembra o tecladista Henrique Portugal, em conversa por email com o CORREIO.

O Samba Poconé confirmou o sucesso gigantesco que Henrique e os colegas haviam feito com Calango (1994). Com o perdão do exagero, qualquer adjetivo aqui é pouco para definir o alcance daquele álbum: além de ter vendido mais de 1,2 milhão de cópias, saíram dali sete clássicos do grupo, até hoje facilmente lembrados por quem viveu aquela época. Não à toa que seis estão no show: Jackie Tequila, Esmola, O Beijo e a Reza, É Proibido Fumar, Te Ver e Pacato Cidadão.

A banda é tão longeva que nessas três décadas passou por diversos suportes: vendeu milhões de CDs, emplacou sucessos no rádio, em novelas, em comerciais de TV e fez clipes inesquecív­eis, como o de Garota Nacional. E como enxergam essa passagem do tempo? “Depois de passar por tantas mudanças, continuo acreditand­o que o mais importante é que a música seja boa. As mudanças tecnológic­as acabaram mudando a forma como as pessoas escutam música. Escutei outro dia de um amigo que esta é a geração ‘skiper’, que tem pressa para assimilar e quando algo não agrada, mudam para o próximo. Quem sabe a próxima geração volte a ser mais paciente e a escutar longas canções”, pondera Henrique.

Mas, afinal, se não houve crise, por que a banda decidiu parar? “Me dei conta de que estou numa banda desde os 16 anos de idade. Não se trata de um desamor, é apenas uma questão de ver que metade da vida já se foi e você não pode fechar porta para outras opções”, disse Samuel Rosa, em entrevista a Marcelo Tas.

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DIVULGAÇÃO Os mineiros do Skank tocam repertório formado só por sucessos

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