‘Igualdade é uma questão do interesse de todos’
Trabalho Diferença salarial entre homens e mulheres voltou a crescer depois de 2020, aponta o IBGE
A diferença de remuneração entre homens e mulheres voltou a crescer desde 2020, após alguns anos em queda. No final do ano passado, o país atingiu um índice de 22% de diferença entre os vencimentos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso
significa que, em média, as mulheres recebem 78% do valor que é pago para os homens.
Anteontem, no Dia Internacional da Mulher, o governo federal apresentou um conjunto de medidas, que vão do estímulo à igualdade até a punição para quem insistir em remunerar de maneira diferente profissionais que exerçam a mesma função, por conta de seus gêneros. Apesar da iniciativa, a CEO da Limiarh, Alcina Mendes, defende a necessidade da mobilização de toda a sociedade para acelerar a superação do cenário desigual.
“Na velocidade em que as diferenças estão diminuindo, vão se passar séculos e o cenário não vai mudar. É importante que exista uma ação de governo, das empresas, mas é importante que este seja um assunto para todas as pessoas”, defendeu em sua participação no programa Política & Economia, apresentado pelo jornalista Donaldson Gomes, ontem no Instagram do CORREIO (@correio24horas).
Na Limiarh, onde trabalha com gestão organizacional e de equipes, além da atuação em orientação de carreiras, a executiva diz que enfrenta muitas situações delicadas em relação à mulher no mercado de trabalho. Além de falar como consultora e profissional de recursos humanos, ela destacou a vivência como empreendedora neste universo.
Segundo Alcina, as percepções em relação à importância da inserção das mulheres no mercado ainda variam muito. “Já tem muita gente com um olhar mais sensível para a diversidade, com mais sensibilidade para os desafios da mulher, com a sua conjuntura. Quem atua na gestão de RH tem buscado cada vez mais ampliar o olhar para essas questões”, destaca. Entretanto, ainda existem percepções diferentes, lamenta a Alcina Mendes.
“A mulher recebe delegações fora do ambiente de trabalho que normalmente não são passadas para os homens.
Nós recebemos o lugar de cuidadora e não apenas como a responsável pelos filhos, mas da totalidade do lar e até mesmo de fora dele”, diz. “Você conhece alguma mulher que teve que se responsabilizar, às vezes sozinha, pelo cuidado dos pais idosos, mesmo tendo irmãos”, exemplifica.
Segundo ela, esta pressão extra se inicia ainda na entrevista de emprego e prossegue por toda a trajetória profissional. “À mulher se questiona sobre filhos, mas aos homens tradicionalmente não se faz esse tipo de perguntas”, compara. “Essas condições que nos foram impostas acabam fechando muitas portas. Se não trabalharmos para transformar esta realidade, jamais conseguiremos nos transformar numa sociedade mais justa, digna e humana”, avisa.
“É necessário não apenas apoiar a mulher no mercado de trabalho, mas também que criemos um ambiente em que o homem divida as tarefas como um integrante do lar de maneira igual. Isso parece ser uma coisa simples, mas se analisarmos bem, a própria licença maternidade já nos mostra que uma construção social que diferencia as obrigações de homens e mulheres”, pondera. Para ela, um período maior que os cinco dias atuais, entre outras coisas, passaria o recado de que o homem deve participar mais.
Para Alcina Mendes, o pensamento machista traz limitações tanto para homens quanto para mulheres. “Por que não normalizamos que os homens podem escolher se dedicar a funções domésticas? Tem homem que não só é capaz de cozinhar ou cuidar da casa melhor que a mulher, como gostam de se dedicar a isso. Por que não? O pensamento machista delimita os espaços da mulher, mas também aprisiona o próprio homem”, acredita. “Essas imposições são perigosas porque trazem frustrações e infelicidades”.
Se conquistar e consolidar um espaço no mercado já é uma tarefa que exige muito mais das mulheres que dos homens, para ocupar os espaços de poder nas empresas, a trajetória é ainda mais complicada, reconhece a CEO da Limiarh, Alcina Mendes. “Os projetos de diversidade e essas discussões precisam ocupar cada vez mais espaços nas organizações e nas políticas públicas. Quando a gente abre o olhar social para uma temática ela se transforma. Pode até ser um processo mais lento, mas que sempre vai gerar uma mudança”, aponta.
“Precisamos ter consciência de que o machismo é estrutural e que as dificuldades enfrentadas por nós no mercado de trabalho são apenas um dos reflexos desta mazela social”, destaca a CEO da Limiarh, Alcina Mendes.
Na velocidade em que as diferenças estão diminuindo, vão se passar séculos e o cenário não vai mudar. É importante que exista uma ação de governo, das empresas, mas é importante que este seja um assunto para todas as pessoas
Já tem muita gente com um olhar mais sensível para a diversidade, com mais sensibilidade para os desafios da mulher, com a sua conjuntura. Quem atua na gestão de RH tem buscado cada vez mais ampliar o olhar para essas questões Alcina Mendes
CEO da Limiarh