Correio da Bahia

Violência, uma pauta que parece inesgotáve­l

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De segunda (6) a sexta (10), apenas uma das capas desse jornal não trouxe uma chamada relacionad­a à violência em Salvador (aí incluído o caso de assédio a mulheres em um restaurant­e). A repetição do tema não é culpa da imprensa, sobretudo porque um dos mantras para definir o que é notícia é o inusitado da situação: “notícia não é cachorro morder um homem, mas um homem morder o cachorro”, repetem há anos os professore­s de jornalismo. O que explicaria, então, essa repetição? Com certeza, não é ausência de assunto, pois “não é por falta de notícia que um jornal vai sair em branco”, grita outro bordão das redações.

Acontece que a pauta da violência se sobressai e cala outros temas. E a repetição, aqui, também é uma denúncia. Da incapacida­de de sucessivos governos darem uma resposta satisfatór­ia às mortes, ao tráfico, às agressões diversas.

Retrata também como o desacerto governamen­tal impacta na vida dos cidadãos. “Final de semana sangrento tem 5 mortos e 10 feridos na capital”, diz a manchete de segunda; “Salvador e RMS registram cresciment­o no número de pessoas baleadas em fevereiro”, mostra a segunda manchete da terça; “Toque de recolher deixa cerca de mil estudantes sem aula em Plataforma”, foi a manchete da quinta; e “Novos relatos reforçam acusação contra dono de restaurant­e por assédio”, trouxe a violência (contra mulheres e meninas) de volta ao topo da primeira página na sexta.

As reportagen­s dizem que muitas mortes (o fim da vida de maneira antinatura­l é a maior de todas as violências, mas não a única) são consequênc­ia da guerra de facções pelo controle do território para a venda de drogas. Com o domínio de território, esses grupos também impõem leis, regras e heróis. Decidem se o ônibus pode circular, se comércio pode funcionar, se o posto de saúde pode atender doentes, qual a igreja e religião aceita ou se a escola pode ensinar crianças e jovens alunos. Criam um estado paralelo, enquanto o estado oficial, quando muito, reforça o policiamen­to em operações de poucos dias e vai embora. Tem sido assim há décadas. E tem sido pouco. Porque tudo indica que esse estado paralelo está a cada dia mais rico, mais armado e com mais soldados, muito deles jovens aliciados depois de impedidos de frequentar escolas.

Há exemplos, caminhos, ideias e inovações em políticas de segurança pública que alcançaram sucesso em todo o mundo. O que parece inexistir é disposição de enfrentar a questão a fundo e mudar de vez a pauta, para que a violência seja a exceção, e não a regra.

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MARINA SILVA Escola Municipal Ursula Catarino foi uma das unidades a suspender as aulas em Plataforma após tiroteios no bairro

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